Invasão

Poema e ilustração: Amanda Drummond*

 

Não se conquista coração que já tem dono
Se desapropria, jogando à força os pertences
Mesmo com acordos, rosas e biritas
Não se toma terra que tem dono
Isso é guerra
Disputa sangrenta
Ferida profunda
Não sei, essas posses foram minhas em tempos de outrem
Agora, são terras multinacionais,
Minha terra vai no trem velho,
Nele escondem o ouro,
Pesam como ferro,
Feito meu coração.
Não sou mais montanha,
Me levaram para o Japão.
Não sou mais fria feito o primo,
Sou fusão, entre razão, os números, calculei a ambição.
Por conta dela, levaram todas as minhas canções.
Vejo um navio velho,
Ele deixa rastros no mar,
Leva nele o meu minério, por onde não sei onde vai dar.
Terra que tem dono, não se tira.
Mesmo entre moedas, falsas mentiras.
Mesmo entre fardas e medalhas
O coração marcado tem a cicatriz das escolhas do passado
Foi o poeta…
Foi o trem…
Foi o navio…
Me parcelaram um carro
O juro me golpeou o crediário
Levaram até o meu armário
Mesmo sem pedirem licença
Me deram o conto do vigário
Para eu aprender a contar
Vida essa que parece ser de ferro,
Mas é mesma de otário.

*Amanda Drumond é escritora, poeta brasileira contemporânea, conhecida por sua escrita sensível e marcante. As suas poesias, crônicas e contos abordam temas como amor, feminilidade, empoderamento e autoconhecimento, muitas vezes explorando a dualidade entre força e vulnerabilidade.

 

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