Série: um poeta &um teórico na caixa de fósforos
Foto: Emília Mendes
Capítulo 5: Safo continua na HAICAIXA
Ou o salto dialético de Safo sobre o livre céu da história
nà guerra
‘O futuro é um salto do tigre em direção ao passado”. Marcelo era leitor atento do Walter Benjamin e essa frase condensava para ele seu conceito de história. A história não como o tempo dos relógios e calendários, seguindo uniforme para a frente, mas o tempo marcado pelo que é comemorado, festejado, descoberto. Lembrado pelas epifanias, pelos deslumbramentos, pela intensidade do vivido.
Safo é um deslumbramento que atravessa mais de 2600 anos. Ela foi poeta reconhecida em sua época, seus versos imitados por poetas gregos e romanos. Foi celebrada por Platão como a décima musa, ao lado das tradicionais nove filhas da Memória. Subverteu a ordem patriarcal da sociedade grega, tornando-se modelo para poetas homens de toda a Grécia.
Safo é mais que moderna. Fundou uma escola para mulheres dentro de um mundo muito masculino, a Grécia Antiga, Além disso suas ideias sobre a sexualidade fluida têm muito em comum com a forma como algumas pessoas expressam sua orientação sexual atualmente.
É contemporânea de Simone de Beauvoir, da Pagu, de Judith Butler e até das minhas sobrinhas netas- adolescentes que apreciam o amor pansexual. Suas ideias saltam para tempos ainda mais à frente, atravessando preconceitos milenares com a força da sua arte.
Safo # 19
mimnermo tem inveja
quando vejo neste verso
a eterna beleza de nanno
*
Safo # 20
a minha deusa guerreira
é em seu velocino de ouro
do rubro a mais bela estrela
*
Safo # 24
o sol — primeiro —
some entre teus cabelos —
depois — vem a noite