Prefeitura de Itabira desobriga o uso de máscaras em locais fechados. Neurocientista critica a decisão em todo o país 

O prefeito Marco Antônio Lage (PSB), no cumprimento de suas atribuições legais e políticas, liberou os itabiranos e todos os que pelo município transitam do uso de máscaras, mesmo em recintos fechados.

A decisão foi tomada pela Secretaria Municipal de Saúde na sexta-feira (29), em consonância com a deliberação da Secretaria de Saúde de Minas Gerais em relação à pandemia de Covid-19. E teve como embasamento o cenário epidemiológico favorável no município.

Ressalta, entretanto, que em alguns locais o uso desse equipamento de proteção individual e coletiva, que salvou tantas vidas no auge da pandemia, continua sendo obrigatório.

São os casos dos ambientes hospitalares e das unidades de saúde de Itabira, sejam públicas ou particulares, válido também para locais de embarques de passageiros, o que pressupõe ser obrigatório também nos transportes coletivos.

Em outros locais, o uso desse meio de proteção passa a ser facultativo. Diz o decreto que o comércio e os estabelecimentos que exigirem o uso de máscara terão de fornecer o equipamento de proteção aos clientes. Ou seja, poucos irão exigir esse apetrecho de seus frequentadores.

Outra exceção fica para as escolas municipais, estaduais e particulares. É que crianças menores de 12 anos terão de continuar usando máscaras em salas de aulas, devido à baixa adesão à segunda dose da vacina – apenas 26,71% das crianças nessa faixa etária receberam a dose de reforço em Itabira

Para as demais idades, adolescentes e jovens já podem frequentar as salas de aula sem a obrigatoriedade do uso de máscara, o que é um contrassenso.

O que não se sabe é como será possível separar alunos com idade abaixo de 12 anos com a obrigação de usar máscara, enquanto os demais estarão liberados do uso desse equipamento de proteção. Deveria ter sido mantida a obrigação para todos os estudantes em salas de aulas.

Indicadores favoráveis

A justificativa para a liberação geral são os baixos níveis dos indicadores epidemiológicos, como a taxa de transmissão do novo coronavírus, além do avanço da cobertura vacinal no município.

De acordo com o painel Vacinômetro do estado de Minas Gerais, 79,94% dos moradores de Itabira já receberam a primeira dose da vacina, 69,02% a segunda dose e dose única, 61,33% o reforço (3° dose) e 1,77% o segundo reforço (4ª dose).

Isso enquanto a taxa de transmissão (RT) no município está abaixo de 1, o que é um bom indicador, mas que também confirma que a pandemia ainda não acabou, mesmo com Itabira não tendo pacientes internados em UTI ou em enfermaria, com a última morte por covid-19 tendo sido registrada no início de março.

Decreto com a atualização das regras de uso de máscara e a nota técnica da Secretaria de Saúde que orienta sobre os novos comportamentos está publicado no portal oficial da Prefeitura.

Acesse o decreto completo aqui:

E a nota técnica aqui:

Outras medidas protetivas

Mesmo ressaltando que a pandemia não acabou, o prefeito Marco Antônio Lage recomenda à população que continue adotando as demais medidas protetivas.

“A pandemia não acabou”, reconhece o primeiro mandatário de Itabira. ”É muito importante que a população continue adotando as medidas de prevenção, sendo necessária a higienização frequente das mãos, atenção aos sintomas respiratórios e, claro, completar o esquema vacinal o mais rápido possível”, recomenda o prefeito.

Neurocientista diz que medida é política e apressada, critica

Para o neurocientista Miguel Nicolelis, a liberação geral da obrigatoriedade do uso de máscara, como tem ocorrido em todo o Brasil é, no mínimo, uma temeridade. Segundo ele, a imprensa vendeu para a sociedade a ideia de que a variante ômicron, supostamente “mais leve”, representaria o fim da pandemia.

Mas não é verdade, é o que tem sustentado o neurocientista. De acordo com ele, a nova variante causou um “desastre” nos dois primeiros meses deste ano. É assim que ele aponta, com base nos dados do registro civil, que o Brasil teve mais mortes pela covid-19 em janeiro e fevereiro deste ano do que em igual período do ano passado.

“É muito difícil de calcular. Mas o excedente de mortalidade se aproxima de um milhão. Temos atualmente algo entre 800 mil e 1 milhão de mortes pela pandemia”, disse em recente entrevista ao programa Soberania em Debate, da TVT.

Ainda segundo ele, mortes por pneumonia terminal e septicemia, por exemplo, praticamente dobraram no início deste ano. A sua hipótese é que esses índices encobriram mortes que deveriam ser registradas como covid-19.

“Tivemos o janeiro mais letal dos últimos oito anos. Mas os números de mortes registradas por covid-19 não explicam essa explosão”, afirma.

O neurocientista destacou ainda que, em janeiro de 2021, as mortes por pneumonia somaram cerca de 13 mil no país. Nos anos anteriores à pandemia, essa média era um pouco mais baixa. “De repente, neste ano, estão lá as 26 mil mortes por pneumonia”.

Ainda segundo o neurocientista, também houve crescimento proporcional nos casos de septicemia. “A situação é ainda grave. Mas a realidade não é mais reportada, nem pela mídia, nem pelos gestores.”

É assim que, para ele, o fim da obrigação do uso de máscaras é apressado. “Me pergunto: por que a pressa? Qual é o drama de usar a máscara? Basicamente é uma estratégia semiótica. Se você remove a máscara, remove também o símbolo da pandemia. Ao ver todo mundo sem máscara, a pessoa acha que a vida voltou ao normal.”

O receio do pesquisador é que essa desobrigação do uso de máscaras em locais fechados possa resultar em mais mortes, lamenta. Segundo ele, a máscara é medida não farmacológica mais eficaz para se prevenir e controlar a circulação do coronavírus.

“Remoção da obrigatoriedade de máscaras em lugares fechados é apenas uma manobra política, uma tentativa de remover o símbolo mais visível da existência de uma pandemia e com isso tentar auferir dividendos políticos”, critica.

 

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