Carnaval é cultura e expressão popular

Bloco Madalena não gosta de Poema, de Itabira, MG

Foto: Carlos Cruz

Não existe “o carnaval”, existem mil carnavais diferentes, dependendo do que isso representa para cada pessoa

Montserrat Martins*

Gente solteira querendo pegação, gente casada lembrando do passado, tem quem goste de samba enredo, de ver as fantasias e coreografias, o carnaval como um show na TV – e tem quem veja o carnaval só como um grande feriadão.

Nas redes sociais tem gente questionando prefeituras que apoiam o carnaval, visto por elas como uma futilidade. Tem quem diga que essas verbas deviam ir para educação e cultura, ou para a saúde, por exemplo.

Essa é uma questão interessante, pois afinal toda essa preparação de músicas, danças, fantasias e alegorias, não seria considerada uma forma de cultura? Quem não gosta de desfiles de carnaval não vê o lado profissional e cultural, que mobiliza tanta gente não só nessa época, mas o ano inteiro.

Entrevistei uma passista de escola de samba (quando estava escrevendo o livro Em busca da Alma do Brasil) e ela descreveu verdadeiras “torturas” a que eram submetidas o ano inteiro, para serem aprovadas para o desfile oficial no Rio de Janeiro.

As exigências em todos os detalhes vão desde manter a forma até o desempenho rigorosamente perfeito nas danças. Para quem é ou sonha em ser uma estrela nessa festa, o caminho é longo e complicado. A competição interna também é estressante, como ouvi em relatos de rainha de carnaval, nessa mesma época.

O mundo do carnaval profissional, enfim, é um mundo próprio, tão específico em seus conhecimentos quanto o dos “nerds da T.I.” ou o dos fãs do “Star Wars” que tem festas próprias, ou dos fãs de animes japoneses, ou dos encontros de jogadores de videogames. E qualquer um desses assuntos, por mais que estejam ligados a formas de lazer, também são formas próprias de cultura.

Quando a gente diz que algo é fútil, o que a gente está dizendo na verdade é que não gosta daquilo, não se identifica. Ou então que a gente não considera cultura o que envolver alguma forma de lazer.

Mas alguém conseguiria passar o ano inteiro só trabalhando, sem relaxar nunca, sem ter momentos de lazer? Para a própria saúde, física e mental, lazer também é um assunto sério.

De todos exemplos citados, o carnaval é o que sofre os maiores preconceitos. Uma possível causa disso é sua origem popular, muitas das pessoas envolvidas moram nas periferias, em condições mais humildes.

Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma crônica ironizando isso, no qual uma patroa pedia para a empregada uma chance de desfilar na escola dela. O Carnaval é um mundo à parte.

*Montserrat Martins é psiquiatra.

in EcoDebate,

 

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