Outubro Itabirano. Crônica da Itabira do Matto-dentro Imperial – 1864 – O Conservador Veritas

Capela do Ribeirão São José, Itabira. Do livro, A identidade do espaço rural itabirano: percursos novos em caminhos antigos, de Santos de Souza Guerra e Myriam Becho Mota

Pesquisa: Cristina Silveira

Publicações a pedido. Itabira – Domina ainda o governo da liga!! Conservadores distintos, que por seus atos mereceram os aplausos de uma nação sem distinção de crença, renegam hoje o seu passado, e se entregam submissos aos dominadores atuais, subscrevendo seus pedidos, manchando as cândidas vestes com que se vestiram!!

Sofrerá por acaso o nosso país sucessos, que demandem a continuação do governo atual? – Certo que não. Por acaso os amigos da ordem quererão destruir as garantias do ato adicional? Não. Como, pois, domina o programa da liga insustentável por sua origem, por suas ideias e fim!!

Dar-se-á por acaso o milagre, que de princípios heterogêneos nasça a homogeneidade? Será possível que as ideias da ordem se confundam como essas ideias, que se conhecem pelos males que causaram nos cinco anos de domínio das vacas gordas?

Ligar-se Zacharias à Ottoni, entidades tão diversas!! Zacharias, esse homem, que em pleno parlamento disse: sou, fui e serei conservador.

Como, pois, hoje essa liga da democracia com aristocracia, princípios repelentes, que trarão em seu séquito um resultado, que contrista o Império de Santa Cruz?

Hoje a democracia se encerra na obtenção de uma cadeira no senado. O apostolo da liberdade ambiciona a cadeira senatoria, procura as insígnias de príncipe, renega o seu passado, que apesar de nele se chamar pária, proscrito, lhe granjeará a estima pública por supor-se nele encarnado o desinteresse!!

O homem do povo, o sr. Ottoni, sancionou a absorção do elemento da municipalidade, origem e berço sagrado de toda liberdade, desconheceu os esforços e amizade do povo, que tanto o elevará, e rolou do alto pedestal em que o povo colocará para curvar-se às ordens do sr. Olinda, e cumprir seus pedidos!!

Capela de S. José do Macuco, em Ipoema-Itabira. Do livro, A identidade do espaço rural itabirano: percursos novos em caminhos antigos, de Santos de Souza Guerra e Myriam Becho Mota

Basta disto, vamos a Itabira.

Corre em público que inimizade com o nosso vigário fizera certo indivíduo, dantes liberalão, mudar a pele, por nele firmar-se a crença política na mudança de relações. Desde que um nosso amigo nos volta as costas, se conclui que devemos mudar de crença?

Não impere sobre a amizade de princípios; pois em nenhum dos lados merece conceito o político sem cor, e que se dobra aos acenos das circunstâncias, umas vezes propondo pactos imorais, que nos fazem subir o rubor às faces como uns que se diz oferecidos na eleição Mendonça, outros vacilando na compreensão de seus deveres.

O grande Partido Conservador quer em suas fileiras acima de tudo firmeza, quer que do seu seio não surjam a intriga, a calunia, e essas mazelas, que se dizem reais.

Capela do Carioca, em Senhora do Carmo-Itabira. Do livro, A identidade do espaço rural itabirano: percursos novos em caminhos antigos, de Santos de Souza Guerra e Myriam Becho Mota

O que sucedeu nessa cidade nas eleições? Os partidos se debateram com denodo, e empregaram por assim dizer todos os meios, mas não houve essas imoralidades, que se descrevem; pois que os conservadores deviam esperar a derrota, visto que tinha fumaças de chefe aquele que em si trazia os predicados da desordem. Sou conservador, mas conservador de princípios e da verdade, que sendo falseada cumpre que apareça.

O Veritas. 19 de dezembro de 1863. [Constitucional (MG), 16/2/1864. BN-Rio]

 

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