24 de janeiro de 2018 – O dia em que o golpe fatal precisa ser barrado
— Está em julgamento não só Lula e a democracia, mas o Judiciário e um tal quase inacreditável Sergio Moro
Marcelo Procopio*
Esta quarta-feira, 24 de janeiro de 2018, será o dia mais importante da História do Brasil dessas primeiras duas décadas do sec. 21. O dia que decidirá o futuro do país. Espetáculo de um golpe planejado, armado, tramado pelos inimigos da democracia plena.
– Pena que ainda não somos democracia direta. Pena que ainda somos um país tão provinciano e desigual, no qual políticos agem como extremistas, elites econômicas criam patos que se transformam em robôs plastificados sob suas ordens, juízes e promotores agem como aqueles políticos e nem se tocam que são (deveriam ser) guardiões da Justiça, com a isenção que leis e o bom senso exigem.
Tal é a transgressão ilegal, que Porto Alegre está desde ontem cercada pelas polícias em todas as suas matizes: Militar, Civil, Naval (isso mesmo, o rio Guaíba se encheu de embarcações armadas, assim como nas ruas veículos especiais de combate e tanques formam um cenário desnecessário). E até atiradores de elite. Indigne-se.
Mas vamos lá. Nem tudo são balas. Milhares de manifestantes estão pacificamente na capital gaúcha, de todo parte do país. E estarão nesta quarta-feira em todas as cidades.
Mais, muito mais ainda, a mobilização contra o golpe e agora contra a condenação sem provas de Lula começa em 2014 com manifestações por todos os meios (até em Cannes, no lançamento do filme Aquarius).
Isto ajudou, e muito, a mudar a visão do mundo sobre o que ocorre no Brasil. O ataque aos governos de esquerda de Lula a Dilma, que começaram um processo inédito na história desse país, de resgate da dívida social, que existe desde sempre, foram compreendidos pelo mundo.
Lula se tornou um dos políticos mais importantes da história contemporânea da humanidade. O mundo viu a democracia popular se instalar no Brasil, viu a distribuição de renda e políticas sociais sérias. Viu o Brasil se tornar um membro influente na política internacional.
Mas a Casa Grande dos políticos retrógrados, o tal do grande capital e até os apaniguados patos-paneleiros, que deu em MBLs, em gente chique vestida para festa ir às ruas, que deu nos adoradores do ódio, não aceita dividir pão nem avião, nem educação nem saúde nem felicidade.
E acham que povo, gente como Lula, ou garis e caixas de supermercados, devem permanecer na senzala. Na periferia da História. Ou nos presídios, mesmo que não tenham cometido crime algum, como o caso do Luiz Inácio.
O bom combate
A reação contra a injustiça contra Lula ganhou o mundo. No Brasil, juristas, pensadores, acadêmicos, jornalistas progressistas, estudantes e assemelhados reagiram. Livros foram escritos. Centenas de milhares de artigos, reportagens, manifestações de rua ocorrem em cada vez maior número.
O Brasil quer e precisa de democracia e governos populares para se tornar maior, mais igual. E não será, como nunca foi, a direita a fazer isso. Esteve no comando a maior parte do tempo e fracassou, porque simplesmente não tentou. Não quis. Não pode.
É bom lembrar de Antonio Callado, que dizia que todos os ganhos sociais que a humanidade obteve, vieram de projetos e pressões de políticos de esquerda, mesmo sob governos de direita, radical ou conservador.
Por isso o mundo olha o Brasil com outros olhos e entende o golpe de 2014 e o que virá, após a perseguição implacável a Lula pela mídia, do judiciário e seus seguidores, caso os três juízes, dois deles com cartas marcadas visíveis, do TRF4 condenem Lula (ainda que isso não signifique o fim da luta nem de Lula).
O linguista e filósofo Noam Chomsky, um dos muitos nomes internacionais que se manifestaram pela absolvição de Lula, disse:
“Lula é a figura mais popular do Brasil e muito provavelmente seria eleito em eleições justas, é no mínimo apropriado que ele seja permitido a se candidatar para que o povo brasileiro possa expressar seu próprio julgamento na candidatura de Lula”
Disse mais, basta ver o vídeo que postou nas redes mundiais e enviou em solidariedade do Brasil. Assim como fez Bono Vox, da banda U2, o cineasta Oliver Stone e centenas de grandes nomes do planeta. E um inumerável número de juristas.
E finalmente aqui um dos jornalistas mais lúcidos do Brasil, o velho e sempre crítico Janio de Freitas na sua coluna do último domingo:
— “A saída com que Moro, na sentença a ser agora avaliada, pensa ultrapassar esse tipo de atoleiro é cômica: refere-se a tal interferência como “ato de ofício indeterminado”“. Indeterminado: desconhecido, não existente. Moro condenou por um ato que diz desconhecer, inexistir.
—e a parte do texto mais conhecida:“Acima de tudo isso, o caso pode ganhar clareza com uma só pergunta. Se a OAS comprava, e pagava com o apartamento, a intervenção de Lula para obter contratos na Petrobras, por que precisaria gastar tantos milhões em suborno de dirigentes da Petrobras, para obter os contratos?”
O juizeco, as ruas e as urnas
Enfim, quem estará em julgamento nesta quarta não é apenas Lula e a democracia já fragilizada por Temer e asseclas, mas principalmente a própria Justiça e o juiz de direita e não de direito, desse processo, o tal do furioso Sergio Moro.
Lula, pode-se ter certeza, não será por uma condenação, se ela vier, que sairá de cena. Lula permanecerá como candidato dizem muitos juristas e, na pior das hipóteses, como cabo eleitoral capaz de eleger um candidato do campo progressista à esquerda. Ainda haverá muito a recorrer judicialmente, nas várias instâncias. Inclusive na 2ª, que não termina sua fase em Porto Alegre.
Lula cresce nas pesquisas quanto mais se bate nele. Nas ruas, converso com muita gente, pessoas que, sob pressão midiática, chegaram a duvidar do ex-presidente, mudaram sua visão. E quanto mais as coisas pioram para todos no desgoverno do ilegítimo Temer, mais querem a volta de Lula. Daí os atuais quase 40% de intenção de votos, quase também o dobro do ídolo dos adoradores do ódio.
Aposte esta quase certeza: Lula será absolvido por justiça: se não cometeu crime não há como ter provas e voltará para fazer renascer nova Alvorada para o Brasil.
Até lá.
*Marcelo Procópio é jornalista e editor do jornal O Cometa Itabirano
Sentença já formada e julgamento pró forma.
Caro Marcelo, leia dois trechos que recolhi do jornalista Mauro Santayna (publicado ontem), texto longo que requer ler e reler, mas precisa ser lido pra se entender pra onde estamos indo.
Bolsonaro?
“Queiram ou não os personagens que estrearam o espetáculo, o julgamento em segunda instância do presidente Lula será apresentado, nos livros de história, como um dos mais didáticos, sórdidos e mais bem acabados exemplos de como se procede à mais cínica manipulação da opinião pública, com a estruturação, ao longo do tempo, de uma série de mitos e inverdades e a construção, peça a peça, de um castelo de cartas que não se sustenta pelo busca do equilíbrio para a superação da gravidade, mas no mais imoral aproveitamento do ódio, da hipocrisia e da mentira para a distorção do direito e da realidade com objetivos claramente políticos.”
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“É preciso lembrar que o poder de fato, em países que se contam entre os que mais matam no mundo, com uma estrutura jurídica frouxa, primitiva, como a nossa – totalmente incapaz de defender a democracia – é exercido por quem tem as armas nas mãos, e não a balança – desequilibrada e torta – dos últimos tempos.
E as armas não estão com os pretores, senhores.
Elas estão nas mãos dos vigiles e dos centuriões, que em sua maioria já têm candidato – justamente aquele que será mais beneficiado pela surreal condenação de Lula no TRF-4 – para a presidência da República de 2018.”
“Eric Hobsbawn, o grande historiador inglês morto em 2012, aos 95 anos, havia deixado claro. Em 2011, se encontrou com Luiz Inácio Lula da Silva. Ao sair da reunião, em Londres, comentou: “Lula ajudou a mudar o equilíbrio do mundo porque pôs os países em desenvolvimento no centro das coisas”. E prosseguiu: “Lula foi o verdadeiro introdutor da democracia no Brasil, um país com tantos pobres pelos quais ninguém havia feito antes tantas coisas concretas”. in Opera Mundi