A feminização do envelhecimento populacional no Brasil e no mundo
Por José Eustáquio Diniz Alves*
Existem mais mulheres do que homens no conjunto da população brasileira e entre a população idosa a maioria feminina é ainda mais acentuada
EcoDebate – O Brasil e o mundo estão passando por um profundo e rápido processo de envelhecimento populacional. Em decorrência da transição demográfica, a principal caraterística da dinâmica da população no século XXI será o aumento da proporção de idosos no mundo e nos diversos países. E, entre a população no topo da pirâmide etária, as mulheres vão predominar durante todo o período.
No conjunto da população global, existem mais homens do que mulheres. Em 1 de julho de 2022, para uma população total de 7,975 bilhões de habitantes, havia 4,009 bilhões de homens e 3,967 bilhões de mulheres, segundo as novas projeções da Divisão de População da ONU. Mas entre a população com 60 anos e mais de idade as mulheres predominam.
O gráfico abaixo mostra que as mulheres são maioria da população idosa e o superávit feminino cresce, em termos absolutos, entre 1950 e 2100. A população mundial total era de 2,5 bilhões de habitantes em 1950 e a população de 60 anos e mais de idade era de 199 milhões de pessoas (representando 8% do total). O sexo feminino era maioria entre os idosos, com 109,4 milhões de mulheres e 89,6 milhões de homens. O superávit feminino era de cerca de 20 milhões.
Em 2022, a população global passou para 7,98 bilhões de habitantes, com um contingente idosos de 1,1 bilhão de pessoas com 60 anos e mais de idade (representando 13,9% do total). O número de mulheres idosas chegou a 604,7 milhões e o número de homens chegou a 503,9 milhões, com um superávit feminino, em termos arredondados, de 100 milhões de mulheres.
Para 2100, as projeções da ONU, indicam uma população total de 10,3 bilhões de habitantes e uma população idosa de 3,1 bilhões de pessoas (representando 30% do total). O número de mulheres idosas deve chegar a 1,62 bilhão e o número de homens a 1,46 bilhão, com um superávit feminino de 157,6 milhões de mulheres.
Portanto, a população idosa global saltou de 199 milhões de pessoas (8% do total populacional) para 1,1 bilhão de idosos (13,9% do total) em 2022 e deve alcançar 3,1 bilhões de pessoas com 60 anos e mais de idade (30% do total) em 2100. O superávit feminino era de 20 milhões de mulheres em 1950, passou 100 milhões em 2022 e deve chegar a 157,6 milhões de mulheres em 2100.
O Brasil também tinha mais homens do que mulheres na população, até 1940. Mas, ao contrário da situação atual do mundo, existem mais mulheres do que homens no conjunto da população brasileira. Entre a população idosa a maioria feminina é ainda mais acentuada.
O gráfico abaixo, também com dados das novas projeções da Divisão de População da ONU (revisão 2022), mostra que, proporcionalmente, o superávit feminino no Brasil é ainda maior do que na média mundial. A população brasileira total era de 53,9 milhões de habitantes em 1950 e a população de 60 anos e mais era de somente 2,2 milhões de pessoas (representando apenas 4% do total). O sexo feminino era maioria entre os idosos brasileiros, com 1,12 milhão de mulheres e 1,04 milhão de homens. O superávit feminino era de 88 mil mulheres.
Em 2022, a população brasileira passou para 215 milhões de habitantes, com um contingente idosos de 31,5 milhões de pessoas com 60 anos e mais de idade (representando 14,6% do total). O número de mulheres brasileiras idosas chegou a 17,6 milhões e o número de homens chegou a 13,9 milhões, com um superávit feminino de 3,8 milhões de mulheres.
Em 2046, a população brasileira vai atingir o pico populacional com 231 milhões de habitantes, segundo as projeções da ONU. O número de idosos deve chegar a 61,8 milhões de indivíduos (representando 26,7% do total), sendo 34,2 milhões de mulheres e 27,6 milhões de homens, com um superávit feminino de 6,6 milhões de mulheres.
No restante do século, a população brasileira vai decrescer e deve chegar a 184,5 milhões de habitantes em 2100, com 73,3 milhões de idosos (40% do total). O número de mulheres idosas deve chegar a 38,6 milhões e o número de homens a 34,7 milhões, com um superávit feminino de 3,8 milhões de mulheres.
Portanto, a população idosa brasileira já saltou de 2,2 milhões de pessoas em 1950 (4% do total populacional) para 31,5 milhões de pessoas com 60 anos e mais de idade (representando 14,6% do total). No final do século o Brasil terá 73,3 milhões de idosos (40% do total). O superávit feminino era de 88 mil mulheres em 1950, passou 3,8 milhões em 2022 e deve se manter no mesmo nível em 2100.
O Brasil do bicentenário da Independência é completamente diferente da época do grito do Ipiranga, pois era um país jovem, masculino, pobre, agrário e rural e a maioria absoluta das mulheres eram analfabetas, estavam excluídas do mercado de trabalho e não tinham o direito de voto e outros direitos de cidadania.
Atualmente somos um país de renda média, com avanços inegáveis na educação, com predomínio dos setores industrial e de serviço, urbanizado, com maioria feminina e em processo de rápido envelhecimento populacional. Os avanços são inegáveis, embora muito deixou de ser realizado e poderíamos estar em uma situação ainda melhor.
As mulheres brasileiras reduziram as desigualdades de gênero no mercado de trabalho, ultrapassaram os homens em todos os níveis educacionais e foram fundamentais naquilo em que o país foi capaz de capitalizar no 1º bônus demográfico.
Além disto, as mulheres serão decisivas no aproveitamento do 2º e do 3º bônus demográfico e a sociedade e as políticas públicas precisam se preparar para conviver e potencializar este novo perfil demográfico que vai prevalecer no restante do século XXI.
José Eustáquio Diniz Alves é doutor em Demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referência:
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
E ainda assim, as mulheres não ocupam a maioria dos cargos políticos, em todas as esferas.
Não estamos devidamente e numericamente representadas em cargos de tomada de decisão no Executivo, nem no Legislativo e menos ainda, no Judiciário.
As mulheres que conseguem ocupar cargos eletivos sofrem todo tipo de violência de gênero e política, como o caso de deputadas federais sendo cassadas por
serem combativas – e mais estudadas – que muitos caciques da casa.
No âmbito do poder judiciário, vimos recentemente o caso da escrivã induzida ao suicídio, mesmo após ter feito várias denúncias de assédio moral e ameaças por parte dos seus superiores na Ouvidoria… sem resultado. Ou, com o pior resultado: a perda de sua vida.
Somos a maioria da população.
Estudamos mais que os homens também. Mas ganhamos menos, somos minoria em cargos diretivos – – independente da qualidade do nosso currículo – e temos pouca voz nos espaços políticos.
Até quando?
Até quando, querida Maura? A solução é o comunismo, marxismo-leninismo.