Flitabira 2025 celebra Drummond e sua Rosa do Povo com literatura, inclusão e novos autores

Foto: Reprodução/
Fundação Mauricio Grabois

Festival literário homenageia obra politizada do poeta itabirano, promove lançamentos gratuitos de livros e premia estudantes com redações e desenhos sobre o valor da literatura

Entre os dias 29 de outubro e 2 de novembro, a cidade natal de Carlos Drummond de Andrade será palco da 5ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira). Com o tema Literatura – Encruzilhada e A Rosa do Povo, esse já tradicional evento literário acontece na avenida Daniel de Grisolia, em frente e no interior da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), com entrada gratuita em todas as atividades.

A escolha do tema é um convite à reflexão sobre a obra mais politizada de Carlos Drummond de Andrade, que neste ano completa 123 anos de nascimento. Nascido em 31 de outubro de 1902, o poeta morreu aos 84 anos, em 17 de agosto de 1987, no Rio de Janeiro, vítima de um ataque cardíaco fulminante, apenas doze dias após a morte de sua filha, Maria Julieta Drummond de Andrade.

A Rosa do Povo: poesia em tempos de guerra

Publicado em 1945, o livro A Rosa do Povo reúne 55 poemas escritos entre 1943 e 1945, período marcado pelos horrores da Segunda Guerra Mundial e pelo declínio do Estado Novo, regime autoritário de Getúlio Vargas. A obra é considerada a mais extensa e madura de Drummond. E é um marco do lirismo social na poesia brasileira.

A rosa, símbolo da poesia, é aqui também a flor do povo, expressão das dores, esperanças e contradições de uma época sombria. Na publicação, Drummond abandona o humor e o coloquialismo de obras anteriores para adotar um tom grave e solene, com versos livres e brancos, que refletem a angústia coletiva e a tensão entre o engajamento político e o ceticismo pessoal.

O poeta, então próximo ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual se afastaria pouco tempo depois, transforma a palavra em instrumento de luta, como se vê no poema Nosso Tempo: “O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista / e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas / promete ajudar a destruí-lo…”

Essa postura crítica e independente ecoa sua juventude, quando foi expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), aos 17 anos, por “insubordinação mental”, expressão usada pelos padres jesuítas para justificar a saída do aluno que ousava pensar com liberdade. A mesma inquietação intelectual que o afastou das normas escolares reaparece em sua relação com partidos e ideologias.

Em 1945, Drummond foi lançado como candidato a deputado federal pelo PCB, durante um comício em Belo Horizonte, conforme registra Marcelo Bortoloti, no artigo Drummond e o Partido Comunista. Seu nome apareceu ao lado de outros candidatos em documentos da época, como relatórios da polícia, panfletos e artigos do jornal O Estado de Minas. A informação foi confirmada por historiadores, conforme relata também Theófilo Rodrigues, no artigo O Comunismo na poesia de Drummond, publicado no portal da Fundação Mauricio Grabois.

Segundo essas fontes, Drummond chegou a dirigir o jornal Tribuna Popular, órgão oficial do partido, e participou de manifestações públicas ao lado de nomes como Graciliano Ramos. No entanto, seu nome foi retirado da lista final de candidatos publicada em novembro daquele ano. Em diário pessoal, publicado décadas depois, o poeta afirma que recusou o convite, o que sugere que sua candidatura pode ter sido anunciada à revelia — uma tese que ainda gera controvérsia entre antigos militantes.

Além da crítica social, o livro aborda temas como o indivíduo, a terra natal, a família, a própria poesia e os amigos, revelando uma dimensão poética da experiência humana em tempos de crise.

Espaço aberto para novos autores

O Flitabira 2025 também abre espaço para autores que desejam lançar seus livros gratuitamente durante o festival. A única exigência é a doação de dois exemplares da obra, que serão destinados às bibliotecas públicas de Itabira.

A iniciativa é voltada especialmente para escritores independentes, que arcam com os custos de publicação, mas está aberta a todos os autores, inclusive os publicados por editoras convencionais. Os interessados devem preencher o formulário de inscrição até o dia 17 de outubro.

CLIQUE AQUI PARA ACESSAR O FORMULÁRIO DE INSCRIÇÕES

Após o envio, a equipe do festival entrará em contato para agendar data e horário do lançamento. Cada autor terá um espaço reservado para sessão de autógrafos e poderá vender seus livros diretamente ao público, sem cobrança de percentual, utilizando meios como Pix.

Prêmio de Redação e Desenho: literatura como escolha de futuro

Com o tema A literatura na encruzilhada – O valor do livro e do escritor na vida de um país, o Prêmio de Redação e Desenho do Flitabira convida estudantes da rede pública e privada de Itabira a refletirem sobre o papel da literatura na construção de uma sociedade mais consciente e sensível.

A premiação contempla alunos do Ensino Infantil, Fundamental e Médio, com seis categorias (três para desenho e três para redação), premiando os três primeiros colocados de cada uma com R$ 1.000, R$ 500 e R$ 300, respectivamente. Os professores dos estudantes vencedores receberão um exemplar do livro do Autor Homenageado do Flitabira.

Há também uma categoria especial para estudantes PCDs não alfabetizados, entre 9 e 18 anos, que podem participar com desenhos. Crianças PCDs entre 4 e 8 anos concorrem nas categorias convencionais de desenho. A proposta é garantir equidade e inclusão, valorizando as potencialidades de toda a rede educacional itabirana.

Mais informações, critérios para avaliação das redações, regras e prazos estão disponíveis no regulamento.

Clique aqui para acessar o Regulamento do Prêmio de Redação.
Clique aqui para acessar a Folha de Redação.
Clique aqui para acessar a Folha de Desenho.
Clique aqui para acessar o Termo de Autorização.
Clique aqui para acessar o Manual para Estudantes.
Clique aqui para acessar o Manual para Educadores.

Programação e apoio institucional

Com uma programação extensa e voltada para todos os públicos, o Flitabira promove debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para crianças, apresentações musicais e muito mais. O festival tem curadoria de Afonso Borges, Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches.

O Flitabira é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. E conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Itabira, da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade e da União Brasileira de Escritores, com realização do Ministério da Cultura.