Muita pergunta para pouca resposta da “geringonça” portuguesa

Foto: Parlamento português/Divulgação

Veladimir Romano*

O que foi criativo e claramente positivo quando a “geringonça”, pela primeira vez em quase 50 anos de práticas políticas servindo à democracia nascida da Revolução dos Cravos de abril, o Partido Socialista (PS) acabou levando muito bem a economia de Portugal, com reformas sendo feitas, mas naturalmente na fiscalização dessa junta que foi dado o apelido “Geringonça”.

Para isso, não tendo uma maioria qualificada, nunca conseguiria esse feito caso não tivesse o apoio dos progressistas como o Partido Comunista, Bloco de Esquerda, Verdes e até o Partido dos Animais e da Natureza, assumindo essa responsabilidade de conduzir uma maioria virtual, mas correta.

Entretanto, não fica claro qual escuridão passou na cabeça do povo português suspirando inanimada dicotomia eleitoral, ao derrotar o governo anterior de Passos Coelho e Paulo Portas numa coligação PSD+CDS [“laranjinhas e bananinhas], totalmente para esquecer pelo pior que fizeram ao país.

Tão bom como médico, humanista e grande escritor da íngua portuguesa, Miguel Torga, transmontano de quatro costados, soube analisar ao longo do tempo a sociedade lusitana ao afirmar, certa vez, numa frase famosa: «… pois, nós, portugueses, somos socialmente uma coletividade pacífica de revoltados».

Dá assim uma profunda analítica pensadora para muitas questões, com muitas perguntas para poucas respostas. Isso porque políticos gostam de discursar com seus métodos convincentes, mas menos ainda de responder sobre questões, sempre que a boa habilidade possa. E assim escapam das respostas com técnicas da esperteza.

Portugueses votando, jamais uma parcela relevante se preocupa com o país transformando suas apatias em participação ativa, catalisadores acelerando, mas sem pensar muito numa possibilidade de mudança [a questão é a do salve-se quem puder.

É assim que, ao longo do tempo, foram esquecendo as lutas anteriores, conquistas desse combate pelo ganho dos seus direitos e sobre qualquer razão maior exigindo uma evolução acertada.

Foi isso que a tal “geringonça” produziu, bens ao país, melhorando a vida das cidadãs/os, eliminando com precisão dívidas do Estado, travando suspeitas externas, em particular dos responsáveis máximos da União Europeia e até recebendo, sim, elogios dos parlamentos de Estrasburgo e Bruxelas pela solução encontrada.

Foi nesse desenrolar de políticas afins que o secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol veio a Lisboa conhecer ao vivo o êxito que o PS e António Costa estavam levando e assim Pedro Sánchez, hoje premiê, governa com a sua “geringonça” em parceria com Podemos e a Esquerda Catalã, dirigindo o país de maneira equilibrada e sustentando desafios.

Nesta semana o salário mínimo da Espanha saltou de 800 para mil euros/mensais; uma vitória neste combate pela dignidade do trabalhador. Já na  Alemanha outra experimentação levou ao poder três partidos totalmente diferentes, mas olhando pelo país: Partido Social Democrata, Verdes e Liberais.

Portugal, no salário mais baixo, fica em pouco mais de 700 euros, mas com tudo aumentando de forma descontrolada, para nada servirá esse aumento. Enquanto na Espanha a energia elétrica teve uma descida de 7%, Portugal, aumenta a tarifa.

Como ficou bonito no discurso vitorioso da noite eleitoral de António Costa, falar que «vamos retirar Portugal da cauda da Europa». Quer dizer, com mais de 30 anos na União Europeia e depois de haver recebido mais de 300 bilhões de euros na sua maioria a fundo sem retorno nem juros, descobrem que andam na cauda da Europa.

O que pensará a maioria dos habitantes de Portugal? O rosto de enterro que boa parte do povo carrega durante esses dias não é boa nova, com poucos sabendo se é uma apreciada renovação, mudança, conjugada e tão desejada estabilidade pela qual tantos milhões votaram.

Pelas novas políticas econômicas, não será nem um pouco porquanto tendências conservadoras jamais no passado souberam criar oportunidades, antes uma verdadeira onda de oportunistas colocando-se na fila anunciando ondas de favorecimento e corrupção ativa.

Estrangulamento, empobrecimento e limitações, são também desafios trazidos pela pandemia e o desafio anda por aí marcando território e a ver quem consegue entender quais dinâmicas financeiras capazes de adiantar justiça ao invés da deturpação sempre achada nos momentos da incompetência e, sempre, sempre a maldita corrupção.

Roubar fica ainda mais fácil do que ficar queimando neurônios de como proteger seu povo, sua democracia, animando aspirações legítimas das pessoas ainda que não deduzindo dos seus atos eleitorais, como podem influenciar [comandantes da política e votantes] seriamente o futuro.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

 

 

 

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1 Comentário

  1. E eu que pensava que Portugal estava no miolo da Europa, agora tu diz que está na calda?… de todo modo, viva Portugal. Aqui no Rio temos uma pequena Lisboa, Morro da Conceição, bem no coração da cidade.

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