Violonista e compositor, Manuel de Oliveira faz concerto, no domingo, na igrejinha do Rosário

Fotos: Rogerio Von Kruger

Looping solo é um concerto onde o violonista e compositor Manuel de Oliveira adapta obras da sua autoria e uma versão do tema Venham mais cinco, de José Afonso, a um formato de concerto solo. É de maneira sublime que o artista com um violão, uma viola braguesa e algumas percussões nos transporta para o seu universo musical, único.

Para isso, recorre a uma tecnologia que lhe permite gravar uma série de sons em tempo real. É de forma virtuosa que o músico nos faz imergir numa viagem profunda que nos retira a noção de tempo.

Ele tem nos revelado ao longo de mais de 20 anos uma obra de identidade singular, imediatamente reconhecível na sua constante mutação. Em sua forma original de se expressar, música, fronteira, território, comunidade e identidade serão sempre palavras-chave. 

No MIMO Festival, em Itabira, Manuel de Oliveira se apresenta no domingo, 21 de maio, às 16h, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. 

O compositor e violonista Manuel de Oliveira apresenta seu concerto no domingo, na histórica igrejinha do Rosário dos Homens de Preto

Quais foram os critérios para a definição do concerto que fará no Brasil?

Manuel de Oliveira: É um show novo chamado Looping Solo. Venho preparando há muito tempo, porque sempre tive vontade de fazer um concerto inteiro solo. Mesmo com banda eu sempre tive momentos de três, quatro músicas solo, que as pessoas sempre gostaram muito. Então, sempre fui desafiado a fazer um concerto totalmente solo.

Este Looping Solo é uma estreia. E cá estamos no MIMO e é um concerto em que eu toco as minhas peças que já foram compostas para a guitarra solo, mas também toco outras peças minhas que foram adaptadas. E usamos uma tecnologia de looping em tempo real que é muito interessante.

Vimos que você vai tocar uma obra de um famoso autor português, José Afonso, autor da célebre canção Grândola Vila Morena, que remete ao 25 de abril de 1974 (Revolução dos Cravos). Como foi adaptar essa obra? 

Manuel de Oliveira: Que venham mais cinco é a obra que eu adapto para guitarra instrumental. É do cantor e compositor e ativista José Afonso. Sempre foi um desejo meu porque o meu pai, que foi o meu mestre e a minha influência, tinha o hábito de ouvi-lo. Eu praticamente aprendi a tocar as músicas dele desde criança e sempre quis fazer uma versão solo desse tema.

O seu workshop tem o tema Guitarra ibérica- Território, identidade e inovação. Pode discorrer um pouco sobre isso? 

Manuel de Oliveira: O workshop foi um desafio da Lu Araújo (idealizadora do MIMO). É a primeira vez que estou a montar um workshop e de fato fez-me refletir porque na realidade eu sou conhecido como guitarrista ibérico e é difícil dar um rótulo à música. Mas de fato o meu primeiro disco, aquele que eu considero que revela a minha identidade como compositor tem muitas influências.

Quer seja do território espanhol, quer do território português, mas também de uma ibéria mais ancestral do tempo, porque tivemos oito séculos de domínio islâmico e que influenciou toda a música portuguesa, toda a música espanhola, toda a música ibérica.

Portanto é um pouco a volta disso, a volta de como é a minha música ibérica e como esse processo se foi construindo na minha identidade. Sou um pouco à procura de desfazer fronteiras entre as músicas, entre gêneros, porque eu acabo por me considerar um músico fora de gênero, fora de padrão. E, portanto, esse “padrão” entre aspas da música ibérica, no fundo, é uma mãe de muitas músicas.

Como é o seu o processo de criação? 

Manuel de Oliveira: Não sei se tenho propriamente um processo de criação. Há vários processos, mas se eu puder dizer assim de forma mais geral, a minha forma de recorrer à guitarra não é tanto na intenção da composição, mas é um lugar de encontro. A guitarra permitiu-me encontrar um lugar desde muito cedo onde eu encontro uma paz que não encontro na vida e em quase nada.

A música, serve-me um pouco daquilo que são as minhas vivências e as coisas que eu ouço. É um pouco do meu processo de tocar, de pegar no instrumento. Não é propriamente para estudar, mas sempre à procura de novas coisas onde eu vou seguindo, vou tentando ouvir e vou tentando compreender o que é que se está a sair da forma mais possível, espontânea e orgânica. Quando chega a uma forma, já completa uma canção ou uma música.

Qual a sua expectativa para o concerto em Itabira? Como é estar no MIMO Festival?

Manuel de Oliveira: A expectativa do concerto de Itabira é muito especial porque o lugar onde vamos tocar, a Igreja da Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, é um local lindíssimo e simbólico.

Sempre toquei muito a minha música nas igrejas que é uma coisa que funciona muito bem. Eu acho que vai ser de fato um momento especial e bastante diferente, tanto de São Paulo, como do Rio de Janeiro. A igreja é um lugar diferente onde a música também ganha um outro contexto e uma outra dimensão.

 

 

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