Com a crise na Unifei, vereador quer criar comissão para investigar como anda o projeto universitário de Itabira
Finalmente, quase um mês após a deflagração da crise na Unifei, que culminou com as renúncias dos professores Dair José de Oliveira e Márcio Tsuyoshi Yasuda, respectivamente ex-diretor e ex-adjunto do campus de Itabira, a Câmara Municipal decide que não deve permanecer alheia ao assunto que pode afetar o futuro do projeto universitário de Itabira.
Não é para menos, afinal só a Prefeitura já investiu R$ 63 milhões na construção de dois prédios – e terá de arcar com mais cerca de R$ 400 milhões até concluir as edificações necessárias para implantar o que está previsto no projeto original.
E a Vale, que participa da parceria público-privada instituída com a Prefeitura e Governo Federal, via Ministério da Educação para viabilizar a implantação do campus local, investiu R$ 38,5 milhões na aquisição de equipamentos para os laboratórios demandados para os cursos já instalados no campus local.
Repercussão
Segundo o vereador André Viana (Podemos), o legislativo itabirano não pode permanecer alheio à crise instalada na Unifei por interferir – e até prejudicar o projeto universitário de Itabira, que tem como objetivo atingir um número de 10 mil alunos (hoje não passam de dois mil), além de contribuir para implantar um parque tecnológico como uma das alternativas econômicas para a sustentabilidade do município após a mineração.
“Em conversa com o ex-diretor da Unifei, tomei conhecimento de uma situação muito ruim. Uma briga institucional está prejudicando a cidade de Itabira. De um lado, tem o reitor (professor Dagoberto Almeida) e de outro, o ex-diretor Dair, que esteve aqui nesta Casa recentemente tratando da questão da Unifei”, assim iniciou o vereador o seu pronunciamento na tribuna da Câmara, na sessão dessa terça-feira (19/12), última do ano.
O vereador quer, assim que o legislativo retornar do recesso parlamentar em fevereiro, instalar uma Comissão Especial de Estudo (CPE) para acompanhar a crise na Unifei. “Não nos interessa a crise interna pela disputa do poder, mas temos a obrigação de saber como está o pacto firmado com a universidade e que diz respeito ao futuro de nossa cidade.”
Boicote
É que, conforme denunciaram os professores Dair e Márcio Yasuda em carta aberta às comunidades acadêmica e itabirana, tem havido boicote da reitoria ao campus de Itabira.
“Tentamos buscar informações a respeito de se ter um curso de medicina em Itabira: pontos positivos, implicações, demandas e cuidados que deveríamos ter antes de dar prosseguimento ao projeto. Não fomos autorizados”, escreveram os ex-dirigentes da Unifei/Itabira (leia mais aqui).
As denúncias de que está havendo um esvaziamento e boicote ao campus de Itabira por parte da reitoria de Itajubá continuaram na mesma carta aberta: “No início deste ano, três picapes S-10 seriam levadas para o campus sede, sem nenhuma tratativa com a direção do campus, somente um comunicado para agendar a transferência. Foram levadas duas caminhonetes. A terceira permaneceu no campus em função do argumento que apresentamos de que a
transferência estava em desacordo com uma cláusula do convênio com a Vale.”
Diante dessa denúncia, é o caso de se perguntar: E essas duas outras caminhonetes transferidas não fazem parte desse mesmo convênio com a Vale? E mais, se ocorreram essas transferências, não haverá o risco de outros equipamentos instalados no campus de Itabira, com recursos da Vale, serem também transferidos para Itajubá?
Além disso, um professor que pediu para não ser identificado, disse em entrevista a este site que está havendo também boicote por parte da reitoria de Itajubá à implantação do parque tecnológico em área anexa ao campus, no Distrito Industrial.
De acordo com esse professor, por trás de toda esse entrevero na Unifei está o modelo de campus universitário que se pretende construir em Itabira. “O professor Renato (Nunes de Aquino, ex-reitor) nos vendeu um projeto de campus inovador e voltado para o empreendedorismo. Nos últimos anos, esse projeto foi abandonado pela reitoria, sendo defendido apenas pelo professor Dair. Basta verificar que nada foi feito no sentido de viabilizar essa ideia tão fundamental para o desenvolvimento de Itabira.”
Megalomania
Já uma outra fonte que não se identifica, preferindo se manter no anonimato, diz que a comunidade itabirana está sendo ludibriada. “O povo de Itabira foi enganado por um português chamado Renato Nunes. Seu projeto de universidade não tem condições de ser implantado, porque não há dinheiro suficiente para que ele seja feito. Essa é a realidade. Ele (o professor Aquino) tentou fazer isso lá (em Itajubá). O local está abandonado, não tem luz, água, nem calçamento. É um grande pasto. Ele desperdiçou o dinheiro da universidade de Itajubá num projeto megalomaníaco.”
Essa mesma fonte prossegue: “Estão querendo transformar uma medida administrativa de divisão de cursos afins em unidades acadêmicas, que acontece em todas as universidades federais, em uma disputa para tentar separar a universidade. Isso no irá acontecer porque o MEC não tem condições (e nem vontade) de criar mais universidades federais pelo país. E nem há dinheiro para isso”, argumenta.
Repactuação
Como se vê, há muito o que investigar sobre a crise na Unifei naquilo que afeta a implantação do projeto universitário de Itabira, no qual a Prefeitura já injetou R$ 63 milhões provenientes da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). E que teria de investir mais cerca R$ 400 milhões para concluir o projeto original do campus de Itabira.
O tema deve ser pauta de mais discussões na Câmara – e é preciso que a Prefeitura também não se omita. O vereador Neidson de Freitas (PP), por exemplo, acha que a Vale não deve restringir a sua participação à aquisição dos laboratórios. “A empresa pode participar mais do empreendimento como parte do resgate de sua dívida histórica com Itabira”, discursou recentemente o presidente do legislativo itabirano (leia aqui).
A mineradora, por seu lado, considera que já fez a sua parte, tendo cumprido integralmente o que foi pactuado na parceria público-privada constituída para instalar o campus de Itabira.
“Vamos convidar o ex-diretor da Unifei e também o reitor para que venham a essa Casa explicar o que ocorreu para desistirem da faculdade de Medicina, assim como para esclarecer outras dificuldades que estão interferindo na implantação integral do projeto de nosso campus”, propõe o vereador André Viana.
“A Unifei não é de Itajubá, ela é federal, pertence ao povo brasileiro. Vamos à Brasília, no Ministério da Educação, solicitar que retornem com o projeto da faculdade de Medicina”, promete o vereador, que considera a crise na Unifei no mínimo muito estranha –e que precisa ser esclarecida, pelo menos naquilo que afeta a construção do projeto universitário de Itabira.
Enfim um vereador resolveu fazer a obrigação básica para o mandato que foi eleito.
Parabéns, André Viana!