América Latina está cada vez mais distante dos Estados Unidos

Bases militares dos norte-americanos na Colômbia podem ser desativadas com a eleição de Gustavo Petro

Rafael Jasovich*

Uma das mais antigas alianças dos Estados Unidos na América Latina está sob ameaça. A vitória de Gustavo Petro e Francia Márquez testará o relacionamento especial de Washington com Bogotá.

Bogotá e Washington cultivam uma parceria de décadas, construída em torno do combate aos cartéis de drogas, desde pelo menos 1999, quando houve o lançamento do Plano Colômbia, uma estratégia de cooperação bilateral criada para desarticular quadrilhas do narcotráfico na América Latina.

Foi quando então, sucessivos governos republicanos e democratas forneceram mais de US$ 13 bilhões (R$ 68,1 bilhões) em assistência militar e econômica à Colômbia.

O fato, entretanto, é que a eleição de Gustavo Petro e sua vice, Francia Márquez, podem mudar as características dessa aliança, com repercussões importantes sobre a política externa dos Estados Unidos para a região.

Em seu discurso da vitória, no dia 19, o líder colombiano não mencionou a guerra às drogas nem uma vez. Sua única referência aos Estados Unidos foi um apelo ao diálogo para abordar conjuntamente as mudanças climáticas.

Os Estados Unidos, ao que tudo indica, perdem um parceiro estratégico na região,

EUA e Otan na berlinda

Além do Plano Colômbia (que hoje conta com 250 soldados americanos), instituído em 1999, Washington e Bogotá firmaram um tratado em 2009 que teve grande repercussão pela América Latina.

O acordo previa operações de 800 soldados em até cinco bases militares e investimentos dos Estados Unidos de US$ 5 bilhões (R$ 9,18 bilhões). Pelas diretrizes, os Estados Unidos puderam utilizar bases colombianas para patrulhar rotas aéreas e marítimas.

A relação Colômbia e Estados Unidos, sobretudo nos últimos 20 anos, tornou Bogotá o principal parceiro do Tio Sam na região em questões estratégico-militares. Isso gera laços e projetos e um legado que vai além de um processo natural de relações entre os dois Estados.

Analogamente, a presença militar de Washington na América Latina produziu impactos na geopolítica dos EUA, sobretudo nos âmbitos de defesa territorial, expansão ao sul e controle da região.

A eleição colombiana traz essa novidade, esse rearranjo. É a chamada ‘onda rosa’, que pode configurar um realinhamento.

Relação com Cuba, Venezuela e Nicarágua

Ocorrerão também mudanças na relação da Colômbia com três países latino-americanos considerados párias por Washington: Cuba, Venezuela e Nicarágua.

Em 2019 a Colômbia serviu de base para os Estados Unidos realizarem investidas contra a Venezuela e ações desse tipo são improváveis de tornar a ocorrer.

Felizmente Petro não estará isolado, pois há governos demais na América do Sul, como da própria Venezuela, Bolívia, Chile, Argentina, Peru e possivelmente Brasil, após outubro, que lhe darão apoio para as profundas mudanças que precisará promover para retirar a Colômbia desse lugar de linha de transmissão dos Estados Unidos na região.

Enquanto isso em terra tupiniquim

Pré-candidatos a governos no Nordeste e líderes históricos do MDB abandonaram a senadora Simone Tebet (MDB-MS) à própria sorte e fazem campanha aberta para outro presidenciável: o petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os emedebistas candidatos ao governo Paulo Dantas, em Alagoas; e Veneziano, na Paraíba; são alguns dos nomes que largaram a terceira via e declaram que vão dar palanque para o ex-presidente.

O ex-governador Renan Filho, que será candidato ao Senado por Alagoas, também foi outro a declarar voto abertamente.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, ativista da Anistia Internacional.

 

 

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