Tempo seco avança sobre Minas Gerais e reforça alerta para qualidade do ar e saúde respiratória em Itabira
Fotos: Carlos Cruz
Queimadas e poeira da mineração, os grandes males de Itabira são nesta época do ano: poluem o ar e colocam a população em risco
O tempo seco típico do mês de agosto avança sobre Minas Gerais e já coloca a população em estado de atenção. Segundo dados do Climatempo, os próximos dias devem registrar temperaturas máximas próximas de 27 °C e umidade relativa do ar variando entre 31% e 46%, índices significativamente abaixo do ideal para a saúde respiratória.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse índice ideal deve se manter acima de 60%. Essa combinação de clima seco e ar rarefeito, poluído pela fuligem das queimadas e pela poeira carregada de finos de minério e areia, representa risco direto à saúde, especialmente para crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias.
Isso porque, com a circulação atmosférica comprometida e a alta concentração de poluentes, o ar seco impõe desafios imediatos à qualidade de vida urbana. Os sintomas mais comuns incluem irritações nas vias respiratórias, ressecamento da pele e agravamento de doenças como asma, rinite, sinusite e bronquite.
Diante desse quadro, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia recomenda medidas preventivas como hidratação constante, lavagem nasal com soro fisiológico e uso de umidificadores em ambientes fechados.
Itabira sofre com fuligem e o pó preto que vem da mineração

Em Itabira, o tempo seco é apenas uma parte do problema. Nesse período, a cidade enfrenta uma crise ambiental agravada por queimadas urbanas e rurais que se espalham por bairros, áreas de pastagem e unidades de conservação, como ocorreu nesse fim de semana em área do Pontal, da Vale.
São focos simultâneos de queimadas e incêndios florestais já registrados também em locais como o Morro Pelado, no Moinho Velho, e em áreas da zona rural, sem que a prometida campanha de conscientização da Prefeitura ganhe as ruas.
A fumaça encobre a cidade, fuligem invade residências e as vias respiratórias. E o cheiro de mato queimado se mistura à poeira da mineração, criando uma atmosfera tóxica que compromete a saúde pública.
Poeira da mineração é poluição recorrente

Com os ventos fortes de agosto, não será surpresa que se repita o ocorrido neste mesmo mês em 2024, quando uma nuvem de poeira extrapolou em até três vezes o limite tolerável de partículas totais em suspensão (PTS), conforme dados da estação de monitoramento da Chacrinha.
Os índices chegaram a 673 microgramas por metro cúbico (µg/m³), quando o limite pela norma do Codema é de 150 µg/m³. Embora a empresa afirme adotar medidas como aspersão de vias e aplicação de polímeros, os episódios continuam recorrentes.
Enquanto isso, a população convive com o aumento de doenças respiratórias e alergias, enquanto cobra ações mais efetivas da mineradora e providências das autoridades ambientais, inclusive do Ministério Público, via Curadoria de Meio Ambiente.
Distrito Industrial, ferro gusa e fumaça

No Distrito Industrial, a emissão de partículas em suspensão pela Usina Siderúrgica Atlas, produtora de ferro gusa, afeta diretamente trabalhadores e moradores do entorno, principalmente no bairro Barreiro.
A falta de equipamentos públicos para monitoramento da qualidade do ar impede a aplicação de sanções, mesmo diante de denúncias constantes. A promessa de instalação de uma estação móvel de monitoramento, em parceria com a Unifei, ainda não saiu do papel.
Diante desse cenário, é urgente que Itabira adote medidas mais eficazes para enfrentar a crise ambiental que se agrava a cada inverno. Campanhas educativas precisam sair das redes sociais e ganhar as ruas, com outdoors, rádios e blitz informativas.
A fiscalização precisa ser intensificada, e os infratores, sejam piromaníacos ou empresas poluidoras, precisam ser responsabilizados.
Afinal, ar despoluído não é privilégio: é um direito básico. E garantir esse direito é dever de todos, poder público, empresas e cidadãos, conforme está na Constituição Federal.