Ministério do Meio Ambiente teme impactos ambientais com nova lei de licenciamento aprovada no Senado

Foto: Joédson Alves/
Agência Brasil

Valdecir Diniz Oliveira*

A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, manifestou preocupação com a aprovação, pelo Senado, do projeto de lei que estabelece novas regras para o licenciamento ambiental no Brasil.

A proposta, que ainda precisa ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, flexibiliza exigências para diversos empreendimentos e dispensa o licenciamento para algumas atividades.

Ambientalistas e integrantes do governo alertam que a medida pode aumentar significativamente o risco de desastres ambientais, como os rompimentos das barragens em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais – tragédias que configuram crimes ambientais, trabalhistas e humanitários, ainda sem castigo.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), classificou a aprovação do projeto como um “golpe de morte” para a legislação ambiental brasileira.

Em nota oficial, o Ministério do Meio Ambiente afirmou que a nova lei representa um “risco à segurança ambiental no país” e viola o princípio da proibição do retrocesso ambiental, consolidado na jurisprudência nacional.

A proposta, que tramita há mais de 20 anos no Congresso, foi aprovada no Senado por 54 votos a favor e 13 contra.

Entre os pontos mais criticados está a possibilidade de autolicenciamento, em que o próprio empreendedor pode declarar que seu projeto atende às normas ambientais, sem necessidade de análise técnica prévia.

Essa modalidade, segundo especialistas, pode fragilizar a fiscalização e aumentar a insegurança jurídica.

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Marina Silva alerta para um grave risco à segurança ambiental do país, classificando a possível aprovação da nova legislação que flexibiliza o licenciamento como um golpe fatal (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Lobby das mineradoras e do agronegócio

A flexibilização das regras de licenciamento ambiental tem sido defendida por setores do agronegócio e da mineração, que alegam que a burocracia excessiva impede investimentos e o desenvolvimento econômico.

No entanto, organizações ambientais e membros do governo apontam que a proposta pode beneficiar grandes empresas do setor mineral, incluindo a Vale, que já causou graves desastres ambientais no passado com as suas barragens em Mariana com a Samarco, da qual é acionista, e na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.

A Vale e outras mineradoras têm pressionado por mudanças na legislação, argumentando que o processo de licenciamento no Brasil é demorado e prejudica a competitividade do setor.

Em eventos públicos, representantes da empresa destacaram que a insegurança jurídica no país dificulta investimentos sustentáveis na mineração.

No entanto, críticos afirmam que a flexibilização das regras pode abrir brechas para omissões em avaliações de risco e comprometer a segurança de comunidades próximas a empreendimentos minerários.

Possibilidade de veto presidencial

O presidente Lula pode vetar o projeto de lei integralmente ou parcialmente. Caso opte pelo veto, o Congresso Nacional terá a prerrogativa de decidir se mantém ou derruba a decisão presidencial.

O governo está dividido sobre o tema, com o Ministério do Meio Ambiente se posicionando contra a flexibilização das regras, enquanto setores ligados ao agronegócio e infraestrutura defendem a proposta.

A nova lei ainda precisa ser analisada pela Câmara dos Deputados antes de seguir para sanção presidencial.

Enquanto isso, ambientalistas e membros do governo avaliam estratégias para tentar barrar ou modificar o texto, incluindo possíveis ações judiciais no Supremo Tribunal Federal (STF).

A aprovação do projeto ocorre em um momento delicado para o Brasil, que se prepara para sediar a COP 30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Especialistas alertam que a flexibilização das regras ambientais pode gerar constrangimentos internacionais e comprometer a imagem do país na agenda climática global.

*Valdecir Diniz Oliveira é cientista político, jornalista e historiador

**Com informações da Agência Brasil, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e G1 

 

 

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