Bolsonaro, generais e governo do DF estimularam terrorismo; governo foi mole

Foto: Gabriela Biló/
Folhapress

Três Poderes pareciam barata tonta, polícia e Exército largaram a capital; Lula tomou a decisão certa

Por João Gabriel

Folha de S.Paulo – Os terroristas da camisa amarela passeavam à vontade pelo Palácio do Planalto às 16h. Tiravam fotos diante do gabinete do presidente, riam, quebravam coisas. Depredavam também o Supremo, arrombaram armários de ministros e roubavam as togas. Invadiram o plenário do Senado, ao menos. Pichavam paredes. Era mistura de anarquia com o terrorismo bolsonarista.

Às 17h53, Luiz Inácio Lula da Silva tomou a atitude devida: intervenção no Distrito Federal. Chamou os fascistas de fascistas e prometeu investigação e punição, inclusive para os omissos do seu próprio governo.

Militantes picham ‘perdeu, mané’ no STF, neste domingo (08) (Foto: João Gabriel0

Era o mínimo. Não havia governo, não havia ordem. Brasília era terra sem lei. Sem polícia, a horda destruíra a Praça dos Três Poderes. Onde estava o Exército? Para que serve o Batalhão da Guarda Presidencial? Para fazer figuração com fantasia. As autoridades cúmplices, no mínimo por negligência, devem ser processadas.

As autoridades do novo governo, do Congresso e do Supremo pareceram perdidas, por horas. Ninguém aparecia em público para dizer que havia autoridade e governo. O comando dos Três Poderes parecia barata tonta. No final da tarde, o Congresso ainda apenas discutia a criação de um “gabinete de crise”.

Os responsáveis imediatos pela facilitação da baderna subversiva são Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal, e seu chefe de polícia, Anderson Torres, ministro da Justiça do governo golpista de Jair Bolsonaro. Ibaneis demitiu Torres depois que a imundície estava derramada. De resto, onde estavam as polícias federais? Ninguém notou que caravanas com milhares de subversivos estavam a caminho da capital da República? E o Gabinete de Segurança Institucional? É uma piada.

Apenas por volta das 16h30 chegavam policiais de choque e cavalaria ao centro da baderna. Por volta das 17h, havia notícias vagas de que apareceria a Força Nacional, uma centena e meia de tropas, de que polícias começaram a tirar a horda da praça e de que havia sido retomado o controle da sede do STF.

Pelas imagens, os terroristas eram retirados das sedes do poder federal, mas não eram presos. Era como se apenas tivessem pisado na grama. Apreenderam pelo menos os ônibus e seus responsáveis? É cadeia fácil para milhares.

Pouco antes do tumulto, policiais do DF batiam papo e tiravam fotos com gente da horda. Muitos dos bandidos golpistas saíram do acampamento terrorista diante do Quartel-General do Exército para fazer incursões contra os Três Poderes, escoltados PELA POLÍCIA. Outros comemoravam a baderna criminosa com fogos de artifício e atiravam coisas contra carros da polícia. Logo depois, policiais seriam espancados pelos terroristas bolsonaristas.

Forças de Segurança de Brasília reprimem invasores golpistas (Foto: Adriano Machado/Reuters)

Ibaneis Rocha e seu chefe de polícia bolsonarista entregaram o centro do poder federal à horda criminosa; o governador chamou os bandidos de “manifestantes”. É o principal responsável.

Muito problemática, pelo menos por ingenuidade intolerável em alguém em sua posição, foi a posição de Flavio Dino, ministro da Justiça de Lula da Silva. Se não tinha condições de garantir a segurança na invasão anunciada de Brasília, deveria ter colocado um dedo no olho e outro no nariz de Ibaneis: se houvesse baderna terrorista, a culpa seria do governador no mínimo negligente do DF. Não o fez. Além do mais, deveria ter um “plano B”. Se tinha, obviamente não funcionou.

Mais grave, por quase cumplicidade, há José Múcio, ministro da Defesa, que em sua posse chamou a reunião de bandos golpistas diante de quartéis de “manifestações democráticas”, nas quais tinha amigos e parentes, como ele mesmo contou.

A polícia do DF e Ibaneis já haviam demonstrado que tipo de gente são quando reagiram de modo mole e inepto à tentativa de invasão da Polícia Federal no dia 12 de dezembro, da diplomação de Lula. Continuaram moles, para dizer o mínimo, mesmo depois que se constatou que as milícias bolsonaristas tentavam ataques terroristas, como o dia 24 de dezembro, nas proximidades do aeroporto de Brasília.

É preciso passar um pente fino nessa polícia, investigar os negligentes, coniventes, processá-los e expulsá-los.

A obra, no seu conjunto, porém, é de Bolsonaro, seus generais da reserva e da ativa, parte das Forças Armadas, o procurador-geral, Augusto Aras, leniente com a escalada golpista incentivada pelo ex-governo de trevas, e empresários que financiam comícios e aglomerações golpistas faz anos.

Para começar, Bolsonaro e seus cúmplices imediatos, Alberto Heleno e Braga Netto, devem ser processados por incitações, campanhas e atos que culminaram nessa onda de terrorismo.

As Forças Armadas, de resto, o Exército em particular, toleraram, pelo menos, o ajuntamento de golpistas e terroristas em torno de seus muros. Era previsível. Ao menos desde 2018, atropelam a Constituição com discursos entre inconstitucionais e golpistas.

Agora, é preciso dar um basta. É preciso investigar, processar e julgar todos os promotores da subversão, nas polícias, nos governos, na procuradora-geral e nas Forças Armadas. Sem anistia.

 

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *