Prefeituras otimizam a assistência às pessoas em situação de rua com o uso da inteligência geográfica
Foto: Carlos Cruz
Solução tecnológica utilizada permite ampliar o planejamento de políticas socioassistenciais tanto na capital quanto no interior de São Paulo
A população em situação de rua é um dos cenários mais preocupantes do momento para as autoridades públicas. Ou pelo menos deveria ser. Prova disso são os dados mais recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base em dados do Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal que aponta crescimento em mais de 935%, nos últimos dez anos, da população em situação de rua no Brasil. Já são mais de 227 mil pessoas cadastradas até agosto de 2023.
Os números são alarmantes e têm levado as prefeituras a investirem em tecnologias de última geração, como o caso da cidade de São José do Rio Preto. A cidade paulista acaba de apostar em uma solução americana de inteligência geográfica capaz de radiografar e cadastrar toda a população em situação de rua. O projeto é encabeçado por empresa brasileira, a Imagem Geosistemas – e está em fase piloto e já é grande a expectativa de retornos a curto e longo prazo.
Além de São José Rio Preto, outro caso emblemático é o da Prefeitura de São Paulo que, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e de instituições de ensino, como a Unilago e a Unip, também utiliza a plataforma americana ArcGIS desde 2019. E já consegue prestar suporte à população mais carente.
Mas isso só foi possível após longa pesquisa. Para isso, a administração do município conta com o fundamental Censo de População em Situação de Rua, iniciativa pioneira em mapear e compreender a realidade das pessoas em situação de rua local. Os números mais atuais revelam ter mais de 31 mil pessoas desassistidas apenas na capital Paulista.
Como funciona na prática
O Censo de População em Situação de Rua é um projeto que, por meio da inteligência geográfica, consegue entender a distribuição espacial da população em situação de rua na cidade, identificar as áreas com maior concentração, além de conseguir pensar em melhorias no direcionamento de ações e serviços.
O projeto conta com equipes que fazem as abordagens para o preenchimento de formulários eletrônicos. Depois de coletados, os dados são analisados e compilados pelos departamentos de Vigilância Socioassistencial e Proteção Social Especial da secretaria.
Na plataforma do GIS é possível filtrar o perfil de cada entrevistado, de acordo com a faixa etária, raça e etnia, gênero, entre outras métricas. Além disso, há um campo que permite entender o que ocasionou a situação de rua de cada entrevistado e quais são os principais desafios para a saída das ruas. Finalizada a coleta dos dados, o Censo é aberto para acesso público em plataforma digital.
Segundo, Juliana Almeida, executiva de Vendas na Imagem Geosistemas, a tecnologia GIS mapeia todos os tipos de dados, mas transcende suas aplicações tradicionais, atuando como uma ferramenta poderosa para enfrentar desafios sociais complexos, a exemplo da situação da população em rua.
“A iniciativa pioneira da Prefeitura de São José do Rio Preto não é apenas um marco na utilização do geoprocessamento para compreensão detalhada das necessidades dessa comunidade vulnerável, mas, também, é um passo adiante na formulação de políticas públicas realmente mais eficazes”, ressalta.
Porém, mais do que mapear, as prefeituras fazem uso da tecnologia para levar ajuda à população. Um exemplo do que já vem sendo feito pela Prefeitura de São Paulo é o refinamento dos locais para pensar as distâncias das bases até as redes de serviço.
Utilizando a inteligência geográfica, a Prefeitura consegue integrar o serviço de abordagem e agilizar o tempo de resposta das equipes a partir do recebimento da solicitação via 156. E, ainda, calcular a quantidade de suprimentos adequados para atender a todos os assistidos de forma efetiva.
Com o alto número de pessoas em situação de rua, nasce a necessidade de a Prefeitura “chegar mais perto” para ouvir a população e saber como atendê-la, ampliando sua capacidade de implementar políticas públicas eficazes com base nos dados coletados.
“A vigilância é uma das funções da política de assistência social em conjunto com a proteção e a defesa de direitos, que, juntas, monitoram, avaliam e diagnosticam situações de vulnerabilidade, risco, violação e, assim, subsidiam, qualificam e ampliam a proteção social nos mais diversos locais das cidades”, explica a executiva da Imagem Geosistemas.