À memória de CDA, colunista social

Barba Azul*

Um minuto apenas

Programa

Nesta seção se falará de moda, de sentimentos que passam com ela, de atrizes bonitas de cinema, de poetas que não usam entorpecentes nem os fabricam, e de mil outros assuntos terrestres. A senha será: Frivolidade, que, às vezes se confunde com Espírito, outras vezes (sem parecer) é mais grave que um tratado de Finanças. A seção será curta, como a vida, mas sem as complicações da vida, como o telefone não-automático, o calo pisado na rua, o amor pisado no coração, a falta de horário, os telegramas cifrados, a viagem do “Do-X” e o desmemoriado de Collegno. Sairá todo dia útil (domingo) e até mesmo nos dias inúteis (os outros dias): não se aceitam reclamações nem se devolvem bilhetes. Também não há programa. A preocupação única é: aborrecer pouco, aborrecer o menos possível.

O amor único

A condessa Mathieu de Noailles, que foi amada por Maurice Barrès e compõe os mais lindos versos de amor na mais pura língua francesa, escreve estas palavras tristes sobre um livro recente:

“É preciso não conhecer a loucura inspirada pelo amor – pelo amor que não é nem o deboche nem a libertinagem, mas a necessidade que um ser tem de um único ser – para ficar indiferente diante dessa história cruel. Problema para os espíritos curiosos e científicos, como para os espíritos religiosos: É sobre o amor exclusivo, sobre a virtude terrível e mortal do amor único, que se abate o raio dos deuses ciumentos”.

Uma xícara de chá

Domingo que vem, todas as pessoas elegantes de Belo Horizonte, menos os cronistas, que geralmente não o são, irão tomar chá no grupo escolar “Afonso Pena”. A tarde e a noite serão frias e meigas. O ambiente será aconchegado, mineiro e ao mesmo tempo rafiné. O chá será um pretexto. Há tantos pretextos neste mundo! Os que gostarem com pouco açúcar, poderão tomá-lo com mais flirt. Nota importantíssima: não será proibido dançar, como em certas festas que nós, ai de nós! conhecemos.

 

*Barba Azul é pseudônimo de Carlos Drummond de Andrade. Coluna originalmente publicada na década de 1930 no suplemento literário “Minas Gerais”, do qual o poeta itabirano foi redator. E foi republicada na coletânea Crônicas (1930-1934), editada pela Secretaria de Estado da Cultura, em 1987.

 

 

 

 

 

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