Riqueza que deu nome a Minas continua em expansão
A riqueza do Cauê foi levada para a Alemanha, Canadá e Japão sem que Itabira recebesse um único “tostão” em impostos. Na foto em destaque, vê-se ao fundo o bairro Campestre, com as instalações da Vale em primeiro plano
Foto: Tibor Jablonsky/ Ney Strauch/IBGE
A derrota incomparável começa em 1942 e recrudesce em 1997/2009 – VI –
[trechos escolhidos da série MINAS DE TODOS OS HORIZONTES, publicada no JB]
Jornal do Brasil (RJ), 12/8/1985 – Nos primeiros anos da década de 40, quando a recém-criada Companhia Vale do Rio Doce começou a minerar nas fraldas do pico do Cauê (nr.: levando toda a hematita do Cauê, sem nada pagar em impostos até 1969, quando foi instituído o Imposto Único sobre Minerais pelo Decreto-Lei nº 1.038, extinto com a Constituição de 1988), os moradores da velha Itabira do Mato Dentro, localizada a 105 quilômetros de Belo Horizonte, sequer poderiam prever o desenvolvimento que viria no rastro dos tratores e dos caminhões pesados.
Eles não poderiam imaginar, igualmente, a série de problemas ecológicos que enfrentariam, assim como a permanente ameaça de exploração mineral na região de Carajás, capaz de condicionar a sorte do município à evolução do mercado interno.
Marcada por mais de 40 anos por intensa extração mineral, Itabira percebeu, há dois anos, uma inesperada invasão de garimpeiros em busca de ouro nos seus rios e córregos, gerando situação de caos social.
Passada a febre e cessados os desencontros e conflitos, a cidade continua na expectativa do que Carajás representará para a Vale do Rio Doce, empresa que nasceu naquela cidade à época em que suas vielas e ruas eram calçadas com hematita (nr.: remanejadas e entregue à mineradora Vale em pagamento de dívida, na segunda administração do ex-prefeito Daniel Grisolia).

Longo prazo
Se Itabira se confunde com a Vale, o mesmo não se pode dizer das demais cidades mineradoras de Minas Gerais, dependentes do Imposto Único sobre Minerais-IUM, parcimoniosamente dividido pelo governo Federal entre os Estados e Municípios.
Por ser predatória e voraz, a mineração exaure a terra e provoca sensíveis alterações no ecossistema, afugentando os pássaros, animais e matando peixes com o fino de minérios despejados nos cursos de água.
O prefeito José Maurício Silva tem motivos para se preocupar. Enquanto alguns geólogos afirmam que as reservas minerais de Itabira são suficientes para mais 20 anos de exploração, a Vale afirma que esse processo se estenderá por mais meio século.
José Maurício Silva, que também é presidente da Associação Brasileira das Cidades Mineradoras, reclama maior justiça fiscal, observando que os municípios podem permanecer na orfandade, recebendo precariamente parcelas dos recursos financeiros que geram.
A menos de 60 quilômetros de Itabira, entre as cidades de Santa Barbara e Mariana, cinco minerações de médio e pequeno porte enfrentam outros problemas, diferentes dos que guardam intimidade com os preços das substancias minerais em níveis de mercado interno.

Mercado dita os rumos da mineração
Até o final do século XIX, Minas Gerais dedicou-se à exploração de ouro e de predas preciosas. Na primeira década do século XX, começou a produzir manganês e minério de ferro.
Historicamente, sua produção sempre esteve ligada a poucas substancias minerais, com essa tendência existindo ainda hoje, com a predominância do ferro há mais de uma década.
Depois da II Guerra iniciou-se tímida investida no descobrimento de outros depósitos minerais, por necessidade do parque industrial brasileiro.
Com o aumento da demanda, Minas Gerais se transformou no principal produtor nacional de minérios de ferro, zinco, bauxita, fosfato, argila, calcário, pirocloro, grafite e pedras semipreciosas. Sua participação na produção nacional é de 30%.
Apezar de os investimentos serem considerados reduzidos, é grande o potencial mineral em todo o Estado.
Itabira é o maior produtor de minério de ferro, com 64 milhões 747mil 731 toneladas produzidas em 1984, significando Cr$ 640 bilhões 485 milhões 630 mil em faturamento.
O município ainda produz esmeraldas, com 31 milhões 860 toneladas ou Cr$ 1 bilhão 497 milhões 165 mil, no ano passado, Minas Gerais arrecadou de IUM Cr$ 186 bilhões o que representou a metade da arrecadação de todo o país.
Ainda no ano passado, Minas produziu 111 milhões 49 mil 762 toneladas de minério de ferro, 2 milhões 102 mil 417 toneladas de fosfato. Não são números modestos, sequer são volumes irrelevantes.
Com sua produção mineral, Minas Gerais mantém centenas de milhares de homens trabalhando diretamente nas lavras e nos garimpos.
Nos fins de semana, viajando geralmente nas caçambas dos caminhões, eles chegam às pequenas cidades do interior, dispostos a gastar o que ganham ao longo de cinco dias de trabalho com 12 horas de jornada diária.

Fernão Dias se enganou diante da imensa Serra Verde – que julgou ser de esmeraldas, os garimpeiros sabem o que fazem.
Em Teófilo Otoni há mais milionários em andrajos do que seria possível supor. Não ostentam a riqueza, não compram quase nada que não seja indispensável.
O dinheiro está depositado nos bancos, enterrado em caixas de ferro. São mineiros, irmãos dos boiadeiros de Guimarães Rosa. Eles dizem que nascer em Minas é como levar um tiro no peito e não morrer. O chumbo fica encravado para sempre.
[Jornal do Brasil (RJ), 12/8/1985. Hemeroteca da BN-Rio – Pesquisa: Cristina Silveira]
… “Na foto em destaque, vê-se ao fundo o antigo bairro Explosivo, com as instalações da Vale em primeiro plano” … Corrigindo, não é o baixo Explosivo, mas sim o Bairro Campestre …
Obrigado pela correção e pela leitura. Já corrigimos.