Chuva boa e prazenteira reduz poeira do minério e retarda o início das indefectíveis queimadas em Itabira

Fotos: Carlos Cruz

Itabira, como tem ocorrido nos últimos dias deste atípico mês de abril, tem se beneficiado com as chuvas prolongadas. Essas precipitações têm minimizado a poeira carregada de pó preto de minério de ferro e atrasado o início das indefectíveis queimadas, que todos os anos prejudicam a qualidade do ar e a saúde da população itabirana.

Tradicionalmente, o final da estação chuvosa acontece com as “águas de março” e a enchente de São José, marcando o início do período de estiagem. Contudo, neste ano, as chuvas prazenteiras de abril têm sido uma verdadeira dádiva da natureza.

Com esse cenário favorável, as autoridades municipais ganham tempo para elaborar uma ampla campanha de conscientização e prevenção de queimadas, utilizando todos os meios disponíveis, incluindo um canal de comunicação por disque-denúncia para que os piromaníacos, responsáveis pelos incêndios florestais e queimadas urbanas sejam identificados e punidos.

Já no que diz respeito à poeira, a mineradora Vale também dispõe de uma oportunidade para avançar na instalação de novos equipamentos de controle, caso estejam em andamento.

Essas ações mitigadoras, conforme prometidas em reunião do Codema por representantes da mineradora, devem ser baseadas em um inventário atualizado de novas fontes de emissão, cujos resultados ainda estão pendentes de apresentação ao órgão ambiental municipal. Isso ganha mais relevância após a ampliação e instalação de novas pilhas a seco de estéril/rejeito.

Além disso, a apresentação desses estudos, juntamente com os aspectos de controle e segurança dessas pilhas, deve ser uma das exigências para que o órgão ambiental municipal aprove a anuência para a ampliação das cavas das minas do Meio e Conceição, bem como para a instalação de novas pilhas de contenção.

Essas informações vem sendo cobradas em reuniões do Codema desde dezembro de 2024. Esses estudos e apresentações ao órgão ambiental devem abordar tanto o controle da poeira quanto o risco de deslizamentos.

Onde está a usina Cauê na manhã desta segunda-feira (28)?

Impactos da poeira e fuligens na saúde

Mesmo durante o período chuvoso, as detonações nas minas levantam poeira e causam tremores nas casas em Itabira

As partículas finas dispersadas pela mineração, quando inaladas, agravam doenças respiratórias preexistentes, como asma, bronquite e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), segundo especialistas.

Essa situação, recorrente desde o início das atividades mineradoras em Itabira, é agora agravada pelas novas pilhas a seco, cuja contribuição precisa ser investigada por um sempre adiado estudo prospectivo de doenças respiratórias.

Esse estudo começou no início do século com a equipe do professor Paulo Saldiva, da Universidade de São Paulo (USP), mas foi interrompido, mesmo com recomendações para sua continuidade. O objetivo seria investigar a alta incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares, incluindo hipertensão, ataques cardíacos e derrames, entre a população de Itabira.

Além disso, as fuligens das queimadas, comuns na estiagem, liberam compostos tóxicos que pioram ainda mais a qualidade do ar, afetando especialmente crianças, idosos e pessoas com condições respiratórias preexistentes. A combinação de fumaça, fuligem e poeira de minério provoca irritações nos olhos, nariz e garganta, enquanto os alérgicos sofrem com coriza, coceira e espirros constantes.

A exposição contínua a esses poluentes enfraquece o sistema imunológico e deixa as pessoas mais suscetíveis a infecções e aumentando a demanda por atendimento médico, o que sobrecarrega hospitais e o pronto-socorro municipal.

Essa situação se agrava ainda mais com a falta de áreas verdes no perímetro urbano. Segundo o IBGE, Itabira é uma das cidades menos arborizadas do Brasil. A escassez de cobertura vegetal reduz a capacidade de filtragem natural do ar, expondo ainda mais a população aos efeitos da poluição.

Sem ações efetivas para controlar a poeira e prevenir queimadas, a qualidade de vida dos moradores de Itabira permanece seriamente comprometida após o fim do período chuvoso.

Poeira carregada de partículas de minério em suspensão é amenizada com as chuvas e intensificadas na estiagem

Respiro da chuva

Nesta segunda-feira (28), o dia está perfeito para aproveitar o ar limpo – algo raro em Itabira, proporcionado pelas chuvas prazenteiras. A atmosfera úmida e o solo encharcado nas áreas mineradas minimizam temporariamente o impacto da poeira, trazendo um breve alívio à população.

De acordo com o Clima Tempo, o clima na cidade permanece ameno, com temperaturas entre 19°C e 27°C. O céu está parcialmente nublado, e há previsão de 1,3 mm de chuva ao longo do dia. A umidade elevada ajuda a reter partículas provenientes da mineração, resultando em um ar mais limpo e uma sensação de frescor que só a chuva fina pode proporcionar.

Outro reflexo positivo do período chuvoso é o possível alívio para a crise hídrica histórica da cidade, que persiste desde o início da mineração em Itabira.

O projeto de transposição da água do rio Tanque, cujas obras só tiveram início neste ano, pode oferecer uma solução mais consistente no futuro – embora tardia, considerando que deveria ter sido implementado há mais de 25 anos, com a aprovação da Licença de Operação Coletiva (LOC) em 2000.

Por falta de cobrança das autoridades municipais e do empenho da mineradora no cumprimento das condicionantes da LOC, essa “solução definitiva” para a crise hídrica só agora ocorre por força da imposição de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado pela Vale com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

Trata-se de uma solução duradoura e “definitiva”, pelo menos enquanto as águas das nascentes do rio Tanque não secarem – o que, fatalmente, pode ocorrer caso medidas de proteção não sejam adotadas.

Trégua das queimadas

Queimada em área urbana, em Itabira, na estiagem do ano passado

Outro benefício das chuvas é o adiamento do início das queimadas, que todos os anos assolam Itabira com incêndios em terrenos vagos e matas. Esses focos de fogo não apenas prejudicam a qualidade do ar, mas também intensificam problemas respiratórios.

Quando ocorrem em áreas rurais sem os cuidados necessários, as queimadas frequentemente ultrapassam aceiros e transformam-se em incêndios florestais de grande proporção, causando prejuízos à qualidade do ar, fauna e flora.

Diante desse contexto, a prefeitura tem a oportunidade de lançar, já em maio, uma ampla e irrestrita campanha de conscientização, abrangendo todos os riscos das queimadas, com ações educativas em escolas e associações comunitárias, na cidade, distritos e povoados.

É fundamental reforçar que atear fogo na mata é crime, além de oferecer um canal de denúncia para enfrentar essas práticas nocivas dos piromaníacos que todos os anos colocam fogo no mato sedo, deteriorando ainda mais a qualidade ambiental no período de estiagem.

Futuro sustentável ou insustentável?

Como será o futuro de Itabira, com a coexistência de barragens e as novas grandes estruturas de contenção por pilhas a seco de estéril/rejeito?

Apesar dos benefícios imediatos das chuvas, como a sensação de ar limpo e fresco, é essencial que o município adote medidas estruturais que garantam uma qualidade de vida duradoura.

A aceleração da captação de água do rio Tanque, combinada com iniciativas de arborização e controle de poluição, pode transformar Itabira em um exemplo de cuidado ambiental e saúde pública.

Mas, para isso, é preciso unir esforços entre o poder público e a população, combatendo as queimadas e cobrando ações mais eficazes da Vale no controle da poeira. Esse é o caminho para um futuro mais saudável e sustentável a ser construído ainda a tempo, enquanto não chega a exaustão mineral inevitável.

Pois só assim, com esse conjunto de medidas, e mais as que estão no projeto Itabira Sustentável e no Plano Regional de Fechamento Integrado das Minas de Itabira (PRFIMI), será possível evitar a “derrota incomparável” que Tutu Caramujo tanto temia.

 

 

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