Com o programa Itabira Mais Verde, comunidade é chamada a construir novo capítulo da arborização urbana
O bairro Jardim dos Ipês nasceu com projeto paisagístico e ruas arborizadas. Hoje, muito pouco resta da arborização original em suas ruas
Fotos: Carlos Cruz
Reuniões comunitárias debaterão o programa que visa tirar Itabira da lista das cidades menos arborizadas do país e enfrentar os impactos da mineração e das mudanças climáticas
Nesta terça-feira (9), às 19h, na Associação de Moradores do Bairro Amazonas (Rua Mato Grosso, 534), tem início uma série de reuniões comunitárias que prometem envolver os moradores de Itabira em uma missão urgente: transformar a paisagem urbana da cidade e mitigar os efeitos da mineração e das mudanças climáticas. A próxima reunião, que deve ocorrer em todos os bairros, está agendada para esta quarta-feira (10), às 19h, na Associação dos Moradores do Bairro Machado (Rua Coelho Neto, 165).
A pauta das reuniões é o programa Itabira Mais Verde, lançado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Proteção Animal (Semapa), com o objetivo de reverter o quadro alarmante de baixa arborização urbana.
Segundo dados do IBGE, apenas 25,2% das vias públicas de Itabira possuem cobertura vegetal, colocando o município na 4.980ª posição entre os 5.570 do país. A meta agora é mudar esse cenário com planejamento técnico, escuta popular e ações efetivas.
Lições do passado: o fracasso do Verde Novo
A proposta atual busca não repetir os erros do passado. Na década de 1980, a mineradora Vale lançou o projeto Verde Novo como resposta a ações civis públicas movidas pelo Ministério Público de Minas Gerais. Leia mais aqui e aqui.
As ações denunciavam a poluição do ar provocada pela atividade mineradora, ocasionada principalmente após o desmatamento da Serra do Esmeril, cuja vegetação remanescente da Mata Atlântica foi completamente suprimida para a abertura das Minas do Meio. Até hoje, não houve qualquer forma de compensação ambiental por essa perda incomparável.
A promessa do projeto Verde Novo era ambiciosa: plantar 1 milhão de árvores nativas como medida compensatória. Mas, na prática, não se concretizou. Sem diálogo com a população e com uma execução precária, incluindo o uso de mudas refugadas vindas da reserva florestal da própria empresa em Linhares (ES), o projeto resultou em um retumbante fracasso.
Poucos exemplares sobreviveram, gerando frustração e descrédito. A empresa, por sua vez, atribuiu o insucesso à falta de cuidado dos moradores com as mudas, numa clara tentativa de transferir responsabilidades. E ficou por isso mesmo.
Itabira, cercada pela mineração, segue sem as compensações ambientais devidas pela devastação da Serra do Esmeril, mantendo-se com uma das cidades menos arborizadas do país.
Participação popular como condição para o sucesso

Desta vez, a Prefeitura aposta na participação popular. “A política de arborização urbana precisa refletir as realidades e demandas específicas de cada bairro, promovendo uma cidade mais saudável e integrada ao bem-estar de seus habitantes”, afirma a administração municipal em nota distribuída à imprensa.
O plano prevê o plantio de espécies nativas em áreas públicas como praças, canteiros centrais e corredores de circulação, criando-se inclusive hortos florestais, respeitando a vontade dos moradores e evitando calçadas estreitas ou locais com rejeição comunitária.
A proposta inclui ainda o tombamento de árvores históricas e o cultivo de espécies frutíferas em espaços urbanos, como jabuticabeiras e mangueiras.
Arborizar melhora a qualidade de vida e prepara a cidade para o futuro

Além de melhorar o paisagismo urbano, o programa Itabira Mais Verde busca enfrentar os impactos ambientais provocados pela mineração, especialmente a poeira em suspensão que compromete a qualidade do ar e a saúde da populacão. Também busca contribuir para o sequestro de carbono, o que é uma função essencial das árvores no combate às mudanças climáticas.
Segundo o Índice Mineiro de Vulnerabilidade Climática (2024), publicado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Itabira apresenta alta exposição aos efeitos climáticos, o que reforça a urgência de ações estruturantes para reverter o quadro de uma cidade com baixa cobertura vegetal.
Esse índice avalia os municípios mineiros com base em três componentes: sensibilidade, exposição e capacidade de adaptação às mudanças climáticas. Itabira figura entre os municípios com alta vulnerabilidade, o que significa maior suscetibilidade a eventos climáticos extremos como estiagens prolongadas, chuvas intensas, elevação de temperatura e impactos diretos sobre a saúde da população.
Esse cenário reforça ainda mais a necessidade de resultados práticos com o programa Itabira Mais Verde, que deveria, inclusive contar com a participação da Vale, conforme o princípio do poluidor-pagador.
O plantio das primeiras mudas está previsto para o início do período chuvoso, em outubro. Para que o programa alcance seus objetivos, é fundamental que a população abrace a proposta como um compromisso coletivo pela melhoria da qualidade de vida na cidade.
Itabira tem muitas áreas públicas desmatadas que, nessa época do ano, se tornam lugares alvos de incêndios criminosos, que pioram a qualidade do ar. O município pode, por meio do devido planejamento urbano — que não existe nesta cidade centenária com orçamento bilionário —, determinar, em todos os bairros, áreas públicas a serem convertidas em áreas verdes, a fim de não apenas arborizar a cidade, mas também interferir intencionalmente, por meio de uma política pública séria de reflorestamento, no aumento da vegetação nativa, criando uma barreira natural a poeira de minério, amenizando os efeitos das mudanças climáticas, melhorando o microclima. Mas o que vemos é uma cidade com orçamento bilionário, devastada, com montanhas pulverizadas, clima desértico e uma proposta tímida de política pública.