Haja Paciência na vila de distopia

Mauro Andrade Moura

Depois da chuva de pedra, ocorrida há uns dez anos, destruindo alguns telhados das moradias da Vila Paciência, passado todo esse tempo, a mineradora Vale resolve adquirir boa parte dos imóveis com vistas a aumentar a sua faixa de amortecimento para a atividade minerária que simplesmente invadiu a cidade.

Propriedades foram adquiridas pela Vale para implantar uma área de amortecimento: viraram lotes vagos (Fotos: Mauro Moura)

Se era para ser uma mera faixa de amortecimento, fica a dúvida: por que todas as edificações que foram demolidas deram espaço a meros gramados e com cercas simples de tela de arame? Cadê o amortecimento? Praticamente todo um bairro foi transformado em um espaço amorfo.

A dúvida maior permanece: serão esses lotes adquiridos pela mineradora destinados como área de amortecimento ou provisão de espaço ao alargamento da lavra minerária? Do “pitt” da mina como gostam de dizer?

Os poucos moradores que ficaram, alguns dizem não aceitar a “mixaria” que a empresa oferta por seus imóveis. E os que se foram, deixaram um bairro próximo ao centro da cidade e partiram para a periferia. Não sei se fizeram um bom negócio, a maioria, creio que não.

Fissura em talude na Serra do Esmeril

Preocupa também a questão da água nossa de cada dia que a Camarinha sempre proveu a cidade com suas nascentes. Nesses tempos bicudos, a população já sofre com a falta d´água premente e cada dia mais cara nos lares itabiranos.

Como a cava principal da mina da Camarinha, atualmente chamada de Mina do Meio, está bem profunda, observa-se o acúmulo de um líquido viscoso, de tom verde, que outrora fora aquela água que saia na torneira de nossas casas.

Água nas Minas do Meio está na cor esverdeada: ameaça de contaminação das Três Fontes?

E como esta cava está acima do poço das Três Fontes, esse líquido viscoso não estaria infiltrando-se na rocha e contaminando a água que é extraída daquele poço e é servida à população como água potável?

Infelizmente, depois de uma vida passada nesta terra, fica a amargura de sentir que para as pessoas nativas, a mineração de ferro mais tirou do que contribuiu… Triste cenário que, pelo visto, irá perdurar até a derrota incomparável.

 

 

 

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1 Comentário

  1. caro mauro o levantamento que você fez para o seu artigo é estarrecedor. pois é, foram vender a camarinha pra vale e ninguém se importa é o povo débil? como a classe dominante é escravocrata só poderão entender quando tudo estiver desmoronado. o frei leonardo boff diz que quem vai destruir o capitalismo será a Terra. E quando você vai publicar o mapa poético do nosso amigo Aníbel? beijoca mauro

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