Unifei projeta em números como pode ser a quarta Itabira após a mineração
O itabirano Carlos Drummond de Andrade, preocupado com o que viria ser sua cidade natal com o advento da terceira Itabira, que teria início com a exploração em escala do minério de ferro incrustado no pico Cauê, manifestou o receio, em 1933, na crônica Vila de Utopia, de que tamanha riqueza podia virar o grande mal para o seu futuro.
“É curiosa a vila de Utopia, posta na vertente da montanha venerável e adormecida na fascinação do seu bilhão e 500 milhões de toneladas de minério com um teor superior a 65% de ferro, que darão para ‘abastecer quinhentos mundos durante quinhentos séculos’, conforme garantia o visconde do Serro Frio.”
E o cronista prossegue:
“‘Os números que exprimem a quantidade de minério de Itabira’, confirma o professor Labouriau, ‘são astronômicos: de tão grandes tornam-se inexpressivos’”, escreveu o cronista, para em seguida afirmar: “Tanta riqueza em potência vem sendo, talvez, um grande mal para a vila de Utopia.”
Isso, acrescentou o cronista, pelo fato de o itabirano cruzar os braços e deixar a vida passar devagar. “Parece que um poder superior tocou esses membros, encantando-os. Tudo aqui é inerte, indestrutível e silencioso. A cidade parece encantada. E de fato o é. Acordará algum dia? Os itabiranos afirmam peremptoriamente que sim. Enquanto isso, cruzam os braços e deixam a vida passar. A vida passa devagar em Itabira do Mato Dentro.”
Hoje, já com a terceira Itabira chegando ao fim, vivendo a última “safra” do minério de ferro com a exploração do itabirito compacto, até há pouco considerado material estéril, é hora de indagar como será a quarta Itabira sem a mineração.
Aposta na Unifei
Uma das grandes apostas tem sido a instalação do campus da Unifei, que completa dez anos de existência na cidade no próximo ano.
Trata-se de um projeto grandioso, mas que pode não dar certo, como tantos outros, se não houver uma firme decisão política das partes envolvidas para que se faça uma “repactuação” nos termos do que se chamou, quando de sua implantação, de exemplo de parceria público-privada.
Conforme adverte o vereador Neidson Freitas (PP), presidente da Câmara, se não houver essa “repactuação” para assegurar uma maior participação da Vale na instalação do campus, o projeto não avança. “A Prefeitura não tem como bancar sozinha a construção dos prédios que ainda restam para completar o projeto original.” (leia mais aqui).
Impacto na economia
De fato, a Unifei tem tudo para ser um dos novos pilares do desenvolvimento de Itabira hoje e após a mineração. Os dados apresentados na Câmara Municipal na terça-feira passada (31/10), embora sejam de 2015, são expressivos.
Com mais de 80% de seus alunos vindos de fora, e com menos de 2 mil alunos de um total previsto de 10 mil assim que todos os cursos do projeto universitário estiverem implantados, já é significativo o volume de recursos que circula na praça de Itabira.
Estudo realizado pela própria universidade, com 1.563 alunos vindos de fora, e com cada um gastando uma media de R$ 1,250 mensais, durante o tempo de permanência no ano letivo de oito meses, revela que eles já somavam R$ 18,5 milhões de gastos mensais no comércio local.
“Os alunos de Itabira não foram avaliados pela pesquisa, mas eles também impactam indiretamente a economia do município, pois poderiam estudar em outras cidades, provocando evasão de renda”, acrescentou o economista Henrique Carvalho, professor da Unifei, na reunião com os vereadores.
Além desses números, a universidade no mesmo ano teve um custeio de R$ 3,648 milhões. Entretanto, desse total, apenas R$ 620 mil foram empregados em compras e serviços adquiridos na praça de Itabira, representando apenas 17% do total.
Esses números, por si, demonstram a necessidade de se promover um programa de desenvolvimento de fornecedores, para que o empresariado local possa tirar maior proveito desse potencial consumidor. Já os servidores e professores, com apenas a metade residindo em Itabira, representaram um volume de R$ 9,6 milhões naquele ano.
Somados todos esses impactos, com o efeito multiplicador de 1,79, segundo parâmetro da Fundação João Pinheiro, chega-se a um montante de R$ 51 milhões que circularam na cidade em 2015, a partir da instalação da Unifei. Mas isso não significa que esses ficaram por aqui, pois a evasão ainda é grande. “Já se observa uma melhoria nas estruturas do comércio e serviços na cidade. Mas ainda há muito o que melhorar para que esses recursos fiquem no município ao invés de seguir para outras praças”, recomendou o economista da Unifei.
Riqueza em potência
Aqui cabe mais uma vez recorrer ao que Drummond escreveu há 84 anos – e torcer para que “tanta riqueza em potência” possa se manter e ampliar como uma das grandes alternativas econômicas à mineração.
Mas se não houver uma atitude firme, promovendo a “repactuação” necessária em torno da parceria público-privada, a Unifei corre o risco de também não passar de uma miragem, mais um sonho que não se realiza, ou que fica só pela metade.
“A Unifei é parte da diversificação e não há tempo para ficar vacilante e titubear”, afirmou o professor Dair de Oliveira, diretor do campus da Unifei/Itabira, na mesma reunião com os vereadores.
“Além do impacto direto e indireto só com a presença de alunos e professores, há ainda muito que ser feito pela universidade e seus parceiros no sentido de incentivar o empreendedorismo e o surgimento de novas empresas de base tecnológica”, acrescentou.
Portanto, é preciso criar a infraestrutura e as condições básicas para que tudo isso ocorra desde já. Sem isso, infelizmente, se o itabirano titubear mais uma vez, a Unifei pode não passar de mais uma fotografia na parede. E nada mais poderá ser feito, pois não haverá mais minério e o maior trem do mundo “vai sumindo/E um dia, eu sei não voltará/Pois nem terra nem coração existem mais.”
A instalação da Unifei na Cidadezinha é um começo importante para a educação – passaporte pro futuro – e com certeza, deixar de exportar ferro pra exportar ideias e tecnologia só é possível com cursos técnicos e universidades. A Funcesi começou mal, com bispo da cidade defendendo escola privada em detrimento da pública, uma ignorância elitista. Em maio do ano passado a Alemanha (invenção do motor e produtor de guerras) estatizou as poucas universidades privadas. Portanto, a Unifei possibilita a Vida Nova pra Velha Cidade.
A UNIFEI é agora o que seria a nossa UFOP que ficou perdida para Ouro Preto que na época era a capital da Província de Minas Gerais.
Podemos dizer que “antes tarde do que nunca!”