Vereadores aprovam moção de repúdio ao Ministério da Educação por patrocinar Queermuseu

Por unanimidade, vereadores de Itabira aprovaram moção de repúdio ao Ministério da Cultura por ter financiado a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, aberta no dia 15 de agosto, no Santander Cultural, em Porto Alegre (RS).

Fotos: Zero Hora

A mostra foi cancelada antecipadamente após protestos nas redes sociais, sob a liderança do Movimento Brasil Livre (MBL), da classe média conservadora em apoio ao golpe parlamentar que derrubou a presidente Dilma Rousseff (PT).

A mostra cultural contava com 270 obras versando sobre questões de gênero e diferença. Abordava a temática sexual de formas distintas, abstrata, mas também explícita. Os quadros são de 85 artistas, como Adriana Varejão, Cândido Portinari, Lígia Clark, Yuri Firmesa e Leonilson.

Assim como o MBL, os vereadores consideram a exposição como uma blasfêmia a símbolos religiosos, acusando-a de incentivar a pedofilia e a zoofilia. “É uma afronta ao Estatuto da Criança e do Adolescente, ao Código Civil e à Constituição”, esbravejou o vereador André Viana (Podemos), sob aplausos de seus colegas do legislativo itabirano.

Segundo o autor do requerimento, que é evangélico, a exposição foi financiada pela Lei Rouanet, que bancou R$ 1 milhão e o banco Santander mais R$ 800 mil. “Essa exposição expôs imagens sacras, vilipendiando com a fé das pessoas com dinheiro público”, protestou.

“O crucifixo, um símbolo religioso, foi usado em órgãos genitais. Isso é um absurdo”, disse o vereador, para quem as pessoas se encontram em uma religião, seja no catolicismo, no protestantismo, no espiritismo.

O vereador se auto declara defensor da família. Ele disse que o país inteiro se chocou com tamanha vilania. “Fica o nosso repúdio. O Estado tem de assegurar o respeito às famílias e às instituições religiosas.”

Não há crime

O promotor Júlio Almeida, do Ministério Público do Rio Grande do Sul, após analisar a mostra de arte, não viu crime. Segundo ele, apenas faltou definir uma faixa etária para o acesso à exposição. “A mostra não contém imagens de crianças simulando relações sexuais, nem incitação à pedofilia.”

A coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Denise Vilela, também participou da averiguação. De acordo com ela, em qualquer museu do mundo há incitações de nudez.

Ela concordou com o promotor Júlio Almeida, também fazendo a ressalva de que faltou uma classificação etária para o acesso à exposição Querrmuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira.

Pelados nas igrejas

Na maioria das igrejas católicas é comum observar quadros com anjos despidos com os “bilaus” à mostra. É o caso por exemplo, do painel A árvore da Vida, da artista Yara Tupynambá, no altar da igreja matriz de Ferros (MG).

Quadro A árvore da Vida, na igreja matriz de Ferros (MG)

Pintado no início da década de 1960, o quadro retrata a criação do paraíso. Nele, Adão está nu com o “bilau” à mostra, enquanto Eva esconde com as mãos a genitália e os seios.

As “beatas” ferrenses protestaram contra a obra de arte e por muito tempo assistiram as missas de costas para o altar. Pediram a retirada do painel. Em vão. A arte e o bom senso prevaleceram.

Precedentes na Câmara

Não é a primeira vez que a Câmara Municipal manifesta o seu conservadorismo e pede censura. No início da década de 1980, o então vereador Cácio Guerra (PDS, depois PFL, ambos de sustentação da agonizante ditadura militar), pediu ao Ministério de Justiça que censurasse o jornal O Cometa pelas suas publicações consideradas imorais, atentatórias à família, à moral e aos bons costumes.

Não foi atendido. Afinal o país estava em pleno processo de abertura lenta, gradual e segura. Uma das motivações do pedido de censura foi uma ilustração do artista plástico Genin Guerra para o poema O que se passa na cama, de Carlos Drummond de Andrade.

Um pouco antes, como parte da mesma onda conservadora predominante no legislativo itabirano, a edição de novembro de 1980 circulou, no plenário da Câmara, pelas mãos de indignados vereadores, sem a capa com o desenho de um ato sexual, com a chamada “Novembro não teve eleições, mas tem o nosso aniversário. Estamos na suruba”. A ilustração é do jornalista, cartunista e ilustrador Edson Ricardo.

A capa faz uma alusão à suruba que vivia a política brasileira com o troca-troca partidário e o cancelamento das eleições municipais e para governador, previstas para aquele ano. O gesto acabou dando publicidade e ajudando a divulgar o jornal, que tornou-se mais conhecido por obra e censura dos vereadores.

Foi o que também ocorreu com a Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. A exposição ficaria restrita ao público de Porto Alegre que visitasse o Santander Cultural. Com a campanha conservadora do MBL, tornou-se conhecida em todo o país e até no exterior.

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