Jards Macalé morre aos 82 anos no Rio de Janeiro; artista foi referência da música brasileira de vanguarda
Foto: Reprodução/ Instagram
Compositor de Vapor Barato e parceiro de Gal Costa, Waly Salomão e Caetano Veloso, Macalé deixa um legado marcado pela ousadia estética, crítica social e muita originalidade
O cantor, compositor e ator Jards Macalé morreu nesta segunda-feira (17), aos 82 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência de uma parada cardíaca enquanto tratava um enfisema pulmonar em um hospital na Barra da Tijuca.
Ícone da música brasileira, Macalé ficou conhecido por sua postura irreverente e por transitar entre o samba, o tropicalismo e a música experimental, sempre desafiando os padrões comerciais da indústria fonográfica.
Autor de clássicos como Vapor Barato, Hotel das Estrelas e Anjo Exterminado, Macalé teve suas composições gravadas por nomes como Gal Costa, Maria Bethânia e Elza Soares.
Sua parceria com o poeta Waly Salomão rendeu obras marcantes que misturavam lirismo, crítica política e linguagem urbana.
Considerado um “anjo torto” da MPB, como definiu o crítico Mauro Ferreira, Macalé foi um dos artistas mais autênticos da geração que renovou a música brasileira nos anos 1970.
A amizade com Caetano e o nascimento de Transa
Entre as muitas homenagens que tomaram as redes sociais após o anúncio de sua morte, a de Caetano Veloso se destacou pela emoção e pela memória afetiva. O cantor relembrou o papel decisivo de Macalé em sua trajetória musical:
“Sem Macalé não haveria Transa. Estou chorando porque ele morreu hoje. Foi meu primeiro amigo carioca da música. Antes de Bethânia imaginar que seria chamada para o Opinião, Alvaro Guimarães, diretor teatral baiano, me trouxe ao Rio para montar e mixar o curta para o qual eu tinha feito a trilha. Fui parar na casa de Macalé. E ele tocou violão. Me encantei. Ele tocou com Beta, lançou composições, chamei-o para Londres e: Transa. Na volta, ele e eu seguimos na música. Que a música siga mantendo a essência desse ipanemense amado. Beijo carinhoso para Rejane.”
O álbum Transa, lançado em 1972, é considerado um dos trabalhos mais inovadores de Caetano, e teve a participação fundamental de Macalé como violonista e arranjador. A colaboração entre os dois artistas simboliza a fusão entre tradição e ruptura que marcou a música brasileira naquele período.
Legado de resistência
Jards Macalé nunca se curvou às exigências do mercado. Sua obra é marcada por uma estética de resistência, que dialoga com o cinema marginal, a poesia concreta e os movimentos culturais de contracultura.
Atuou também como ator e trilheiro de filmes, mantendo uma presença constante nas artes brasileiras por mais de seis décadas.
Mesmo enfrentando problemas de saúde nos últimos anos, Macalé manteve o bom humor e a paixão pela música. Segundo relato publicado em seu perfil oficial, ele chegou a acordar de uma cirurgia cantando Meu Nome é Gal, demonstrando a vitalidade que o acompanhou até o fim.
A morte de Jards Macalé representa uma perda irreparável para a cultura brasileira. Seu legado permanece vivo nas canções, nas parcerias e na atitude artística que inspirou gerações a pensar a música como expressão de liberdade e invenção.









