Incêndios florestais causam mal à saúde, interditam rodovia em Itabira com o tombamento de árvores de grande porte
Foto: Reprodução/ OHGB
Ocorrência expõe fragilidade ambiental e reforça urgência de erradicar o plantio de eucalipto em áreas às margens de rodovias e estradas vicinais
Um grande incêndio florestal nessa terça-feira (19), em área plantada com eucalipto na região do Rio de Peixe, próximo ao presídio desativado, interditado por estar em zona de risco da barragem de Itabiruçu, traz à tona a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre um problema que é recorrente em Itabira: os incêndios em áreas de monocultura de eucalipto, com os seus impactos ambientais e à saúde da população.
As chamas consumiram rapidamente a vegetação, provocando a queda de árvores sobre a rodovia MG-129, que precisou ser interditada. A Polícia Militar Rodoviária, o Corpo de Bombeiros e equipes da Prefeitura atuaram na contenção do fogo e na liberação da via, que passou por um longo período a operar em sistema de “pare e siga”.
A mineradora Vale, proprietária da área atingida, foi acionada para remover os eucaliptos comprometidos, sob supervisão do DER-MG.

Eucalipto nas margens de rodovias é ameaça evitável e negligenciada
O episódio não é isolado. Como tem destacado este site Vila de Utopia, incêndios florestais têm se repetido com frequência em Itabira, especialmente em áreas de plantio homogêneo de eucalipto, a exemplo desse ocorrido na região do Rio de Peixe – e também no Pontal, ambos de propriedade da mineradora Vale.
Ocorre que a espécie florestal é altamente inflamável e vulnerável a tombamentos em períodos de estiagem e ventos fortes – o que representa risco direto à segurança viária e à integridade ambiental. O tombamento ao chão ocorre também em períodos de grandes tempestades.
Trechos que ligam Itabira ao distrito de Senhora do Carmo e ao município de Itambé do Mato Dentro também apresentam esse tipo de vegetação, mantida pela Cenibra e Vale. A permanência dessas plantações em áreas de tráfego intenso é incompatível com a segurança pública, o que indica ser urgente erradicar o eucalipto das margens de rodovias e estradas vicinais, onde sua presença representa ameaça direta à vida humana e à mobilidade na zona rural.
A resolução conjunta Semad/IEF nº 1905/2013, que regula intervenções ambientais em Minas Gerais, exige autorização específica para supressão de maciços florestais de origem plantada/homogêneos quando há presença de sub-bosque nativo.
No entanto, a urgência da situação em Itabira, especialmente nas margens de estradas, exige que essas autorizações sejam tratadas com prioridade, diante do risco iminente para quem trafega por esses trechos. Além disso, é necessário que ocorra a conversão dos maciços florestais homogêneos em mata nativa, uma condicionante da LOC 2000 que ainda não foi cumprida pela mineradora Vale.
Poluição do ar e danos à saúde da população

Durante a reunião do Codema realizada em 8 de agosto, a professora Ana Carolina Vasques de Freitas, pesquisadora da Unifei, reforçou a gravidade da situação ambiental em Itabira.
Em sua palestra, além de criticar o automonitoramento da qualidade do ar realizado pela Vale, apontando que as estações estão cercadas por vegetação que interfere nos dados reais, ela chamou atenção também para a gravidade das queimadas urbanas e incêndios florestais, que têm se intensificado no município.
Segundo a pesquisadora, esses eventos liberam partículas finas conhecidas como PM 2,5, que são extremamente prejudiciais à saúde humana. Por serem microscópicas, essas partículas penetram profundamente no sistema respiratório, alcançando os alvéolos pulmonares e, em muitos casos, entrando na corrente sanguínea.
“Já temos o problema da poeira neste período mais seco do ano. Fica em suspensão juntamente com as partículas das queimadas, o que agrava a situação ainda mais”, alertou Ana Carolina.

Ela explicou que a ausência de chuvas, a consequência direta é o aumento de doenças respiratórias, como bronquite, asma e infecções pulmonares, especialmente entre crianças, idosos e pessoas com comorbidades.
A professora também relacionou a fuligem das queimadas à pressão crescente sobre o sistema de saúde pública. É uma tempestade imperfeita, como se observa em Itabira nesse cenário com muitas partículas de minério em suspensão, baixa umidade, ventos fortes – e fumaça tóxica que encobre a cidade nesta época do ano.
Campanha de conscientização é tímida diante da gravidade

A campanha de prevenção às queimadas lançada pela Prefeitura de Itabira, embora bem-intencionada, segue com baixa visibilidade. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal (Semapa), estão sendo realizadas ações educativas em escolas, capacitação de brigadistas e blitz nas ruas. No entanto, a ausência de comunicação em massa, como outdoors, busdoors e campanhas em rádio, jornais e portais de notícias, compromete o alcance da iniciativa.
Dados da Semapa mostram que as denúncias de queimadas aumentaram significativamente nos meses de junho e julho, e com certeza também agora em agosto. Mas é preciso muito mais com a população colaborando sem colocar fogo no mato seco e também por meio de denúncias anônimas pelos telefones (31) 3839-2137 ou 193.
A recorrência dos incêndios, somada à manutenção de práticas perigosas como o plantio de eucalipto em áreas de risco, exige uma resposta firme e específica: erradicação imediata dessas plantações nas margens de vias públicas, intensificação da campanha de conscientização e fiscalização rigorosa.
Enquanto isso não acontece, Itabira segue convivendo com o fogo, a fumaça e a negligência, em um cenário que ameaça não apenas o meio ambiente, mas também a saúde e a segurança de toda a população.