O mundo vasto mundo de CDA – III –
Pesquisa e acervo: Cristina Silveira
1944 – Saiu na coluna Livros: “… O desejo de ser diferente a qualquer preço é mau conselheiro. Que o diga, em sã consciência, o senhor CDA, réu de inúmeros crimes contra a arte de versificação e cujos os poemóides já não impressionam nem mesmo os neo-literatos provincianos que assentaram tenda no modernismo. O senhor CDA acha que toda poesia, em sua essencialidade, é social, quer dizer, despersonalizada. A afirmação é tão bizantina que se destrói por si mesma”. A Noite (RJ), 21/5/44.
1944 – CDA participa da Comissão Organizadora do 10º Congresso Brasileiro de Geografia, da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. A Noite (RJ), 9/7/44.
1944 – Rádio de Ottawa, Canadá, no programa The Word and Ourselves (em cadeia nacional) o embaixador Cyro de Freitas Valle leu o poema O sonho de um itabirano*, de CDA, traduzido para o inglês pelo embaixador Robert A. D. Ford. [*Talvez quisesse dizer, Confidência de um itabirano] Correio da Manhã (RJ), 1/9/44.
1944 – A Rádio Difusora da Prefeitura do Distrito Federal apresenta o programa Valores da Música e da Poesia Brasileira, em comemoração a Semana da Pátria. A poesia de CDA fez parte da programação. A Noite (RJ), 2/9/44.
A União dos Estudantes pediu ao professor Peregrino Júnior falar a respeito dos tipos psicológicos fixados por Jung: A esquizotipia “squisotimia” de CDA – seco, fechado, hermético. Eu, aliás, considero o poeta de Brejo das Almas, o exemplo mais típico de “squisoidin” da nossa literatura. A complexidade interior, a inadaptação, o desajustamento, a introversão agreste, o mistério subterrâneo do poeta – tudo são características de “introversão e esquizoidia”. A Noite (RJ), 4/11/44.
1945 – CDA desliga de sua colaboração na Folha Carioca. Correio da Manhã (RJ), 6/3/45.
1945 – Declaração de Princípios do I Congresso Brasileiro de Escritores. Almoço em homenagem aos presidentes da ABADE, Aníbal Machado, Sérgio Milliet, Dyonélio Machado.
De Minas, o escritor Murilo Mendes envia telegrama a CDA: “Peço querido amigo me representar /almoço escritores sábado /e transmitir minha solidariedade a Declaração de Princípios do Congresso. Abraços. E o poeta foi ao almoço dos intelectuais com o telegrama de Murilo no bolso. Correio da Manhã (RJ), 11/3/45.
1945 – CDA comparece ao que “constituiu uma impressionante manifestação de civismo e fé na democracia, o almoço que os intelectuais ofereceram, ontem no Lido, aos senhores Aníbal Machado, Sérgio Milliet e Dyonélio Machado, pelo êxito do I Congresso Brasileiro de Escritores”. Jornal do Brasil (RJ), 11/3/45.
1945 – No dia 13/3 o ministro Gustavo Capanema concedeu a exoneração pedida pelo seu chefe de gabinete e CDA explica: “Membro fundador, que sou, da Associação Brasileira de Escritores, acompanhei a linha doutrinária dessa entidade em face da presente situação. No ministério servi muitos anos, como auxiliar da exclusiva confiança do ministro, deixo os melhores amigos. Nada sofreram minhas relações com o sr. Gustavo Capanema, a quem me liga uma velha e fraternal estima e a quem admiro e respeito como um dos grandes homens públicos do país”. Correio da Manhã (RJ), 14/3/45.
1945 – Em almoço íntimo, CDA é homenageado por amigos e companheiros de trabalho, com o único objetivo de apresentar as despedidas do chefe de Gabinete do MEC. Jornal do Brasil (RJ), 17/3/45.
1945 – CDA é eleito para a Comissão de Organização pela Anistia, da União dos Trabalhadores Intelectuais. Correio da Manhã (RJ), 30/3/45.
Poema de Março de 45
Carlos Drummond de Andrade
26/3/1945
Mal foi amanhecendo no subúrbio,
as paredes gritaram: anistia.
Rápidos trens chamando os operários
em suas portas cruéis também soavam
anistia, anistia.
Os bondes vinham cheios. Tabuletas
já não diziam Muda, Meyer, Barcas.
Uma palavra só, neles gravada:
anistia.
Os jornaleiros bradem um papel
de dez metros de alto por cinquenta.
Nesse cartaz imenso, em tinta rubra:
anistia.
Já as lojas pararam de vender.
Os vidros, os balcões se rebelando
beijam teu nome, roçam tua imagem,
anistia.
Se olho para as rosas: anistia.
Para os bueiros da city, para os céus,
para os montes em pé nas altas nuvens:
anistia.
Anistia nos becos, nos quarteis,
nas mesas burocráticas, nos fornos,
na luz, na solidão: só anistia.
E bate um sono. Um remo corta a onda.
Alguém corre na praia. Estes sinais
querem dizer apenas, sem disfarce,
anistia, anistia.
A sorte corre hoje. Último número.
Compro o bilhete. Para decifrá-lo
não preciso de códigos. Avisa-me:
anistia.
Anistia: teu nome se dispersa
no vento de Ipanema e do Leblon,
para se condensar, sopro terníssimo,
sobre todas as casas! Anistia.
Esta é a voz dos mortos sob o mármore,
é a voz dos vivos no batente. Ouço
mil bocas em silêncio murmurando:
anistia.
E ouço as pedras na rua, ouço os insetos,
ouço os andaimes, ouço os guarda-chuvas,
ouço tudo rangendo, reclamando
anistia.
Vem pois, ó liberdade, com teu fogo
e tua rosa rebelde nos cabelos.
Vem trazer os irmãos para o sol puro
e incendiar – de amor – os brasileiros.
1945 – Semana Nacional Pró-Anistia. CDA é um dos designados para redação do manifesto Pró-Anistia, como representante da União dos Trabalhadores Intelectuais. Correio da Manhã (RJ), 3/4/45.
1945 – União dos Trabalhadores Intelectuais, contra o fascismo e pró Eduardo Gomes, setor dos escritores representado por CDA. Correio da Manhã (RJ), 3/4/45.
1945 – CDA representa o setor de escritores da União dos Trabalhadores Intelectuais, que promove o Movimento Nacional de Recuperação Democrática. Correio da Manhã (RJ), 4/4/45.
1945 – A Comissão Executiva, Política e Propaganda do Comitê de Jornalistas Pró-Eduardo Gomes, propõe musicar poemas de CDA para serem cantados nos comícios. Jornal do Brasil (RJ), 5/4/45.
1945 – CDA fará leitura sobre Mário de Andrade na Associação Brasileira de Escritores, no auditório da ABI, em homenagem a Mário de Andrade. Correio da Manhã (RJ), 15/4/45.
1945 – A Semana Pró-Anistia, promovida pela UNE para Redemocratização do País, mandou imprimir em folhas volantes poemas de CDA e Vinícius, sobre Anistia. Correio da Manhã (RJ), 15/4/45.
1945 – Anuncio: A Revista Sombra contribuição de vários escritores, entre eles CDA, “Os intelectuais contra a opressão”. Correio da Manhã (RJ), 28/4/45.
1945 – CDA na redação dos Comunistas.
1945 – O escritor mineiro, Paulo Mendes Campos prepara livro com estudo sobre a poesia de CDA. Correio da Manhã (RJ), 3/6/45.
1945 – Anúncio: CDA falará sobre a personalidade do General Charles De Gaulle. Hoje às 22h na Rádio Cruzeiro do Sul. Jornal do Brasil (RJ), 22/6/45.
1945 – CDA é jurado no concurso de desenhos infantis, “Como viu você Paris libertada”, promovido pela embaixada da França no Brasil. Jornal do Brasil (RJ), 10/7/45.