No domingo da posse de Lula, a Câmara de Itabira pela segunda vez empossa um lulista na presidência, o vereador Heraldo Rodrigues
Correção: Heraldo Noronha é o segundo lulista a presidir a Câmara. A primeira lulista na presidência do legislativo itabirano foi a ex-vereadora Maria José Pandolfi, quando ainda era filiada ao PT, no biênio 1999-2000.
Por Carlos Cruz
Embora ele esteja filiado ao MDB, já que o PT há anos não mais conta com uma sólida estrutura partidária no município de Itabira, o vereador Heraldo Noronha Rodrigues manifestou, desde o primeiro turno das eleições do ano passado, o seu apoio à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sendo assim, Heraldo Noronha passa para a história política de Itabira como o segundo lulista a presidir o legislativo da cidade, que já teve o farmacêutico Trajano Procópio, e fundador do histórico Gynásio Sul-Americano, ocupando a mesma cadeira. A primeira lulista a presidir a Câmara de Itabira foi a ex-vereadora Maria José Pandolfi, quando ainda era filiada ao PT, no biênio 1999-2000.
Foi quando Itabira descobriu, com Trajano Procópio, que faz parte do Nordeste mineiro, configurando-se como sendo o seu portal – e que como tal deveria exercer a sua forte liderança regional, como ficou definido no primeiro Congresso das Municipalidades do Nordeste de Minas, realizado em 23 de setembro de 1927, sob a sua presidência.
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No seu discurso de posse, Noronha mesmo sem saber desse congresso, destacou a necessidade de forjar essa liderança regional, muitas subestimada. “Somos vereadores de uma das mais importantes Câmaras Municipais da região”, acentuou. Essa liderança política regional, entretanto, até então não passa de um lampejo, tendo-se até então se revelada pífia.
Com a nova conjuntura política nacional, sob a hegemonia de um novo bloco histórico liderado pelo presidente Lula, é hora de retornar essa ideia de Itabira se voltar politicamente para o Nordeste mineiro, ampliando sua influência política regional.
No início dos anos 1980, no governo de José Maurício Silva (1983-88), quando se discutia a qual microrregional Itabira deveria ser filiada, se da Associação dos Municípios Microrregionais do Médio Espinhaço (AMME), ou se da Associação dos Municípios Microrregionais do Médio Rio Piracicaba (AMEPI), defendi no jornal O Cometa que a melhor opção política deveria ser pela primeira.
De nada valeu a minha opinião, como tantas outras.
Itabira se filiou à AMEPI, sob o forte argumento econômico-financeiro de que, filiando-se à primeira, teria que “bancar” os pequenos municípios da AMME, quando ainda Conceição do Mato Dentro, que a lidera, não tinha a pujança econômica e política que hoje desfruta na região – e em Minas Gerais – sem falar no vanguardismo cultural que exerce em vários segmentos.
Convergência na divergência
O prefeito Marco Antônio Lage (PSB) não foi à posse de Noronha, mas isso não se deu pelo fato de o novo presidente da Câmara ter feito até aqui forte oposição ao seu governo, embora ele se autodeclare como vereador independente.
Marco Antônio Lage foi à posse do governador Romeu Zema (ainda no Novo), em Belo Horizonte. Ele, juntamente com Noronha, foram os políticos itabiranos que apoiaram a candidatura de Lula.
Ponto em comum, isso pode fazer alguma diferença. O vice-prefeito Marco Antônio Gomes (PL), que representou o executivo itabirano na posse na nova mesa-diretora da Câmara, disse que é hora de conciliação na política municipal.
É para que todos possam “propugnar pelo progresso de Itabira”, como defende o decano jornalista Feliciano Brugnara, do jornal O Passarela, o mais longevo de Itabira.
Para que essa convergência aconteça, o vice-prefeito, leitor e apoiador do ex-presidente, disse que o país vive um momento histórico – e que é preciso conciliar os contrários para se seguir em frente, desejando sucesso ao novo presidente.
“Nada melhor que se apegar a simbologia do recomeço para consolidar o que já foi construído até aqui e voltar os olhares para o futuro, quando teremos um ano muito movimentado”, adiantou o vice-prefeito, ao mencionar os inúmeros projetos de resultados imediatos e estruturantes que serão enviados à Câmara para apreciação e votação dos vereadores.
Segundo ele, é possível ter convergências mesmo nas divergências. E que assim tem sido o relacionamento do executivo com o legislativo itabirano.
“A Câmara é nossa parceira nessa empreitada, ao aprovar a moeda Facilita, que garante renda mensal às famílias em situação de extrema pobreza, como ao autorizar baixar (a tarifa) das passagens de ônibus, na aprovação dos projetos de inclusão racial e na adesão ao consórcio médico para garantir atendimento à saúde adequada às famílias itabiranas”, enumerou o vice-prefeito
Gomes citou o líder sul-africano Nelson Mandela (1918-2013), que disse ser a democracia uma concha vazia sem educação, com gente passando fome e sem saúde. “É essa afirmação que deve dar o tom exato dos desafios que temos em nossas mãos”, propôs o vice-prefeito aos vereadores.
“Itabira embora seja uma cidade rica, com orçamento pujante e economia aquecida, é profundamente marcada pela desigualdade social”, acrescentou.
“Ainda há muita gente com conchas vazias e que espera muito de nós, para que sejam solucionados os seus problemas mais urgentes. Temos trabalhado para atacar esses problemas e precisamos do apoio dos senhores para construir uma cidade mais justa para todos”, acrescentou.
Independência crítica
Foi também com esse tom de conciliação que Heraldo Noronha assume pela segunda vez a presidência do legislativo itabirano. “O presente momento se reveste de grande significado”, concordou o novo presidente da Câmara com o vice-prefeito.
“Teremos uma gestão intensa e de cooperação com os demais poderes, em especial com o executivo itabirano, mas com a independência necessária para fiscalizar e construir o melhor para o nosso município”, é o que ele propõe.
Isso ele colocou como premissa para o entendimento e o avanço das conquistas necessárias para melhorar a qualidade de vida e os serviços prestados à população pelo executivo municipal.
“Prometo exercer o cargo com altivez e honradez, à altura daquilo que a sociedade espera e que o Estado Democrático de Direito exige”, fez questão de frisar.
“A proximidade do vereador com o povo é essencial para perceber as demandas da sociedade, razão pela qual se faz necessário um diálogo maior entre executivo e legislativo, independentemente do posicionamento político assumido por qualquer um de nós”, defendeu.
Retrato da democracia
A vereadora Rosilene Felix (MDB), que é da bancada oposicionista, embora tenha reiterado que a Câmara não será mais um “puxadinho” da Prefeitura, falando em nome dos vereadores, manteve o tom com viés conciliador, porém sem abrir mão da crítica e da discordância.
“A gente é o retrato da democracia e a demonstração de que com inteligência conseguimos unir lados que supostamente são opostos. Nós temos aqui (na composição da nova mesa diretora da Câmara Municipal) vereadores da base e da oposição”, exemplificou.
E citou os nomes dos vereadores Júlio César “Contador” de Araújo (PTB) e Sebastião Ferreira Leite (Patriota), ambos da base situacionista, compondo a mesma chapa vencedora para dirigir a Câmara no próximo biênio 2023-24 com os oposicionistas Luciano “Sobrinho” Gonçalves (MDB) e o próprio Heraldo Noronha, que correu por fora na disputa e ficou com a presidência.
“O melhor discurso nem sempre faz a melhor articulação. Muitas vezes a melhor articulação é feita com simplicidade e está agora sentada na presidência desta Casa. Esta mesa dividida entre situação e oposição demonstra o equilíbrio e a nossa vontade e empenho para que Itabira dê certo”, entusiasmou-se.
Depois, dirigindo-se ao vice-prefeito, a vereadora acrescentou: “Doutor Marco Antônio, uma pessoa que tanto estimo, quero pedir ao senhor que leve ao prefeito Marco Antonio Lage que temos muito respeito pela sua gestão. E o que fazemos aqui é buscar caminhos para que as melhores soluções sejam encontradas”, enfatizou.
“Em momento algum há nada de pessoal em nossas críticas. O que queremos é que Itabira desenvolva e que os trabalhos sejam feitos com seriedade e que o dinheiro público seja gasto com responsabilidade”, finalizou.
Críticas e debate
O ex-presidente Weverton “Vetão” Andrade (PSB), depois de fazer balanço de sua gestão com a realização de concurso público e ampla reforma do prédio da Câmara, além do respeito às vozes divergentes ao governo que ele apoia, bateu também na tecla da conciliação.
Ele acredita que, com liberdade de crítica, é possível avançar com as políticas públicas e projetos estruturantes que serão apresentados neste ano pelo executivo itabirano.
“Desejo à nova mesa-diretora sucesso e muito trabalho, juntamente com os demais vereadores, para solucionar com o executivo itabirano as demandas de Itabira”, assim ele felicitou os novos vereadores empossados na direção da Casa Legislativa.
“A população precisa da crítica e do debate, que não deve ser a ferro e fogo e partir para a briga pessoal. A população precisa também do equilíbrio, da convergência para o bem-comum. Interesses partidários de grupos não podem prevalecer. O nosso compromisso é trazer benfeitorias e mudar a realidade da nossa população”, propugnou.
“Eu espero que o legislativo prossiga dessa forma, esperando que o governo Marco Antônio Lage tenha excelência (na administração pública). Tenho certeza de que os vereadores não se omitirão de maneira alguma, para que as pautas positivas do governo possam ser aprovadas”, defendeu o ex-presidente do legislativo itabirano.