O pop do agronegócio é entupir o cidadão de agrotóxicos
Igor Parisotto Guerra
O veneno 1
As multinacionais vão se engordando de dinheiro e poder. As casas agropecuárias ganham pequenas margens na revenda dos agrotóxicos e os agricultores ficam mais dependentes e endividados com o uso de venenos.
O colonialismo português deixou um presente para o imperialismo das multinacionais: a monocultura.
A terra das lavouras não reconhecem as plantas e estas já não convivem com outras espécies. Estão viciadas em adubos e venenos. Uns animais fogem, outros são desaparecidos.
Nas cidades, os consumidores escolhem entre as mesmas coisas. Entre alimentos que parecem plástico e que já perderam seus sabores originais.
Nas plantações vão surgindo doenças nas espécies enfraquecidas geneticamente e com elas mais aplicações de venenos.
Cebola, milho, soja ou feijão. Tanto faz. Enquanto os produtores seguem com o uso indiscriminado de veneno, as multinacionais engordam de poder e dinheiro.
O veneno 2
As organizações internacionais colocam as coleiras. Assim, os países pobres estão prontos para serem guiados conforme a vontade imperialista. Se teimarem, levam ponta-pés e puxões. Do FMI, ONU, OMC. Das multinacionais até a bancada ruralista. De prefeitos e vereadores. Até as lavouras, onde as plantas crescem à base de puxões e ponta-pés de venenos e adubos.
Pois o veneno deve fazer algum efeito em alguém.
A lama dos sapatos
Augostinho Mees planta feijão, milho, beterraba, batata-doce e principalmente cebola, no vale do Itajaí, em Santa Catarina, onde foi criado no roçado com boi, porco, galinha e lavouras de fumo e cebola:
– Antigamente comia pão de cará com milho para destocar roça no braço
_ Hoje os tratores fazem o serviço pesado
_ Mas quando os tratores chegaram, também ficamos mais dependentes dos cerealistas (atravessadores) e casas agropecuárias.
_ Nunca mais colocamos os preços nas nossas safras. O preço vem de cima e chega baixo aos agricultores, conta o agricultor, que segue comendo banha e carregando lama nos sapatos.
O aluguel
O que mais se via naquelas terras era fumo e eucalipto. Os agricultores perderam o costume de ter horta e pomar, pois ficavam esgotados na lida com o fumo. Sem tempo nem ânimo para produzir seus alimentos.
Mesmo tendo a terra, compravam as verduras em sacolões. O boi e o porco também somavam-se aos gastos com supermercados.
É que a Souza Cruz prometia bons preços ao fumo. Quer dizer, a cada dois, três anos de preço ruim, havia um ano de preço bom para manter a esperança dos fumicultores.
O fumicultor é quem tem a terra, o tempo e muitos gastos, mas é a empresa líder no mercado nacional de cigarros que dá o preço final.
A empresa administra seu lucro transformando pessoas em recursos humanos: alugando consumidores pelo vício no cigarro e alugando o corpo, a terra e o tempo dos produtores pelo plantio do tabaco.
Vidas secas
no cavalo em pêlo
já dizia o vaqueiro:
tudo tem um jeito
carrapato, mato no dedo
pra chuva, faço um rêgo
boi ferido, um apêlo
Menino cresce e aprende a ser vaqueiro
Enfrenta seca
cava poço e tira água
a poeira se mistura
com as rachaduras do rosto
E vai se mudando
De cerca em cerca
a cada seca
outra terra, outro patrão
vai procurando
pois é de arame farpado e seca
que surge a cerca
que tira água, tira terra
e tira gente do lugar
Agro é tóxico.
Belo texto, Igor
Sabias palavras .Infelizmente vivemos num
mundo onde quem tem mais pode tudo e aquele que sua para viver da sua terra e tão desvalorizado.
Muito bom !!