Espetacularização da campanha eleitoral: Datena dá cadeirada em Marçal, candidatos a prefeito de São Paulo, em entrevista na TV Cultura

Imagem: Reprodução/
TV Cultura

Com fortes rejeições, candidatos partem para a baixaria e debates viram “reality shows” com audiência em alta, mas discussões de ideias em baixa

Em debate na TV Cultura, na noite desse domingo (15), o apresentador José Luiz Datena (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo bateu com uma cadeira em seu oponente, o influenciador bolsonarista Pablo Marçal (PRTB), após ser provocado pelo empresário.

O cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, Fábio Andrade, diz que o candidato Pablo Marçal vai tentar usar esse episódio como uma ferramenta para se posicionar como candidato antissistema.

“Existe uma percepção generalizada de que a violência política atinge principalmente a direita, e o fato de ele ter optado por não continuar no debate ontem demonstrou uma estratégia: Marçal já está usando as redes sociais para se vincular a isso”, observa o cientista político, professor da ESPM, faculdade de ensino superior nas áreas de Comunicação, Marketing, Consumo, Administração, Economia Criativa e Tecnologia.

Isso à semelhança do que fez o ex-presidente Jair Bolsonaro após levar facada em Juiz de Fora, no dia 6 de setembro de 2018, assim como com os “atentados” sofridos pele ex-presidente Donald Trump, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos.

Um atirador já identificado e preso, estaria “armando” mais um atentado contra o candidato republicano, também nesse domingo, no seu campo particular de golfe em West Palm Beach, na Flórida, em uma nova “aparente tentativa de assassinato”, dois meses depois de sofrer outra tentativa ao levar tiro de raspão durante comício da Pensilvânia, matando um apoiador.

Entretanto, o cientista político pondera se a estratégia de Marçal vai funcionar, após o candidato-influenciador levar a cadeirada de Datena, após ser acusado pelo influenciador no debate da TV Cultura de ter assediado uma repórter do seu programa de TV. “Pode ser que boa parte do público, especialmente aqueles mais acostumados à violência cotidiana, encare uma situação com naturalidade, como fez o Datena”, avalia Andrade

Mudança de foco

Segundo Paulo Ramirez, cientista político e professor também da ESPM, os debates políticos mudaram de focos.

Se antes o foco estava em questões relacionadas ao desempenho dos candidatos, como denúncias de superfaturamento de obras ou articulações pouco republicanas entre partidos, hoje migrou para ataques pessoais e discussões de âmbito privado, o que faz muitos candidatos, que estão à frente nas pesquisas, desistirem de participar desses debates televisivos.

“Esse fenômeno é, em grande parte, impulsionado pela ascensão das redes sociais, que descentralizaram a produção e circulação de informações, antes concentradas nos canais televisivos”, observa Ramirez.

De acordo com ele, ao longo dos anos, essa mudança desgastou a qualidade do debate político na televisão, resultando na popularização de candidatos “outsiders”, que se apresentam como antissistema, críticos das instituições e voltados a mobilizar o eleitorado por meio de emoções, e não de propostas concretas.

Sobre o discurso de ódio, amplificado pelas redes, Ramirez acredita que desqualifica ainda mais o debate político, que passou a lembrar uma briga infantil, como se o processo democrático tivesse regredido aos tempos de escola.

“Isso empobrece o conteúdo dos debates, mas ao mesmo tempo aumenta sua audiência. Hoje, o público espera mais uma briga de ‘reality show’ do que uma discussão aprofundada sobre ideias e políticas públicas.”

É a espetacularização das campanhas eleitorais, que perdem em conteúdo, e ganham em baixarias, para gáudio de um público alienado de seus reais problemas urbanos e sociais, ávido pela diversão ao vivo e em cores na telinha.

É como se fosse uma vingança, ainda que de resultados bastante duvidosos, sobre aqueles que “sugam o dinheiro do contribuinte que paga impostos, desviado em proveito próprio”, sem fazer distinção entre os políticos, como se fossem todos ladrões e corruptos.

 

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