Mineração: a longa cauda da expropriação de terras
Congo-Seco. As Minas Gerais; folha do diário de viagem de Ernst Hasenclever,1839.10
Pesquisa: Cristina Silveira
1831 Simples pensamentos de um mineiro da Itabira de Matto-dentro
Correspondências. Sr. redator do Universal. Quando se trata de reformas, é necessário nada omitir daquilo que pode tornar uma lei mais suave e inteligível. Qual a foi nossa surpresa, quando vimos o projeto que oferece a sabia Comissão ao Conselho Geral para o melhoramento da mineração, o principal ramo da nossa indústria!
Não é, sr. redator, tanto pela sublimidade dos mistérios, como pela simplificação dos preceitos, que o Divino Fundador da Lei da Graça a fez muito superior à lei escrita, impondo-nos um jugo doce e suave; quando com um só preceito faz a redução de todo o Decálogo e das esmiuçadas práticas, que de mistura com a Lei Divina promulgou o legislador de Israel.
O supracitado projeto, longe da redução dos artigos e parágrafos do Regimento antigo; ele ainda os multiplica, confunde e dificulta as aquisições, cria Tribunais inúteis, com esgoto do Tesouro Nacional, em benefício só dos Empregados.
Sr. redator, antes se anulem as atribuições do Guarda Mor Geral, orbita, que com os seus comissários, tanto nos longes, como ainda ao perto nutre atualmente inumeráveis injustiças.
Passem as mesmas aos juízes de paz de cada distrito, magistrados constituídos pela livre opinião dos povos, precioso presente do céu, que com a Constituição baixou a felicitar aos filhos da terra da Santa Cruz. Seja este o Julgamento em primeira instância dos mineiros em suas dúvidas, com recurso para o tribunal competente e desafogo das partes.
Sejam abolidas as Intendências todas, ou as que sem utilidade pesam a Nação. Haja na Província aurífera Casa de Moeda, para com ela facilitar o círculo monetário, que com o enorme peso de cobre tanto acanha, e desgosta aos seus habitantes. Preste o governo por via dos periódicos aos mineiros os novos descobrimentos de máquinas, que diminuam a mão a obra aos atuais empregados nesse exercício.
Todo o cidadão tem direito de interpor os seus pensamentos nos negócios da sua província; e com quantos motivos não é impelido a fazê-lo em os da sua profissão? Queira, sr. redator, dar lugar em sua estimável folha aos simples pensamentos de Um Mineiro da Itabira de Matto-dentro. [O Universal (MG), 4/1/1831. BN-Rio]
1864 Anúncio I
Lavra na cidade de Itabira em Minas. Os antigos proprietários da rica lavra situada na freguesia desta cidade, denominada Sant’Anna, deixando de a vender por 400:000$, a uma companhia que há anos pretendia explorá-la; deixaram, repito, de aceitar esta oferta porque tinham pleno conhecimento da imensa riqueza que encerra o terreno que ocupa a dita lavra.
Hoje, porém, que alguns sócios tem visto baldados seus intentos, pela falta de união que tem havido entre si, desejam dispor dessa lavra, e não duvidam vende-la, mesmo pela metade daquela quantia.
Reúne esta lavra à sua riqueza as vantagens seguintes: muito boa aguada, três engenhos para soque de areia e pedras, casas sofríveis para morada, ditas para trabalhadores, matas com boas madeiras, bem como tudo que se exige para um importante estabelecimento de mineração.
Atualmente existe uma linha riquíssima e que por falta de um fácil esgoto tem-se deixado de tirar muito ouro. Além desta linha existente muitas minas, que apresentam muito boa areia e pedras cravadas de ouro, e tudo isto jaz intacto pelo motivo referido, isto é, falta de união dos sócios.
Pelo exposto vê-se que é obrigatória a venda, não por defeito da lavra, e para que chegue nossa pretensão ao conhecimento de todos, o abaixo assinado como um dos sócios, faz este anuncio chamando a atenção de qualquer companhia que queira ter um rico futuro. Itabira, 6 de novembro de 1863. Cassimiro Carlos da Cunha Andrade. [Jornal do Comércio, 12/1/1864. BN-Rio]
1864 Anúncio II
Vende-se a grande e rica lavra denominada Sant’Anna, na serra da Itabira, lavra esta pela qual já se rejeitou 400.000$ do capitão inglês Cotesnerth, e hoje se vende pela quarta parte do que já se rejeitou, só por terem falecido os antigos proprietários e estarem alguns de seus representantes em estado de ruina.
Esta lavra é bem conhecida dos melhores mineiros da Inglaterra; sua formação é de jacutinga, com água por cima e altura para esgoto de centenas de pés, própria para uma companhia estrangeira ou brasileira. Quem a pretender dirija se a esta cidade para de novo examiná-la e contratar com os seus proprietários. Cidade de Itabira, 20 de março de 1861. Um dos sócios, Francisco de Paula Andrade. [Jornal do Commercio, 8/4/1864. BN-Rio]
1874 Anúncio III
Vende-se Minas. Propriedade de mineração. Jobs Moore e C., recebeu propostas para a compra das seguintes: Sant’Anna, Itabira, Conceição em Itabira; Morro de S. Vicente e Morro das Almas no Ouro Preto, província de Minas, com todos os melhoramentos nelas existentes. Rua da Candelária, 8. [Jornal do Comércio, 27/9/1874. BN-Rio]
1874 Anúncio IV
Aviso. General Brazilian Mining Company Limited. Grande leilão das propriedades de mineração na província de Minas Gerais. Previne-se aos srs. capitalistas que no mês de dezembro próximo futuro serão vendidas em hasta pública (si o não forem antes particularmente), todas as propriedades de mineração desta companhia, sitas na província de Minas Gerais (Brazil) com casas, ranchos, ferramentas, maquinas, plantações, gado e todos os implementos e melhoramentos destas propriedades ou pertencentes às mesmas.
As propriedades de mineração são três, denominadas: Sant’Anna, Itabira [Serra do Cauê], Conceição, podendo ser trabalhadas cada uma de per si. Todas as três propriedades têm sido consideravelmente lavradas e são conhecidas por terem produzido quantidades de ouro.
Além destas três propriedades de mineração, tem uma casa na cidade de Itabira, que se vende englobadamente com estas propriedades ou separadamente.
Propostas para a compra de toda ou qualquer parte das mesmas podem ser dirigidas aos srs. John Moore & C., Rio de Janeiro, ou ao sr. Capitão Davey, nas propriedades, em Itabira do Matto Dentro (Minas Gerais) que fornecerão quaisquer informações. [Diário de Minas, 1/10/1874. BN-Rio]
1874 Anúncio V
GRANDE LEILÃO das propriedades de mineração pertencentes à companhia GENERAL BRAZILIAN MINING. Situada na província de Minas Gerais, Itabira do Matto Dentro, denominadas SANT’ANNA, ITABIRA, CONCEIÇÃO com todos os melhoramentos, pertenças e materiais, inclusive uma casa de morada na cidade de Itabira, tudo no dia 15 de dezembro de 1874, às 11 horas da manhã. Na fazenda de Sant’Anna. [Jornal do Comércio (RJ), 11/10/1874. BN-Rio]
1874 Anúncio VI
GRANDE LEILÃO de propriedades de mineração da Companhia General Brazilian Mining Limited, situadas em Itabira do Matto Dentro, na província de Minas Gerais, constando das fazendas de SANT’ANNA, ITABIRA, CONCEIÇÃO e uma magnifica casa de morada na cidade de Itabira, para pessoa de tratamento.
As duas primeiras propriedades são contiguas, ambas ricas em veias auríferas e prometedoras de grandes riquezas, com importantes obras de arte, casas, matas e pastos; a de Conceição é uma propriedade rica em ouro, cujas jazidas já foram em parte trabalhadas com resultado, carecendo de obras para continuar com sucesso, tem grande abundância d’água, matos e pastos. O leilão terá lugar na fazenda de Sant’Anna, no dia 15 de dezembro de 1874, às 11 horas da manhã. [Jornal do Comércio, RJ, 29/11/1874. BN-Rio]
1875 Anúncio VII
Lavras de Itabira. A Companhia Itabirana, composta dos mesmos sócios, com algumas mais pessoas que de novo entraram na compra das Lavras dos Ingleses, acha-se extraindo com alguma abundância ouro presentemente na serra de Santa Anna, pesando três mil oitavas, carombés de formação de 40 e 60 oitavas, uma folheta de 42 oitavas, de sorte que já tem crescido extraordinariamente o preço das ações, notando-se que ainda não se chegou no esperançoso lugar do fundão, onde existe a grande riqueza.
Quanto as do Cauê na serra da Itabira vai dando em pequena escala, se bem que já se tenha descoberto boas formações, porém a falta d’água nesta grande seca torna-se custoso a boa ordem do serviço, sendo que estas são na opinião de todos as mais ricas que a mesma de Santa Anna; o intuito de fazer isto público tem o fim de arredar dos proprietários que venderam estas lavras aos ingleses, as propagações de lavras sem ouro. J.A.B. [Diário de Minas, 6/11/1875. BN-Rio]
1874 O sudito inglês e os colonos europeus
Secretaria da Presidência. Expediente do mês de setembro de 1874. Ao ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas: “Tenho a honra de devolver a V. Exc. o incluso requerimento em que o sudito inglês, Pearson Morrison pede permissão para extrair minerais nos municípios do Ouro Preto, Mariana, Santa Barbara, Caeté e Itabira, e bem assim para introduzir nesta provincia vinte mil colonos europeus.
Informado a este respeito, como me foi recomendado em aviso n. 200, de 13/2 p. passado, cumpre-me declarar a V. Exe. que, em vista das informações juntas, prestadas pelas câmaras municipais respectivas, a concessão deve limitar-se aos municípios de Caeté, Itabira, excetuando-se a extração de ouro e ferro no primeiro deste, e respeitando-se os direitos adquiridos pelos particulares.
Quanto, porém, à introdução dos vinte mil colonos europeus, será de muita vantagem para esta província que seja ela levada a efeito, visto como os braços escravos tendem a desaparecer, já por efeito da lei n. 2040, de 28/9/1871, e já pelos atos de filantropia, que frequentemente se dão. [Diário de Minas, 5/12/1874. BN-Rio]
1875 Aluga-se trabalhadores
Anúncio. Trabalhadores de minas. A Sociedade de Mineração da “Itabira” aluga trabalhadores livre ou escravos de 1ª. e 2ª. classe, pagando até 1$000 800 reis diários, a seco; e sustentados, com dedução de 300 reis diários.
Os que adoecerem, podendo, irão tratar-se em suas casas; no caso contrário, ou sendo passageira a enfermidade, serão tratados pela Sociedade, que cobrará as despesas de médico e medicamentos.
Nos casos, porém, de enfermidade por desastres em razão de serviço, será o curativo por conta, e no estabelecimento da Sociedade, sem desconto pelas falhas. Contrata-se com o capitão Lucio José da Circumcisão Ottoni na cidade de Itabira, à rua de Santa Anna. [Diário de Minas, 9/1/1875. BN-Rio]
1875 Quando as mãos peludas entram no galinheiro
Estudos mineralógicos. O sr. Professor Henri Gorceix, encarregado pelo Ministério dos Negócios do Império de examinar nesta província qual a localidade mais própria para o estabelecimento de uma escola de minas, já se acha entre nós, e bem assim os alunos da escola politécnica, Costa Abreu e Van Erven, designados para acompanha-los nesta viagem de estudos.
Consta-nos que o ilustre professor se demorará nesta capital por alguns dias, e seguirá depois a percorrer os municípios de Itabira, Santa Barbara, Sabará, Serro, Diamantina e outros. Pela presidência já foram expedidas as necessárias ordens, afim de serem prestadas ao sr. Gorceix os auxílios e esclarecimentos de que venha precisar para desempenho de sua missão. [Diário de Minas, 28/1/1875. BN-Rio]
1893 A Poesia de H. Pito
Já temos tido engenheiros /Por cinco vezes aqui; /Cervejas, frangos, dinheiros… /Ponhamos pingo no i. /Qual tem sido o resultado, /Ninguém dizer é capaz: /Eleger-se um deputado, /E a estrada seguir… pra traz. /Mas tudo muda-se um dia; /Já cremos a estrada vem; /O que duzentos valia /Vendem agora por cem. H. Pito [A Itabira (Itabira), 13/8/1893. BN-Rio]
1894 Valor das jazidas metalíferas no Brasil
por Francisco de Paula Oliveira, engenheiro
Em 6 de agosto de 1869 a The General Brasilian Company (Limited) com o capital de Lb. 150.000 comprou as propriedades de Itabira (Cauê), Sant’Anna e Conceição com terras, águas e datas minerais por 800:000$ ou 80.000 Lb. Ao cambio de 24. A companhia requereu mais a concessão dos terrenos devolutos ou abandonados dos arredores de sua propriedade, que lhe foi feita.
Aí foram construídos armazéns, casas, hospital, senzalas, engenhos, estradas, com o que dispendeu muito dinheiro. Mandou abrir em Itabira (Cauê) uma galeria de 600 metros e outra em Sant’Anna. Com todas estas obras o capital esgotou-se, e em 1874 a companhia liquidou.
Pessoas de Itabira compraram a propriedade com benfeitorias e formaram uma associação com o fim de explorar a mina de Itabira, sob a direção do sr. Bernardino da Costa Lage, mineiro muito prático do lugar.
“Os trabalhos aí deixados pela primeira companhia exploradora só apresentam de notável um magnifico engenho de 12 mãos, pesando cada uma 90 k, movido por uma roda de calha de 6m, 10 de diâmetro.
“Este engenho, que custou à primeira companhia 21:000$000, foi, juntamente com a lavra, vendido à sociedade brasileira por 1:800$; entretanto, me parece, que o mau êxito da primeira exploração foi devido à falta de método e de regularidade nos trabalhos.” (15)
1875 – Oitavas de ouro: 2.457 /Grãos: 58; 1876 – Oitavas de ouro: 29.011; 1877 – Oitavas de ouro: 4.080 /Grãos: 30; 1878 – Oitavas de ouro: 334 /Grãos: 63; 1879 – Oitavas de ouro: 1.282; Totais: Oitavas de ouro: 37.164 /Grãos: 10;
A maior extração foi em 1876 quando parece estavam na Jacutinga. Estas 37.164 oitavas de ouro importaram em cerca de 162:601$250, dos quais, nos dois primeiros anos, já tinham tirado perto de 60:000$000 livres de despesas.” (16)
Em 1877 faleceu o sr. Lage e com ele terminou a exploração da lavra. A mineração profunda foi abandonada, a empresa desanimou, o poço aluio e afinal em 1880 a associação terminou os trabalhos.
A mineração de Itabira estava ligada à atividade de um homem. Não era o capital que faltava; a mina provou que era rica, pois com pequeno dispêndio tiraram grandes benefícios.
Existe no riacho Borrachudo, no reservatório da Conceição e em outros pequenos ribeirões força motriz para todas as maquinas de extração e tratamento mecânico; as galerias de esgoto e extração, começadas pelo sr. Lage, ainda se acham em bom estado, mas falta a direção, falta de homem de trabalho e inteligência, falta um outro sr. Lage, para arrancar das entranhas da terra as riquezas que ainda lá estão. [Revista Industrial de MG, 15/1/1894. BN-Rio]
1899 Diamantes do cel. Francisco Candido de Oliveira
Noticiam de Minas Gerais que foram descobertas recentemente ricas lavras de diamantes no município de Itabira do Matto Dentro, em terras de propriedade do cel. Francisco Candido de Oliveira. [Correio Paulistano (SP), 5/8/1899. BN-Rio]
1941 Grafite na Água Santa
Economia e Finanças. A exploração de grafite no Brasil. Usa-se a grafite na fabricação de cadinhos e eletrodos, lápis, pilhas secas, lubrificantes, em fundição e em outras aplicações, utilidades que emprestam àquele mineral tal importância que figura entre os considerados estratégicos.
Comunicação do dr. Luciano Jacques de Moraes ao ministério da Agricultura dá conta da existência de depósitos de grafite nos estados do Rio de Janeiro, Minas, S. Paulo, Bahia, Paraíba do Norte e Ceará.
Das jazidas de Minas, as mais importantes são as de Emparedado, na zona do Jequitinhonha, as de Itabira e outros municípios de Fortaleza e Itamarandiba, além de Mariana e outros distritos de mineração do estado.
Exportou-se grafite de Itabira, do lugar Água Santa, para alguns centros industriais do Estado e para a cidade de S. Paulo. [Gazeta de Notícias, RJ 11/5/1941. BN-Rio]
1949 O Minério de Itabira para colonizadores
Itabira do Mato Dentro, como tantas outras cidades coloniais brasileiras, vivia das recordações do passado. Dormia à sombra de uma montanha de ferro – o Cauê – no mais saudável dos climas e dentro da mais graciosa das paisagens.
Sonhava, talvez, com as pompas esplendidas de um Brasil grandioso, um Brasil celeiro do mundo. E, para a realização desse sonho – por que não? – daria tudo o que possuísse, abriria o seu solo borbulhando de riquezas, ofereceria mesmo aquela montanha de ferro.
A modesta cidadezinha ficara parada, como que a recordar um instante da civilização de cem anos atrás.
Passaram-se os tempos e hoje tudo mudou. A antiga Itabira já vê elevar-se ao seu lado uma nova e futurosa cidade.
Seus quatro mil habitantes de há pouco são hoje mais de vinte mil. São construções arrojadas que se erguem, em contraste com as antigas residências patriarcais. É a vida que renasce, agora talhada a ser testemunha de uma obra ciclópica que há de viver a vida dos séculos.
E foi aquela montanha de ferro, verdadeira sentinela, que lhe trouxe um tão surpreendente surto de progresso.
Em 1910, Estocolmo assistia a um congresso de técnicos das ações de maior desenvolvimento industrial, sob os auspícios do presidente Teodoro Roosevelt.
Essas nações temiam a carência de ferro para as suas forjas. Viam que, caso se realizasse a ameaça, estaria terminada a longa era de ferro na marcha da humanidade.
Saíram, então, pelo mundo, os chamados “caçadores de jazidas”. Foi a esse tempo que se revelou a importância das jazidas do Rio Doce, principalmente de Itabira. O mundo respirou e o Brasil garantiu a era do ferro ainda por centenas de anos.
Trinta anos ainda se passaram e a pequena Itabira do Mato Dentro continuou dormindo, embora mais tranquila por verificar que a haviam reencontrado, afinal.
Em 1942, a exportação de minério ainda era feita em escala mínima. Não se podia dizer que havia, realmente, uma mineração, tomando-se em conta o volume das jazidas.
Hoje, entretanto, a situação está bem melhorada pois a Cia Vale do Rio Doce, que explora o Cauê, já exporta anualmente, cerca de 600.000 toneladas de minério de ferro.
E isso ainda é apenas o primeiro passo numa escala que assombrará o mundo. Dentro de pouco tempo, com a conclusão da montagem das grandes instalações e dos meios de transportes, teremos a fase definitiva da mineração. A exportação será muito maior que a de hoje.
Soou a hora de despertar! Está aí o milagre a que deram origem a iniciativa, a decisão e o esforço de algumas dezenas de brasileiros. O homem resolveu conquistar a própria terra e mobilizar as suas imensas riquezas.
É a Nova Era do Ferro, que vem afinal para o Brasil, como se fosse um fenômeno histórico, as portas risonhas de um grande porvir.
Temos ferro para alimentar todas as usinas metalúrgicas do mundo, por centenas de anos, e o estávamos guardando avaramente no cobre escuro de nossas montanhas. Hoje ele começa a sair aos borbotões, do seio da terra-mãe, como se brotasse fecundamente para vestir a mais soberba, a mais florida de todas as primaveras.
Assim, a época que marcou o verdadeiro início da exportação de minério, serviu também de referência para o ressurgimento de uma cidade esquecida, quase abandonada na morte inevitável.
Itabira, hoje, não vive mais das recordações do passado. Clama a todo mundo, em altos brados, que ali no seu ventre vive e palpita a riqueza que há de ser uma das alavancas do progresso do Brasil.
No momento que passa, Itabira é como que o “quilometro zero” de onde parte, luminosamente, rumo ao porto atlântico de Vitória e rumo ao mundo, o ideal glorioso de uma grande Pátria.
Vasco de Castro Lima. [Gazeta de Notícias, 9/9/1949. BN-Rio]
está série histórica, pesquisada pela grande Cristina Silveira e publicada por esta Vila de Utopia, é não só pra ler e mudar de assunto.
é para conhecer mais, entender, compreender e abrir os olhos críticos da história do Matto-Dentro, especialmente Itabira, por ser a primeira grande cidade minerada do Brasil.
e também porque é exemplo do que é e foi e do que poderia ter sido. tanto na mineração em terras itabiranas como as demais que vieram em sequência
clap clap clap
Marcelo querido, depois da CVRD itabira caiu em mãos de pedradores gringos, embora o servico sujo seja feito por brucutus brasileiros – os homens sem espírito….
Marcelonetoepaide trajanos, obrigada pelo reconhecimento das transcrições da BN-Rio que publico na Vila. Mas tem audiência mínima. O passado não interessa a maioria.
Parabéns, Cristina pela sua veia de jornalista investigativa. A história, embora inascessivel a muitos, interessa pelo seu conteudo elucidador das brumas do tempo. Muito boa matéria!.
abração,
Nandim
Fernando, você gostar da coletânea é melhor do que o Carlos, você é geoligo e sente o cheiro de pedra e até, talvez, fale com elas. Afinal você é o autor da nais bela foto de itabira: rejeito ao luar. Obrigada pela atenção
Olá, Cristina da Procopada Lage e Marcelo Lage da Procopada.
A história da grande mineração de ouro em Itabira começou por volta de 1780 e aí foi criada a Sociedade Velha de Mineração, a qual, por volta de 1832, o Sr. Lage, o conhecido Major Lage, juntamente com seu tio materno João Francisco de Andrade, possuidores da maioria das ações, declarou que vendeu essa sociedade que explorava o outro em Itabiruçu, hoje conhecida como mina da Conceição, aos ingleses por considerar já inviável.
Com o falecimento do tio materno, o Major Lage e seu genro mais velho Cassemiro Carlos da Cunha Andrade, também o genro Guarda-mor Custódio (Custódio Martins da Costa) e os antigos sócios fundaram a Sociedade Nova de Mineração, que compreendia as minas do Córrego Seco, da Camarinha, hoje conhecida como minas do Meio, e a do Campestre, hoje conhecida como mina do Cauê.
Depois, o Major Lage, pelo que consta nos textos acima, fundou a Sociedade de Mineração do Santana e tendo como sócio preferenciais os seus genros e irmãos Cassemiro Carlos da Cunha Andrade e Francisco de Paula Andrade.
Com o passar dos muitos anos, venderam a Sociedade de Mineração do Santana e preservaram a Sociedade Nova de Mineração, pois era essa a grande jazida de Itabira.
Após o falecimento do Major Lage em 1857, a Sociedade Nova de Mineração ficou como maior acionista o genro dele Cassemiro Carlos da Cunha Andrade, o qual foi administrando a empresa e após o seu falecimento em 1872, os filhos e sócios, os cunhados, resolveram associarem-se aos ingleses e fundar a Sociedade Anônima Itabira Iron Mineração.
Conforme consta no testamento de Bernardino da Costa Lage, penúltimo filho do Major Lage, o mesmo deixou tantas mil ações da Mineração Itabira.
Também consta no inventário do neto do Major Lage, João Carlos de Andrade, de 1900, tantas mil ações da Mineração Itabira.
Como podem ver ou perceber, as riquíssimas minas do Meio e do Cauê não foram vendidas e, sim, apropriadas pelos ingleses no passar de muitas décadas e em 1942 pelo governo brasileiro. Agora são espoliadas novamente por gringos que nem sabem onde fica Itabira do Mato Dentro.
Triste, muito triste!