Itabira está entre as cidades mais competitivas do Brasil, segundo o CLP, mas enfrenta desafios em saúde, educação e economia
Fotos: Carlos Cruz
O acesso aos serviços médicos é amplo, mas a qualidade da saúde do itabirano preocupa, possivelmente diante dos impactos ambientais da mineração e outros agentes poluentes. A análise dos indicadores revela uma cidade em transição, que precisa equilibrar desenvolvimento econômico com bem-estar social e qualidade ambiental
Itabira figura entre as cidades mais competitivas do Brasil, ocupando a 35ª posição no Ranking de Competitividade dos Municípios 2025, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), lançado oficialmente nessa quarta-feira (27), durante evento realizado no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), em Brasília.
O levantamento avalia 418 municípios com mais de 80 mil habitantes, com base em 65 indicadores distribuídos em 13 pilares temáticos. A cidade de Drummond se destaca como a segunda mais competitiva de Minas Gerais, atrás apenas de Belo Horizonte, e supera centros urbanos maiores em diversos aspectos.
O bom desempenho de Itabira é impulsionado por pilares como capital humano e sustentabilidade fiscal. No primeiro, a cidade ocupa posição de destaque, refletindo investimentos em formação profissional, presença de instituições de ensino técnico e superior – e uma força de trabalho qualificada.
Já no pilar de sustentabilidade fiscal, Itabira aparece em 47º lugar, o que demonstra, segundo o ranking do CLP, equilíbrio nas contas públicas e capacidade de manter investimentos sem comprometer a saúde financeira do município.
Contrastes na gestão pública e nos serviços essenciais

Apesar dos avanços, o ranking revela disparidades importantes no município – e que precisam ser consideradas e enfrentadas, buscando a melhoria contínua dos parâmetros sociais, econômicos e culturais.
O funcionamento da máquina pública, que avalia a eficiência administrativa e a capacidade de execução de políticas públicas, coloca Itabira apenas na 148ª posição no ranking nacional de municípios com mais de 80 mil habitantes. Esse indicador sugere gargalos na gestão, como burocracia excessiva, baixa digitalização de processos ou dificuldades na articulação entre secretarias.
Na área da saúde, o município apresenta um paradoxo. O acesso aos serviços é considerado excelente, com Itabira ocupando a 17ª posição nacional. No entanto, a qualidade da saúde da população está em 205º lugar, um contraste que levanta preocupações. Esse resultado pode estar relacionado à poluição atmosférica provocada pela mineração, pela usina de ferro gusa e pelas queimadas recorrentes n0 município.
A presença de partículas de minério em suspensão no ar compromete a saúde respiratória da população, especialmente entre crianças e idosos. E pode neutralizar os avanços em infraestrutura hospitalar, com aumento de atendimentos principalmente no longo período de estiagem.

Educação tem qualidade moderada, indica a pesquisa
Outro ponto crítico é o acesso à educação, em que Itabira ocupa a 224ª posição. Isso indica que parte da população ainda enfrenta dificuldades para ingressar ou permanecer na rede de ensino, seja por falta de vagas, distância das unidades escolares ou questões socioeconômicas.
A qualidade da educação, embora esteja melhor posicionada (169º lugar), ainda está distante dos padrões ideais. O desempenho dos alunos em avaliações nacionais, a formação dos professores e a infraestrutura das escolas são fatores que influenciam esse resultado.
Economia forte, mas dependente: o desafio da diversificação

O avanço de Itabira no ranking nacional é inegável e reflete esforços da administração municipal em áreas estratégicas. No entanto, os dados também revelam que o desenvolvimento econômico precisa ser acompanhado por políticas públicas que enfrentem os impactos ambientais e sociais da atividade mineradora.
Isso porque, a competitividade de uma cidade não se mede apenas pela sua capacidade de gerar riqueza, mas também pela qualidade de vida que oferece aos seus habitantes.
No pilar de inserção econômica, Itabira apresenta desempenho sólido, impulsionado pela mineração, que ainda sustenta a maior parte da arrecadação municipal e da geração de empregos. Contudo, esse modelo enfrenta um horizonte próximo de esgotamento.
Segundo a mineradora Vale, as reservas exploráveis de minério de ferro no município devem se esgotar até 2041. Esse prazo impõe ao município um desafio urgente, e que se arrasta sem sucesso expressivo há mais de 40 anos, que é o de diversificar sua base produtiva para evitar o colapso econômico e social.
A dependência histórica da mineração, coloca Itabira diante de uma encruzilhada. Sem alternativas econômicas sustentáveis, o município corre o risco de estagnação ou mesmo de esvaziamento economico – e, também, populacional o que não pode ser ignorado.
A diversificação econômica, com estímulo à indústria leve, tecnologia, saúde, turismo e serviços, precisa urgentemente deixar o papel e se transformar em prioridade estratégica para o município.
Em 30 de novembro de 2023, a Prefeitura de Itabira, em parceria com a Vale, lançou o projeto Itabira Sustentável, com toda pompa e circunstância, apresentando projetos e diretrizes para romper com o ciclo de dependência à mineração. No entanto, passado todo esse tempo, os avanços ainda são tímidos – e grande parte das ações permanece apenas no plano das intenções.
Potencial
Como se observa pela análise crítica dos indicadores, Itabira tem potencial para se consolidar como referência em gestão pública, desde que enfrente com seriedade os desafios que ainda limitam seu desenvolvimento sustentável.
O ranking do CLP pode ser acessado aqui. É uma ferramenta valiosa para orientar políticas públicas, assim como a definição e encaminhamento das prioridades no município.
Saiba mais sobre o CLP
O CLP é uma organização suprapartidária fundada em 2008, com foco em fortalecer a gestão pública brasileira por meio de dados, educação e formação de lideranças. A entidade atua com transparência e publica relatórios de auditoria e impacto regularmente.
O ranking é financiado com apoio institucional de empresas como Ativa Investimentos e Gringo, além de parcerias técnicas com Gove e Seall. O CLP já desenvolveu projetos em mais de mil municípios e é amplamente reconhecido por gestores públicos como uma fonte confiável de diagnóstico e planejamento estratégico.