Os diferentes ritmos do envelhecimento populacional no mundo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, são exemplos contemporâneos do “futuro prateado” que já começou
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Por José Eustáquio Diniz Alves*
EcoDebate – O envelhecimento populacional é a tendência inexorável do século XXI. O mundo todo terá uma mudança da estrutura etária. Mas o ritmo e a intensidade serão diferentes, pois dependem da evolução da queda das taxas de mortalidade e natalidade.
O gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU, mostra que a idade mediana do mundo era de 22 anos em 1950 e deve chegar a 42 anos em 2100. Isto quer dizer que metade da população mundial terá menos de 42 anos e a outra metade terá mais de 42 anos no final do século.
O Japão atualmente (2025) é o país mais envelhecido do mundo com uma idade mediana de 50 anos. Isto quer dizer que a geração 50+ já é maioria da população japonesa. Em 2100 a idade mediana do Japão será de 53 anos.
Hong Kong vai se tornar o país mais envelhecido do mundo a partir de meados da próxima década e deve chegar em 2100 com uma impressionante idade mediana de 72 anos. Ou seja, metade da população terá mais de 72 anos.
No Brasil a geração 50+ será maioria da população nas duas últimas décadas do atual século. No outro extremo, Níger continuará sendo um dos países mais rejuvenescidos do mundo, mesmo assim a idade mediana passará de 14 anos em 1950 para 35 anos em 2100.
O envelhecimento populacional não é uma hipótese ou uma possibilidade remota. É uma realidade demográfica já em curso e com projeções sólidas para as próximas décadas.
Esse fenômeno é resultado direto da transição demográfica que mencionamos anteriormente: a queda das taxas de mortalidade (especialmente a infantil) e o subsequente declínio das taxas de fecundidade. As pessoas estão vivendo mais e tendo menos filhos. Essa combinação gera uma mudança na pirâmide etária, onde a base (crianças e jovens) se estreita e o topo (idosos) se alarga.
Não há nenhum indício de que essas tendências se reverterão globalmente a ponto de impedir o envelhecimento da população. Mesmo com eventuais flutuações, a direção geral é clara: o mundo terá, proporcionalmente, mais pessoas idosas.
Embora os países desenvolvidos (como Japão) já estejam em estágios avançados de envelhecimento, nações em desenvolvimento (como Brasil, Índia e China) estão passando por essa transição em um ritmo acelerado.
A diferença é que os países ricos tiveram mais tempo para se adaptar e construir sistemas de suporte. Os países em desenvolvimento, muitas vezes, enfrentam o envelhecimento antes mesmo de terem completado o desenvolvimento econômico e social que poderia mitigar seus impactos negativos. Isso representa um desafio único e urgente.
A inexorabilidade e a globalidade do envelhecimento populacional exigem uma revisão profunda de paradigmas sociais, econômicos e políticos. As implicações são vastas e incluem:
Sustentabilidade dos sistemas de previdência e saúde: aumentar a idade de aposentadoria, incentivar a previdência privada, investir em saúde preventiva e em modelos de cuidado de longo prazo.
Mercado de trabalho: adaptar ambientes de trabalho, promover o aprendizado contínuo, incentivar a permanência de trabalhadores mais velhos e valorizar a experiência.
Urbanismo e mobilidade: cidades mais amigáveis ao idoso, com acessibilidade, segurança e transporte público adequado.
Coesão social: promover a intergeracionalidade e combater o idadismo (preconceito contra idosos).
Inovação e Economia Prateada: como discutido, o envelhecimento gera novas demandas e oportunidades para produtos e serviços voltados para a população sênior.
Sem dúvida, o Futuro será prateado. O reconhecimento de que o envelhecimento populacional é uma tendência inescapável do século XXI nos obriga a sair da inércia.
As nações que conseguirem antecipar e se adaptar a essa nova estrutura etária serão as mais bem-sucedidas em promover o bem-estar de seus cidadãos, garantindo que a longevidade seja, de fato, a grande conquista da humanidade, e não uma fonte de problemas.
*José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Brasil 2042: Enfrentando a Nova Revolução Demográfica, Ecodebate, 23/08/2024
https://www.ecodebate.com.br/2024/08/23/brasil-2042-enfrentando-a-nova-revolucao-demografica/
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf
Liane THEDIM. Em um mundo mais velho, jovens também deveriam lutar contra etarismo, Valor, 30/04/2025 https://valor.globo.com/25-anos/noticia/2025/04/30/em-um-mundo-mais-velho-jovens-tambem-deveriam-lutar-contra-etarismo.ghtml
ALVES, JED. Os desafios de um Brasil mais velho. 25 anos do Valor Econômico, 30/04/2025
https://infograficos.valor.globo.com/especial/conversas-necessarias.html
Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora. Chico Buarque em Essa Pequena. Eu também já me encontro nessa fase, cabelos pirateando como os de minha mãe.