Justiça condena ex-militares à prisão perpétua por ‘voos da morte’ na Argentina

Durante a ditadura na Argentina, presos políticos foram postos em aviões e jogados ainda vivos ao mar

Rafael Jasovich

A Justiça argentina condenou quatro ex-militares envolvidos nos chamados “voos da morte” durante a mais recente ditadura naquele país (1976-1983).

O Tribunal Oral Federal 2, de San Martin, sentenciou à prisão perpétua o ex-comandante Santiago Omar Riveros pelos vuelos de la muerte, quando presos políticos eram embarcados em aviões e jogados, ainda vivos, ao mar.

No julgamento, o tribunal considerou provada a ocorrência desses voos, que saíam da instalação militar de Campo de Mayo, nos arredores de Buenos Aires. Era um centro clandestino de detenção conhecido como El Campito. Supervisor do local, Riveros já acumula 16 condenações.

Plano de extermínio

Foi a primeira vez que uma sentença reconhece os “voos da morte” como mecanismo de extermínio do Exército.

Em 2017, segundo o jornal espanhol El País, seu uso foi considerado provado, após a condenação de dois pilotos.

“As condenações fizeram parte, então, do veredito do maior julgamento da história da Argentina, a chamada megacausa da ESMA, com 54 indiciados pelos delitos cometidos contra 789 vítimas”. A Escola de Mecânica da Armada (Esma) foi o maior centro de tortura da ditadura argentina.

Os juízes solicitaram que sejam feitos exames médicos para determinar se três dos condenados podem cumprir a sentença em cárcere comum.

Atualmente, estão em prisão domiciliar. O tribunal determinou ainda que se aprofundem as investigações sobre quem atuou como piloto e copiloto naqueles vuelos.

Lado obscuro da história

A suspeita é de que com esse mecanismo o Exército sumiu com grande parte dos 4 mil presos que passaram por El Campito. Mas o julgamento, que começou em 2020, baseado em testemunhos de soldados.

E se concentrou em casos de quatro desaparecidos, cujos restos mortais foram encontrados na orla: Juan Carlos Rosace, Adrián Accrescinbeni, Roberto Arancibia e Rosa Eugenia Novillo Corvalán.

Sequestrados entre 1976 e 1977, eles foram torturados, drogados e jogados ao mar ou no Rio da Prata, na região entre a Argentina e o Uruguai.

“Neste julgamento foi possível conhecer publicamente um dos lados mais obscuros da história argentina”, afirmou ao jornal Página 12 Mercedes Soiza Reilly, que representou o Ministério Público.

 

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