Prefeito de Parauapebas é expulso de conferência ambiental em Belém (PA) após agredir jornalista durante cobertura do evento
Foto: Reprodução/ Rede Social
Aurélio Goiano, aliado de Bolsonaro, foi retirado da conferência após dar um tapa em repórter que noticiou encontro com Boulos. Antes da expulsão, o prefeito havia acusado a Vale de sonegar bilhões em tributos, provocando reação nacional e resposta da mineradora
O prefeito de Parauapebas (PA), Aurélio Goiano (Avante), foi expulso da COP30 após agredir o jornalista Wesley Costa, da Rádio Liberal, em frente ao estúdio da emissora na Blue Zone da conferência.
Segundo testemunhas, Goiano desferiu um tapa no rosto do repórter após a publicação de uma nota que mencionava uma “conversa cordial” entre o prefeito, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o ministro Guilherme Boulos, aliado de Lula.
Após a agressão, a organização da COP30 suspendeu imediatamente a credencial do prefeito, que não pôde mais acessar os espaços oficiais do evento. Costa recebeu atendimento médico e afirmou que registraria denúncia formal.
A agressão foi amplamente condenada por entidades de imprensa e autoridades presentes.
Denúncia contra a Vale repercute nacionalmente
Antes do episódio da agressão ao jornalista, Goiano havia protagonizado um dos momentos mais tensos da COP30 ao acusar a mineradora Vale de sonegar cerca de R$ 10 bilhões em tributos municipais.
Durante um painel sobre cidades sustentáveis, o prefeito afirmou: “A Vale é uma mentira. Lucra bilhões e deixa nosso povo sem saneamento, sem saúde, sem dignidade.”
Ele também denunciou os impactos da mineração sobre os povos indígenas da Terra Xikrin do Cateté e criticou a atuação da empresa em Parauapebas, um dos maiores polos de extração mineral do país.
“Ela cava buracos, exporta o ferro e deixa crateras sociais. Não há justiça fiscal, não há justiça ambiental. E agora quer posar de sustentável na COP30?”, disparou.
Reação da Vale: silêncio inicial e nota oficial
Nos dias seguintes à denúncia, a Vale preferiu não comentar publicamente as declarações do prefeito. A postura evasiva gerou críticas de movimentos sociais e lideranças locais. Diante da repercussão, a empresa divulgou uma nota oficial, publicada no Portal Pebão e no Minera Brasil.
Na nota, a Vale afirma que cumpre todas as obrigações fiscais e que, entre 2020 e agosto de 2025, recolheu R$ 6 bilhões em tributos ao município, incluindo ISS e Cfem, os royalties do minério.
A mineradora também destacou que emprega mais de 30 mil pessoas em Parauapebas e movimentou R$ 4,5 bilhões em compras locais no primeiro semestre de 2025.
Além disso, listou projetos sociais, ambientais e culturais como prova de seu compromisso com o desenvolvimento regional.
Repercussão em cidades mineradas
Apesar da expulsão, a fala de Goiano contra a Vale continuou repercutindo. Em cidades como Itabira (MG), berço da mineração de ferro no Brasil, moradores e ativistas celebraram a postura do prefeito bolsonarista, inclusive setores da esquerda.
Nas redes sociais, circularam comentários sugerindo que Goiano “deveria se candidatar em Itabira” ou que a cidade precisava de alguém com a mesma disposição para enfrentar a mineradora.
A reação revela o grau de insatisfação acumulado em territórios minerados, onde a presença da Vale é percebida como ambígua: geradora de empregos e arrecadação, mas também associada a impactos ambientais, desigualdade social e falta de contrapartidas estruturais numa cidade que já vive o crepúsculo da mineração, após mais de 83 anos de extração mineral em larga escala.
COP30 vira palco de confrontos e contradições
A mineradora Vale, ao tentar se posicionar como parceira da transição ecológica por meio de patrocínios, obras e presença institucional na COP30, foi acusada de greenwashing – prática de marketing ambiental que mascara impactos negativos com ações simbólicas e narrativas tidas como sustentáveis, desconectadas da realidade dos territórios afetados.
Na conferência internacional, a empresa foi chamada a prestar contas não apenas aos chefes de Estado e representantes diplomáticos, mas sobretudo às populações que vivem próximas às suas operações, em regiões marcadas por desmatamento, contaminação de rios, conflitos fundiários e ausência de reparações sociais.
A COP30 escancarou o descompasso entre o discurso ambiental corporativo e os impactos negativos provocados nas comunidades mineradas.
Esse descompasso não é novo. Ele se inscreve numa trajetória iniciada em Itabira, em 1942, e depois por tragédias-crimes como o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (2015), e o colapso da estrutura em Brumadinho (2019), que juntos deixaram mais de 290 mortos, centenas de desaparecidos e um rastro de destruição ambiental e humana ainda não integralmente reparado.
A presença da Vale na COP30, portanto, não foi apenas institucional, mas também simbólica de um modelo de mineração que, segundo críticos, prioriza lucros e imagem pública em detrimento da vida e dos territórios minerados.
Fontes:
Agência Minera Brasil – Prefeito chama Vale de “mentira”
Portal Pebão – Nota oficial da Vale
O Globo – Prefeito é expulso da COP30 após agressão









