Consulta Pública do Codema expõe preocupações atuais e futuras com ampliação de cavas de minas da Vale em Itabira
Fotos: Carlos Cruz
Na Consulta Pública do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), realizada na segunda-feira (12) no auditório do Paço Municipal Juscelino Kubitschek, moradores e conselheiros manifestaram preocupações quanto à ampliação das cavas das minas do Meio e Conceição, bem como à instalação de duas pilhas de rejeito/estéril.
As principais inquietações giraram em torno dos impactos ambientais e de vizinhança, especialmente devido à proximidade dessas estruturas com o núcleo urbano de Itabira. Entre os participantes, destacaram-se lideranças da sociedade civil, representantes do segmento jurídico e ativistas ambientais.
As intervenções por escrito e nos pronunciamentos de poucos conselheiros do Codema, aqueles que não estão atrelados aos interesses da mineradora, refletiram preocupações sobre a falta de transparência e os impactos da mineração na qualidade do ar e da água.

Falha na comunicação
A presidente da OAB-Itabira, Patrícia de Freitas, parabenizou a iniciativa de promover o debate, mas criticou a falta de clareza da mineradora em relação aos impactos da ampliação das cavas. “Se está todo mundo aqui hoje fazendo diversas perguntas, é porque essa comunicação está muito falha. A Vale precisa melhorar a sua comunicação com a sociedade itabirana”, afirmou.
Segundo ela, a dependência econômica de Itabira em relação à Vale não pode impedir o debate sobre os impactos da mineração. “Precisamos ter uma perspectiva do que será da nossa cidade. A Vale tem sido falha em relação a isso. Se não tivéssemos sido provocados (pelo conselheiro Leonardo Reis), não estaríamos aqui hoje”, ressaltou.
Ela acentuou que a própria empresa poderia ter solicitado ao órgão ambiental estadual a realização de uma Audiência Pública no prazo legal para esclarecer a população sobre os novos empreendimentos no complexo minerador local.
Patrícia reforçou ainda a necessidade de se abrir a discussão sobre o fechamento das minas, que também precisa ser debatido com a população. “Por mais que seja cumprir uma legislação, a população também faz parte do fechamento de minas, pelas suas implicações socioeconômicas e ambientais”, salientou.

Repúdio à chantagem econômica
O conselheiro do Codema, Leonardo Ferreira Reis, representante da Cáritas Diocesana, reforçou a importância da realização da Consulta Pública e também criticou a falta de informação sobre o futuro da mineração na cidade. “Vivemos no escuro sobre os impactos da mineração, sobre o uso da água, sobre a poluição. E sobre como vamos viver quando a mineração se exaurir”, afirmou.
Reis também cobrou respostas da Vale sobre o plano de fechamento de mina, investimentos para diversificação econômica e a manutenção dos empregos até 2041. “A Vale tem um dos menores salários da mineração hoje. É preciso fortalecer esse debate e exigir compromissos mais claros da empresa”, pontuou.
O conselheiro alertou sobre a forma como a mineradora condiciona investimentos e empregos à aprovação de seus projetos, rechaçando todo tipo de chantagem econômica, ao dizer que sem a anuência do órgão ambiental municipal à expansão das minas, a empresa encerra as suas atividades em Itabira.
“Quando a Vale pede algo para Itabira, geralmente coloca em forma de chantagem: se não for aprovado, vamos acabar com empregos e investimentos. Esse é o momento de cobrar mais investimentos, mais salários, mais empregos”, disse.
Sofrimentos e embromações

A ativista Maria Inês Alvarenga, conselheira suplente do Codema, pela Cáritas Diocesana, e representante do Comitê dos Atingidos pela Mineração, também destacou os impactos sociais e ambientais da atividade mineradora e alertou para os riscos das pilhas de rejeito/estéril, que podem colapsar como as barragens.
“Tivemos, em dezembro de 2024, um rompimento em Conceição do Pará, onde uma pilha de rejeito destruiu casas e empreendimentos. Aqui em Itabira já temos 12 pilhas de estéril e vamos ter mais duas de rejeitos se forem aprovadas. Com a ampliação das cavas, teremos também o rebaixamento de lençóis freáticos e mais riscos ambientais”, afirmou.
Para ela, já passa da hora de Itabira questionar esse empreendimento minerário que está chegando ao fim, após mais de 82 anos de exploração em larga escala ininterrupta do minério de ferro.
Ela também cobrou transparência da Vale sobre os impactos da mineração na cidade. “O que a Vale vai deixar para nós? Podemos fazer algo diferente ou temos que aceitar tudo que a empresa decide? Hoje, a população sente o que está acontecendo. Chegou o tempo de questionar”, disse.
Maria Inês denunciou também as dificuldades enfrentadas pelos moradores dos bairros Nova Vista e Bela Vista, afetados diretamente pela construção de uma segunda estrutura de contenção a jusante (ECJ) na barragem Pontal.
“Essas pessoas vivem há quatro anos esperando soluções. Casas trincadas, animais peçonhentos, esgoto a céu aberto. A Vale sempre adia, sempre enrola. Estão esperando que uma casa caia em cima de uma criança ou de um idoso?”, questionou.
Maria Inês convidou os representantes da Vale a visitarem a região e testemunharem os problemas enfrentados pelos moradores. “Já fiz esse convite várias vezes. Venham almoçar lá perto do esgoto a céu aberto. Dormir uma noite lá para ouvir os barulhos e os incômodos.”
Empregos e o futuro que virá
Os conselheiros cobraram também compromissos claros com a manutenção de empregos, a abertura do debate sobre o fechamento das minas, que já está ocorrendo, como é o caso da histórica mina Cauê, exaurida no início deste século, além da necessária e urgente diversificação da economia local, ainda totalmente dependente da mineração.
Tudo isso não pode esperar pelo fechamento definitivo das minas até 2041, já com queda gradativa da produção local – o complexo tem capacidade de produzir até 50 milhões de toneladas anuais (Mta), mas já há algum tempo, caiu para menos de 30 MTa, com previsão para este ano e os próximos anos de apenas 25 Mta.
O presente exige respostas claras e transparentes, sem tergiversação, diferentemente do que se tem observado por parte da empresa.
A Prefeitura de Itabira e a Câmara Municipal precisam ter um posicionamento mais claro e incisivo sobre a atividade da empresa na cidade, mesmo aguardando pelos investimentos – se é que algum dia virão – com o projeto Itabira Sustentável.
E a sociedade itabirana precisa vencer a paralisia, a letargia e a subserviência aos ditames da mineradora, com os seus impactos positivos, mas sobretudo com os negativos, que são evidentes, mas que poucos cobram soluções imediatas e definitivas.
O pedido de anuência para que a Vale expanda as suas minas em Itabira vai ser aprovado na reunião desta quarta-feira (14), às 14h, no auditório da Casa da Cidadania, localizado na Avenida Carlos Drummond de Andrade, nº 777 – antigo prédio do Corpo de Bombeiros.
Há anos esse assunto é badalado, mas ‘nos finalmentes ‘, a poderosa passa a perna em todos. Não é Bruma?!
Deu ruim pro Batalhão da Força Anti ecológica. Se não leu o manifestou da ecologista Maria Alice de Oliveira Lage, censurou. Perdeu mané!
Bagulho bravo enfrentar a mineradora Vale. Mas existe somente os vendilhões da Vale e do CODEMA, pessoas que se importam como a Patrícia de Freitas, o Leonardo Reis e a Maria Inês de Alvarenga nos dão dignidade. Fora pseudo CODEMA!