Projeto de lei propõe a instituição do Ano do Centenário de Dona Tita, matriarca do quilombo Morro de Santo Antônio

Fotos: Reprodução/
Divulgação

Será apresentado pelo vereador Júlio “do Combem” Rodrigues (PP), nesta terça-feira (26), na reunião das comissões temáticas da Câmara Municipal de Itabira, projeto de lei que institui o ano do Centenário de Dona Tita, batizada como Maria Gregória Ventura, matriarca da comunidade quilombola do Morro de Santo Antônio.

Depois de aprovado pelas comissões temáticas, o projeto de lei deve entrar na pauta de discussão e votação ainda nesta terça-feira.

A expectativa é de aprovação unânime, para posterior sanção do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), como parte de uma política pública municipal antirracista e de reconhecimento da importância das mulheres e dos homens pretos na história de Itabira, hoje equivalentes a 72% da população itabirana, segundo autodeclaração no último censo do IBGE.

Dona Tita é referência memorialística e, aos 100 anos, continua ativa na comunidade quilombola Morro de Santo Antônio

Dona Tita é a mulher mais idosa do quilombo Morro de Santo Antonio. “Ela é uma referência ancestral depois de Tia Zefina (dona Josefina Lucas Evangelista, falecida aos 108 anos), dona de uma memória privilegiada”, afirma José Norberto “Bitinho” de Jesus, ativista há mais de 15 anos da União de Negros e Negras pela Igualdade (Unegro).

“Ela se mantém ativa, cozinha para os seus familiares e para quem a visita, além de ser uma artesã, tecendo crochês e tapetes maravilhosos”, conta

De acordo com Bitinho, a aprovação do projeto de lei pelos vereadores terá o mérito de inserir, mais uma vez, a pauta afroitabirana nas discussões do legislativo itabirano, como parte de uma estratégia de “de ressignificação do nosso papel na construção histórica de Itabira”.

“Quando falamos no Centenário de uma pessoa preta, que é referência em um quilombo, espaço de resistência, esse reconhecimento não se trata apenas de algo simbólico, mas de ressignificação dessa presença negra nos espaços de poder, o que deve ser refletido na prática social cotidiana”, afirma Bitinho.

Conforme ele tem defendido historicamente, trata-se de uma luta permanente contra o racismo estrutural, que ainda manda para a cadeia jovens pretos, sob o argumento de tráfico de drogas, sobretudo da maconha, cujo porte e consumo há muito deveriam ter sido descriminalizados no país, a exemplo do que já ocorre em vários países.

“Essa repressão é que justifica, na maioria dos casos, a violência policial, prisão e mortes de jovens pretos nas comunidades em todo o país”, diz ele, para quem o reconhecimento da importância do povo negro para a história de Itabira se insere na luta permanente contra o racismo estrutural e por uma cidade antirracista.

Posts Similares

3 Comentários

  1. O nosso Norberto, Bitinho, merece saudações por todos estes anos de luta contra o racismo. E também é um ativista da cultura.
    Meu querido amigo Norberto, meu abraço amoroso pra você em sua luta importantíssima para o Brasil.

  2. A Tita é o candeiro que está sempre a iluminar a comunidade quilombola, com seu jeito simples, porém carregado de sabedoria.

    De alma alva, quando fala não dá lugar a maldade. Suas orientações são criativas, enriquecedoras. Se para pensar, refletir um dado momento, Jesus subia a montanha para só buscar as parábolas que mais tarde serviram de referência, com a Tita, não é diferente.

    Não sobe a montanha, mas o seu recanto especial é a lagoa do Morro, onde de vara em punho, caminha ao lado de uma companheira para evitar que algo, mude a sua rota. Lá, horas a fio, sobra-lhe tempo
    para refletir sobre os acontecimentos da comunidade.

    Essa semana, na posse do Vinício Souza, novo presidente do Quilombo, e um dos sobrinhos predileto, ela realizou uma reza para celebrar os santos de devoção. Sobre a indicação do Centenário dona Tita me disse:
    – “Olha o que vocês, se referindo ao Vinício, sua mãe dona Rosinha e a mim, fizerem se for para o bem, eu fico satisfeita”, finalizou.

    Em tempo:
    Cristina, a luta continua enquanto houver desigualdade no mundo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *