Edmar, o homem que não sente frio e diz que nunca gripou
Fotos: Carlos Cruz
Do balcão do bar à horta do quintal, ele desafia termômetros, vírus e o bom senso da ciência, sempre com bom humor, cervejinha e pinga às vezes, e muita verdura no prato
No bar do Edmar, na rua Ipoema, no coração do bairro Pará, o inverno chegou para fazer parte do cardápio: caldos quentes, cerveja gelada e fregueses bem agasalhados, menos um, o seu proprietário.
Entre risadas e pé de porco com mandioca, está Edmar Assis Carneiro, 60 anos, de bermuda, camisa de manga curta e chinelo de dedo, preparando os caldos, e servindo os fregueses. Nem frio, nem gripe, nem um resfriadinho, nada disso o atinge. Faça sol, chuva, calor ou frio, nada disso muda a sua indumentária.
Natural de Antônio Dias, Edmar chegou a Itabira em 1986 para trabalhar em uma empresa de construção. Depois de anos no batente, fincou raízes como comerciante, hoje instalado no movimentado “corredor do álcool”, onde atende aos fregueses juntamente com a esposa Neuza Moraes Carneiro. O casal tem dois filhos, três netas e um neto.
“Este ano eu ainda não vesti uma blusa. Mas se vier o frio que estão falando pra julho, talvez até coloque uma camisa de manga comprida”, diz, rindo. “Blusa de frio eu tenho, mas raramente uso.”

Um retrato diferente no inverno itabirano
É assim que quem passa pelo bar do Edmar entre junho e julho se depara com uma cena inusitada: clientes encolhidos em casacos, enquanto o dono circula leve, preparando o caldo de mocotó, o joelho e pé de porco, dobradinha, e servindo cachaça e cervejinha com um sorriso tranquilo.
“Quando ele veste calça e sapato social pra ir à missa ou a uma consulta, os vizinhos até estranham. Parece que tá indo pra um casamento”, conta Neuza, rindo.
Edmar, entre uma colherada de feijão-amigo e uma filosofia de boteco, resume tudo com simplicidade: “A gripe me enfrenta, mas eu não deixo ela me pegar.”

“Ele é assim desde que eu conheci”
Para Neuza, parceira de balcão e vida, conviver com um marido imune ao frio não tem mistério. “Desde que nos conhecemos ele é assim. Sempre de bermuda e camisa de manga curta. Dorme com a janela aberta mesmo no inverno, sem camisa, só com o mesmo edredom do verão.”
E completa: “Às vezes encosto nele e ele está até suando, em pleno inverno. A temperatura do corpo dele é uma só.”
Ela diz que sente frio como todas as pessoas, quer dizer, a maioria, e até reforça o próprio edredom em noites geladas, mas Edmar recusa, não quer se cobrir mais. “Pra mim é normal. A vida inteira foi assim. Me acostumei.”
Caldo, chá e boa alimentação
Edmar não toma remédios, exceto os necessários para a pressão alta, que controla há anos. Gripe? Resfriado? “Nunca. Nem vacinei, para quê vacinar, se não gripo nem pego resfriado. Só tomei as três doses da Covid. Pra gripe, nunca precisei”, afirma. Como contestá-lo, ou chamá-lo de negacionista?
O segredo, segundo ele, está nos chás naturais (amora com hortelã, limão com folha de laranja, alho e mel) e na alimentação farta em hortaliças, que ele cultiva em sua casa na Vila Paciência, e também no terreno no fundo do bar.
Neuza confirma: “A gente come muita verdura e legumes. Ele não passa uma refeição sem e alimenta bem mesmo sendo magro.”
A ciência explica
Mas como explicar tamanha resistência e essa neutralidade térmica?
Segundo o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Fisiologia Comparada (INCT-Fis), pessoas que se expõem com frequência ao frio podem desenvolver uma adaptação térmica, com o corpo aprendendo a conservar calor de forma mais eficiente. É a natureza treinando a própria resistência.
Além disso, o metabolismo pode ter papel importante. Pessoas com metabolismo basal mais acelerado produzem mais calor corporal, mesmo em repouso – o que pode explicar por que Edmar está sempre “quentinho”, mesmo sendo magro e sem tecido adiposo evidente.
Já a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) aponta que o estilo de vida também impacta diretamente a imunidade: sono regular, baixa exposição ao estresse, alimentação rica em fibras, folhas e raízes, além de práticas naturais, como o consumo regular de chás com propriedades anti-inflamatórias que ajudam a manter o organismo equilibrado e menos suscetível a doenças virais.
E há também o fator psicológico: um estudo publicado na Nature Neuroscience (2015) revela que a percepção do frio é processada de maneira diferente no cérebro de cada pessoa. Emoções, contexto e até convicções pessoais influenciam essa sensação.
Em outras palavras, para quem acredita que “frio é psicológico”, talvez seja mesmo.
Edmar, com certeza, reforça cotidianamente o seu sistema imunológico, mas ele não consegue melhorar a sua pressão arterial. Precisa diminuir o sal na sua alimentação.
Mãe também, raramente gripa, e vive tomando chazinho. Mas sente frio. Eu não gripava, mas depois que passei a lecionar e entrar em salas de aula, lotadas de crianças gripadas, gripo muito.
Outra observação, o Edmar deve comer muita gordura. Certos alimentos ajudam manter a temperatura corporal.
Alimentos que ajudam a manter a temperatura do corpo incluem aqueles com propriedades termogênicas, como pimenta, gengibre e canela, que aumentam o metabolismo e a produção de calor.
Carboidratos complexos, como batata-doce, inhame e arroz integral, também são importantes, pois fornecem energia gradual e ajudam a manter o corpo aquecido. Além disso, alimentos ricos em gorduras saudáveis, como castanhas e amendoim, e bebidas quentes, como chás e sopas, são boas opções para dias frios.