Estudo publicado em revista internacional aponta relação entre material particulado atmosférico de Itabira e efeitos tóxicos em células humanas
Foto: Reprodução
Por Mariana Morozesk1
Um estudo publicado na revista Environmental Advances2 por meio de uma parceria entre a Universidade Federal de Itajubá (Unifei), campus Itabira, e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mostrou que o material particulado atmosférico da cidade de Itabira pode ser internalizado, ou seja, entrar nas células de pulmão humano, e promover efeitos citotóxicos em condições de laboratório (in vitro).
Além disso, o estudo realizou uma coleta independente de material particulado atmosférico nos tamanhos de 2,5 μm (PM2.5), 10 μm (PM10) e 20 μm (PM20) e encontrou valores de particulados de 2 a 3 vezes maiores nos dias coletados comparados aos valores reportados pela Prefeitura de Itabira em seu site oficial.
O poder público municipal publica estes dados, devido à grande quantidade de particulado atmosférico que a população de Itabira está exposta com a emissão proveniente dos processos de extração, das barragens e das minas de minério-de-ferro existentes no perímetro urbano.
O estudo traz a preocupação com a concentração das partículas dispersas, mas também com a composição destas partículas, que por meio de análises qualitativas com microscopia eletrônica mostrou a presença de ferro, alumínio, zinco e contaminantes metálicos emergentes e preocupantes, como bário e titânio, nas amostras ambientais coletadas na cidade.
O trabalho mostra ainda que em contato com a água o tamanho do particulado atmosférico da cidade de Itabira pode ser reduzido, isso é aplicável para todos os tamanhos testados, chegando até a escala de nanopartículas e, isso, pode facilitar a sua entrada nas células e nos pulmões.
Esse mesmo achado mostrando a dissociação do material particulado atmosférico, conhecido como “pó preto”, em contato com a água foi reportado em outro estudo na cidade de Vitória-ES3, indicando que uma possível similaridade de composição pode levar a um mesmo mecanismo de dissociação deste material no ambiente.
Em células de pulmão humano cultivadas em laboratório foi possível observar uma redução da viabilidade celular, ou seja, morte celular, após a exposição aos particulados de tamanhos 2,5 e 10 μm (PM2.5 e PM10).
Outro artigo, publicado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP4, que também analisaram a poluição atmosférica de Itabira, demonstrou que o particulado de tamanho PM10, emitido pelas minas à céu aberto existentes no município podem gerar problemas de saúde na população.
Ainda que existam fortes indícios apontados por estas duas pesquisas, é necessário novos estudos epidemiológicos que avaliem as relações entre tamanho e concentração do particulado atmosférico e as doenças cardiorrespiratórias na cidade.
O estudo conclui que dados científicos e técnicos de qualidade são necessários para encorajar as cidades a adotarem um conjunto cada vez mais rigoroso de padrões de qualidade do ar, e ainda que esses padrões deveriam acompanhar as diretrizes internacionais, que apontam a necessidade de um progresso técnico no monitoramento da poluição atmosférica e reduções nas emissões de material particulado atmosférico.
É importante ressaltar que em sua última diretriz em 2021, a Organização Mundial de Saúde (OMS)5, preocupada com o número de mortes evitáveis causadas pela poluição atmosférica, reduziu ainda mais os padrões aceitáveis de qualidade do ar, sendo indicado para PM2.5 a emissão de até 15 μg/m3 em 24 horas e para PM10 a emissão de até 45 μg/m3 em 24 horas. Esses valores estão bem abaixo do permitido pela Legislação Brasileira e pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e das concentrações permitidas e reportadas atualmente na cidade de Itabira.
Todos esses dados indicam que a comunidade internacional está a cada dia mais preocupada com esse tema, que muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas sobre a influência da poluição atmosférica na saúde da população e que princípios de precaução cada vez mais restritivos deveriam estar em pauta atualmente no Brasil, e, particularmente, em cidades tão impactadas pela mineração, como a cidade de Itabira.
Notas
1 Professora adjunta da Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Ambientais, Campus Sorocaba, São Paulo.
2 O artigo citado é livre para a leitura (open acess) e para verificar o artigo na íntegra acesse: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S266676572100096X?via%3Dihub
Outros trabalhos citados no texto podem ser encontrados em:
3 SOUZA et al. (2022), link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969721077639
4 BRAGA et al (2007), link: https://www.scielo.br/j/csp/a/SH7yDyS89QH667ZxGnxR49g/?lang=pt
5 OMS (2021), link: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/345329/9789240034228-eng.pdf