Religião não se discute?
Ilustração: Reprodução/Ateita
Por Carlos Roberto de Souza*
Religião como sistema de ideias se discute sim.
Este discurso de que não se deve discutir religião é muito cômodo para os teístas.
Mas como não discutir um sistema de ideias e crenças que ameaçam o Estado Democrático de Direito, que impõe seus preceitos ao desenvolvimento do pensamento e comportamento humano?
Religião, que no Oriente Médio faz mulçumanos e cristãos disputarem quem corta mais cabeças; que faz Judeus promoverem genocídio de palestinos mulçumanos e inspira mulçumanos a se tornarem homens, mulheres e crianças bombas; que faz judeus e mulçumanos ortodoxos a competirem para ver quem corta mais clítoris e prepúcios.
Que na África, por força do catolicismo, prefere ver a AIDS dilacerar populações inteiras ao uso da camisinha.
Que por ordem do catolicismo em países terceiro mundista orienta ao não controle da natalidade.
Que sistema de ideias outro se pega contra a ciência a impedir pesquisa com células trono, que busca impedir o abortamento de anencefálicos, que nega a liberdade da mulher quanto ao seu próprio corpo, que diz que opções sexuais não heterossexuais são coisas do diabo?
Que ideário pode exigir de pessoas, que seus parentes morram por não admitir transfusões de sangue e transplante de órgãos?
Qual categoria de pensamento insiste que evolução das espécies não seja discutida em Escolas, mas que através do ensino religioso quer que se estude o dilúvio bíblico e a Arca de Noé?
Que pensamento, contra todas as evidências científicas, quer afirmar que a Terra é plana e que tem pouco mais de 6 mil anos, que doenças são causadas por miasmas, demônios, encostos, espíritos ruins?
Que filosofia quer justificar a opressão e a exploração de bilhões de seres humanos como estágio necessário para se atingir a felicidade na vida eterna pós morte?
Que pensamento humano é capaz de criar e tolerar legalmente um bando de espertalhões que se enriquecem às custas da exploração da fé e da ignorância alheia?
Que outro modo de ver o mundo justifica que seres humanos altamente intelectualizados, comandem aviões lotados de pessoas para jogá-los contra edifícios e matar outros milhares de seres humanos?
Que ideólogos justificam condenar a morte jornalistas e escritores, humoristas ao redor do mundo por terem exercido o seu ofício contrariando ou criticando dada postura de fé?
E não estou dizendo de eventos ocorridos a milhares ou centenas de anos passados, tais como as famigeradas cruzadas e a inquisição, todos os fatos ditos aqui estão ocorrendo agora e são manchetes nos jornais dos dias atuais.
Não se pode esquecer que os religiosos radicais surgem do meio dos religiosos “pacíficos”…
Como então, diante de tantas malfeitorias surgidas da religião pacífica, bonitinha e caridosa, dizer que religião não se discute?
Que bendita ou maldita proteção ao crivo do pensamento crítico precisa ter a religião?
Religião deve, tem de ser, e precisa sim, ser objeto de discussão.
*Carlos Roberto Souza é médico anestesista e bacharel em Direito.
Belo artigo, caro Carlos. Marx definiu muito bem: religião é o ópio do povo.
Obrigado,com.panheira Cristina!