Marco Antônio negocia com a Vale a instalação de parques lineares no trecho ferroviário que será desativado para acabar com as passagens de nível

Carlos Cruz

Como parte das condicionantes incluídas na renovação antecipada da concessão da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) pelo governo federal, já aprovada pelo Ministério da Infraestrutura e referendada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a mineradora Vale terá que eliminar as passagens de nível na linha férrea em todas as cidades por onde passa a ferrovia, em Minas Gerais e no Espírito Santo.

Em Itabira, serão desativadas passagens de nível na Vila Paciência, nos bairros Nossa Senhora de Fátima (Vila Amélia) e Areão.

Para isso serão feitas mudanças no trecho ferroviário que sai da estação João Paulo, próximo do estádio do Valério, que trocará de lugar com a estrada Cento e Cinco.

E na altura da antiga Vila Cento e Cinco, os dois modais vão seguir em frente até encontrar o ramal ferroviário que vem do complexo Conceição, mudando o acesso da estrada municipal com a MG-129/434, que liga Itabira à BR-381/262.

Com a aleração, o atual acesso à estrada Cento e Cinco, no Areão, ficará exclusivo para os veículos que se dirigirem às instalações da Vale, nas Minas do Meio.

Com a mudança, o trecho ferroviário que passa pelo morro do Cruzeiro será desativado. Pela negociação da mineradora com a administração anterior, no local seria aberto mais uma avenida, “estreita, desnecessária e sem acostamento”, discordou o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) assim que tomou posse.

“Assim que eu assumi, a Vale me procurou para tratar dessas mudanças, pois ela tem até abril para fechar os projetos previstos na concessão antecipada e para isso é preciso ter a anuência da Prefeitura. Estava tudo certo com o governo passado, mas não concordamos.”

Destinação nobre

“Apresentamos a proposta de se instalar, ao longo do trecho ferroviário que será desativado, quatro parques lineares seguindo a linha do trem. Os bairros que foram separados pela ferrovia serão unidos novamente em praças de convivência, com centro de artesanato, praças de esportes, pista de caminhada, ciclovias e muito verde”, promete o prefeito, que disse já ter negociado essa substituição com a Vale.

Embora não esteja na proposta apresentada à Vale, os trilhos da linha férrea devem permanecer no trecho ferroviário desativado, fica como sugestão deste site. Isso até mesmo para no futuro se ter até algum veículo leve (ou até mesmo uma histórica Maria-Fumaça) circulando como atração turística até a estação da avenida Mauro Ribeiro, que será preservada, assim como a histórica estação na antiga pera ferroviária, atualmente ocupada por um condomínio.

Os parques lineares serão instalados na altura do Morro do Cruzeiro, outro na Vila Amélia, onde já existe uma quadra esportiva aberta como condicionante da licença ambiental da Vale, o terceiro no bairro Areão e o último na Vila São Joaquim.

Parques lineares são construídos em linha, como é o trecho ferroviário, com muita área verde, mas também com espaços para o lazer, convivência, contemplação. São tendências urbanísticas e ambientais observadas em cidades de todo o mundo.

No futuro, devem se somar a outros parques lineares que a mesma Vale deve instalar nas áreas mineradas exauridas, conforme consta de seu Plano de Fechamento de Mina (PFM), apresentado ao antigo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), revertendo o baixo índice de arborização urbana em Itabira, segundo o IBGE.

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Marco Antônio promete também formar hortos florestais em “áreas verdes” da cidade, naquelas que não foram vendidas em leilão pela administração passada.

Ainda como parte dessa proposta urbanística/turística, o prefeito avalia a instalação de um teleférico saindo do futuro parque linear do Morro do Cruzeiro até o Parque da Água Santa, que ele promete também revitalizar.

“Isso não é um sonho”, sustenta o prefeito, que espera transformar o que hoje ainda é uma ideia em realidade, para deixar de ser utopia.

Revitalização

Nesse projeto de revitalização urbanística, a rodoviária deve mudar para uma outra localidade, mas isso ainda depende da aprovação de um novo plano de mobilidade para a cidade.

Na atual rodoviária, segundo o prefeito, a proposta é instalar um centro turístico. “Estamos também negociando com o governo o antigo espaço do DER, que tem acesso pela avenida João Pinheiro e Água Santa.”

Para a área, o chefe do executivo itabirano propõe instalar um centro gastronômico, “com espaços para a venda de produtos da agroecologia, cerveja e cachaça artesanal que Itabira já produz”, vislumbra o prefeito, ainda utopicamente, mas com poder de decisão para transformar todo sonho em realidade.

De acordo com Marco Antônio, o centro histórico também deve passar por reformas, inclusive com a retirada dos postes, rede elétrica e penduricalhos, substituidos por cabos subterrâneos. Para o empreendimento, o prefeito espera contar com recursos da ordem de R$ 30 milhões do projeto Cidades Históricas, da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

A inclusão do município nesse projeto ocorreu por gestão do próprio Marco Antônio, quando ainda era diretor da estatal. “Itabira não estava incluída no projeto, mas fizemos gestões junto ao IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Arquitetônico) e conseguimos a sua inclusão”, contou o então diretor da Cemig, por ocasião do lançamento do Programa de Eficiência Energética, em 16 de dezembro de 2019, no Hospital Nossa Senhora das Dores.

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“Vamos reabilitar o centro histórico com a reocupação dos casarões com atrativos nas áreas de gastronomia, artesanato e cultura, revitalizando também o comércio de rua”, é outra aposta que faz o prefeito de Itabira para o desenvolvimento do turismo no município.

Saiba mais

Pela negociação entre a Vale e a administração passada em torno da mudança do trecho da ferrovia para eliminar as passagens de nível, seria eliminado o acesso à estrada de Cento e Cinco na altura da Funcesi, ficando o trecho exclusivo para acesso às instalações da Vale.

Para o acesso à estrada, o trânsito, inclusive de veículos pesados, seguiria pela rua Israel Pinheiro, no bairro Alto Pereira, até alcançar o antigo viaduto, que seria substituído por uma rotatória.

Os veículos seguiriam à esquerda, passando pela rua Tenente Antônio Camilo, por onde ainda existe uma passagem de nível, na Vila Amélia, para só então alcançar a estrada que seguiria, já tendo trocado de lugar com a ferrovia, até a estação João Paulo, no bairro Campestre.

O prefeito não concordou pelo transtorno que essa mudança causaria durante a execução das obras – e posteriormente com trânsito intenso de veículos pesados, acabando com a tranquilidade e ameaçando a segurança dos moradores. “Imagine a confusão que seria trazer todo esse trânsito para dentro da cidade”, reprovou o prefeito.