Agora é lei: 2024 será o Ano Municipal do Centenário de Dona Tita, matriarca do quilombo Morro de Santo Antônio

Fotos: Reprodução/
Divulgação

Por José Norberto “Bitinho” de Jesus*

A comunidade quilombola do Morro de Santo Antônio está em estado de graça. E não é para menos.

É que o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) promulgou, em 6 de novembro, a lei número 5.471, que institui o Ano Municipal do Centenário da Matriarca Quilombola Dona Tita, uma homenagem justa e um reconhecimento histórico muito bem representado nesta pessoa incrível e que foi batizada como Maria Gregória Ventura, 99 anos, matriarca desse povoado preto e que preserva as suas tradições como valores históricos inalienáveis.

Mais do que nunca, agora Itabira tem mais um motivo para celebrar, para não se esquecer de lembrar, dessa luta contínua e permanente pelo fim dos preconceitos, sendo o maior deles o racismo estrutural.

O centenário de dona Tita a ser celebrado em 2024, quando ela completa 100 anos de vida e de luta, se soma ao dia dedicado a Zumbi dos Palmares, celebrado em 20 de novembro e que está para virar feriado nacional.

Para isso, a Câmara dos Deputados aprovou, nessa quarta-feira (29), por 286 votos a favor e 121 contrários, a proposta que torna feriado nacional o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. O projeto de Lei 3268/21 já foi aprovado pelo Senado e segue agora para a sanção presidencial.

A data será chamada Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Atualmente, o dia 20 de novembro já é considerado feriado em seis estados e em cerca de 1.200 municípios brasileiros.

Motivos para celebrar

Com tudo isso, e mais essa efeméride municipal em homenagem a dona Tita, o quilombo Morro de Santo Antônio tem agora mais de 100 motivos para celebrar esse reconhecimento histórico.

Com esse advento, a iniciativa não só valoriza essa matriarca, bem como abre espaço e traz para atualidade também a necessidade se cobrar melhorias e o resgate de dívidas históricas reparatórias, para que os moradores possam dar um salto na melhoria da qualidade de vida.

Para isso é preciso criar oportunidades de renda para os “esquecidos” ao longo da história dessa tradicional comunidade quilombola itabirana, contribuindo para o desenvolvimento econômico, social, sem esquecer da tão importante lei 10,639, que instituiu a introdução da História do povo Preto nas escolas municipais, integrando-a na disciplina nacional de Educação do Brasil.

Dona Tita é referência memorialística e, prestes a completar 100 anos, continua ativa na comunidade quilombola Morro de Santo Antônio

Iniciativa

A justa homenagem foi uma iniciativa do vereador Júlio “do Combem” Rodrigues (PP), que apresentou projeto de lei, aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal de Itabira. A sanção e posterior promulgação pelo prefeito Marco Antônio Lage sacramentam a justa homenagem, outorgada na hora certa, quando a matriarca completa 100 anos de vida digna e de muita luta em 2024.

Daí a razão do entusiasmo que a comunidade quilombola Morro de Santo Antônio recebe e deseja celebrar o Ano Municipal do Centenário da Matriarca Quilombola Dona Tita, que passa a fazer parte de uma galeria de pessoas pretas valiosas e valorosas como foi Zumbi dos Palmares, Dandara, Aqualtune, Machado de Assis, Aleijadinho, Tereza de Benguela, Luís Gama, Laudelina de Campos Melo, Estevão Roberto da Silva.

É motivo de orgulho também para os 72% de pretos e pardos que residem em Itabira, segundo o IBGE. Todos têm em comum a mãe África, razão de nossa ancestralidade. Com a homenagem, dona Tita inaugura a galeria de pessoas pretas que fizeram e fazem história em nosso município.

Lagoa do Morro

Dona Tita é o candeeiro que está sempre a iluminar a comunidade quilombola, com o seu jeito simples, porém carregado de sabedoria.

De alma alva, quando fala não dá lugar à maldade. Suas orientações são criativas, enriquecedoras. Se para pensar, refletir em um dado momento, Jesus subiu a montanha para buscar as parábolas que mais tarde serviram de referência a todos os cristãos, com dona Tita não é muito diferente.

Para refletir, ela não sobe a montanha. O seu recanto especial é a lagoa do Morro de Santo Antônio, onde ao lado de uma amiga com quem segue em segurança, fica horas e horas contemplativa, refletindo sobre os acontecimentos da comunidade.

Recentemente, na posse do novo presidente da Associação do Quilombo, Vinício Souza, sobrinho de dona Tita, ela realizou uma reza para celebrar os santos de devoção.

Sobre a homenagem em seu Centenário, dona Tita me disse:
– “Olha o que vocês fizerem. Se é para o bem, eu fico satisfeita”, agradeceu.

*José Norberto “Bitinhoa” é ativista, um dos percussores do Movimento Negro Unificado (MNU) em Itabira, no início da década de 1980.

 

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *