“Os R$ 100 milhões da Vale na Unifei são migalhas se comparados com os R$ 500 milhões que investe em clube de Vitória”, compara Heraldo Noronha

Foto: Raíssa Meireles/
Ascom/CMI

Depois de ouvir a pró-reitora de Extensão da Universidade Federal de Itajubá (Proex-Unifei), professora Giselle Queirós Cunha, agradecer a Vale por investir cerca de R$ 42 milhões para equipar os laboratórios do campus de Itabira, o vereador Heraldo Noronha (PTB), nessa terça-feira (26), não se conteve e fez severas críticas à mineradora, como poucas vezes se ouviu na presente legislatura.

Segundo ele, o que a empresa “dá a Itabira é esmola”, diante de tudo o que a Vale já explorou e lucrou no município, tornando-se, em mais de 80 anos de sua fundação em terras itabiranas, uma das maiores multinacionais de mineração do mundo.

O vereador considera insignificantes os investimentos da mineradora na Unifei, diante de sua grandeza e pela riqueza que a Vale já auferiu no município, mas também quando se compara com investimentos que faz em outras cidades, como em Vitória, no Espírito Santo.

“Esses R$ 100 milhões investidos na Unifei (em conta-gotas, na construção dos três novos prédios) é uma esmola diante do que a Vale dos cerca de R$ 500 milhões que investiu em um clube na orla de Vitória”, comparou o presidente do legislativo itabirano, indignado com o desprezo da mineradora para com a cidade onde iniciou as suas atividades, em 1942, quando não tinha nem mesmo crédito para comprar na praça de Itabira.

Para Heraldo Noronha, diante da magnitude da dívida histórica que a mineradora tem com Itabira, a Vale deveria bancar todo o projeto universitário da Unifei no município.

“Se assim fizesse, já teríamos 12 mil estudantes em Itabira. Imagine o que representaria isso, mais os professores e funcionários, movimentando a economia da cidade”, projetou. Hoje, passados 15 anos de sua instalação na cidade, a Unifei tem pouco mais de 2 mil estudantes matriculados no campus local.

“A tragédia de Brumadinho repete (evidentemente em escala maior pela tragédia humana com as centenas de mortes) o que vemos em Itabira nos últimos 80 anos, com a Vale fazendo todos esses buracos, com a degradação do meio ambiente, que tem feito tanto mal à população de Itabira em troca de migalhas”, insistiu Heraldo Noronha, em tom de desabafo.

Filha ingrata

Ainda de acordo com o presidente da Câmara, a mineradora dá a Itabira a mesma atenção que um filho ingrato oferece à mãe quando a abandona em um asilo.

“Ela é aquele filho que põe a mãe em um asilo, abastece de migalhas, assim como a Vale faz com Itabira, também oferecendo migalhas”, comparou, faltando dizer que o povo e as autoridades, agradecidos áulicamente, como bajuladores, dizem muito obrigado pelas migalhas que a cidade recebe.

Nesse ponto, o presidente da Câmara é interrompido pelo vice-presidente da Câmara, vereador Luciano “Sobrinho” Gonçalves dos Reis (MDB), ao procurar isentar a Vale pela demora na construção dos três prédios da Unifei, responsabilizando o prefeito pelo atraso.

“O senhor fica falando que o prefeito é do povo, mas não é. Ele é o responsável por todo esse atraso”, atribui o oposicionista. “Eu acho que é muito (o que a Vale investe na Unifei”, insistiu Luciano “Sobrinho” na defesa da mineradora – e na busca incansável por responsabilizar o prefeito, a quem ele faz oposição, pelo atraso nas obras da Unifei.

Isenta assim, indiretamente, o governo anterior que fez a licitação das obras, sem incluir nos contratos cláusulas de reajuste diante da inflação, assim como a correção dos valores de repasses assumidos pela mineradora Vale.

Heraldo não concordou com o vice-presidente e voltou à carga contra a Vale. “O prefeito está aqui há pouco mais de 2 anos e meio, enquanto a Vale explora o minério de Itabira há mais de 80 anos e injeta migalhas da Unifei. É ela que deveria investir todo o recurso necessário para (concluir) o projeto da Unifei”, repete o presidente da Câmara, que cita outros problemas advindos da mineração.

“Se hoje temos falta de água em Itabira, isso se deve ao rebaixamento do lençol freático (na verdade, dos aquíferos que são mais profundos, por isso mesmo mais impactante). Toda essa escassez de água em Itabira é culpa da Vale”, sentenciou Heraldo Noronha.

E ele está pleno de razão, tanto que a empresa se viu obrigada a assinar um Termo de Ajustamento de Condutas com o Ministério Público de Minas Gerais para fazer a transposição de água do rio Tanque para abastecer a cidade, já que destruiu as principais fontes que existiam na Serra do Esmeril, além de deter a maioria das outorgas na cidade.

Não bastasse tudo isso, complementa o vereador, a empresa estaria demitindo os empregados com mais de 50 anos de idade. “Isso é mais uma covardia da Vale que estamos vendo em Itabira”, disse ele, que já trabalhou na Vale, demitido pouco depois de sofrer acidente na empresa.

“A Unifei é a nossa pedra preciosa. É o braço principal para a nossa diversificação econômica. Muitos projetos importantes para Itabira vão sair das incubadoras e do futuro parque científico tecnológico”, projeta o vereador mesmo com todas as dificuldades que o campus local tem enfrentado para a sua consolidação.

 

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