A zona cinza do esquecimento, o medo de barragens e a desresponsabilização da classe média
Foto: Carlos Cruz
Em seu novo livro, o filósofo itabirano Victor Hermann analisa como a classe média oscila entre consciência e inação diante do medo das barragens de rejeito
Em um mundo onde crises ambientais, sociais e políticas se acumulam, a classe média vive em um estado de suspensão entre o conhecimento e a ação. Esse é o tema central do livro Zona Cinza: A Classe Média no Meio da Catástrofe, do filósofo itabirano Victor Hermann, publicado pela Editora Relicário.
Em sua obra, o filósofo investiga como essa parcela da sociedade, mesmo informada sobre os riscos iminentes das barragens de rejeitos de minério de ferro, não se mobiliza efetivamente para mudar essa situação e cobrar seus direitos de preservação da vida.

De acordo com o autor, o conceito de “zona cinza” descreve um espaço de ambiguidade, onde as pessoas oscilam entre a consciência do desastre e a passividade diante dele.
Segundo Hermann, a classe média não se vê responsável pelas desordens socioambientais, mas também não consegue se engajar efetivamente para mudar o sistema.
Essa postura reflete um paradoxo: embora informada, essa parcela da sociedade não se sente motivada a agir, permanecendo em um estado de suspensão entre o medo e a conformidade. O modelo para a sua tese, certamente foi a sua cidade natal, Itabira.
Leia também sobre a letargia itabirana aqui: Vila de Utopia.
A influência do esquecimento e da terceirização da culpa
O livro parte da premissa de que a classe média terceiriza a culpa das crises para fatores externos – políticos, empresas, elites – sem reconhecer sua própria responsabilidade.
Hermann argumenta que essa postura cria um limbo de esquecimento, onde o conhecimento sobre os riscos não se traduz em ação concreta.
Em entrevista à revista Veja, o filósofo destaca que essa desresponsabilização é um dos maiores desafios da contemporaneidade.
Ele afirma que, diante de tragédias como Mariana e Brumadinho, a classe média se angustia, protesta e compartilha informações, mas não se mobiliza de forma efetiva para evitar novos desastres.
A arte e a literatura como ferramentas de percepção
Para ilustrar essa dinâmica, Hermann recorre à arte e à literatura. Ele dialoga com pensadores como Thomas Pynchon e W.G. Sebald, cujas obras exploram a relação entre história, memória e desastre.
Além disso, ele analisa o trabalho do artista Anselm Kiefer, que aborda a percepção do risco de catástrofe em suas pinturas.
O autor também investiga como a sociedade contemporânea lida com crises ambientais, econômicas e políticas, propondo uma reflexão sobre como escapar desse limbo e transformar o conhecimento em ação.
Impacto e discussão pública
O livro de Victor Hermann tem provocado intensos debates sobre a responsabilidade social da classe média e sua relação com crises ambientais e políticas.
Em eventos de lançamento e entrevistas, Hermann enfatiza que a consciência do risco, por si só, é insuficiente – é preciso, segundo ele, ação concreta para impedir que tragédias anunciadas aconteçam ou mesmo voltem a acontecer.
Sua mensagem serve como um alerta contundente e uma convocação à mudança, o que serve especialmente para seus conterrâneos em Itabira, que podem encontrar na obra uma inspiração para agir e sair da letargia histórica em que vivem desde o início da exploração de minério de ferro em larga escala na cidade, pela Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale S.A.

Serviço
Onde comprar: https://www.relicarioedicoes.com/livros/zona-cinza/
Para saber mais, leia a entrevista de Victor Hermann à revista Veja aqui.
Mais detalhes sobre sua biografia acadêmica estão disponíveis neste link.
Para uma análise sobre o impacto do livro, veja esta discussão no Nexo Jornal aqui.
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