Câmara de Itabira rediscute abertura do restaurante popular com indicação de Tãozinho Leite

Carlos Cruz

Uma antiga área pública não edificada há anos, no início da avenida das Rosas, que vivia sendo invadida, em 2016, enfim parecia que ia ter uma ocupação nobre.

No local a Prefeitura, em parceria com o governo federal, ainda na presidência de Dilma Rousseff (PT), começou a construir um prédio para nele instalar um restaurante popular, à semelhança do existente na capital mineira, guardadas as proporções.

Foi com esse objetivo que, em 26 de janeiro daquele ano, a Prefeitura de Itabira assinou contrato com a Construtora Nativa, no valor de R$ 1.569.515,45, já no final da administração de Damon Sena (2013/16).

Antes foi assinado convênio com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, inspirado no projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, do sociólogo Herbert de Souza (1935-97), o Betinho, para que Itabira também assistisse a quem tem fome com refeições subsidiadas.

De acordo com o projeto, inicialmente seriam oferecidas 1 mil refeições diárias, podendo a oferta ser ampliada para 2 mil refeições, incluindo café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. Era o que constava do convênio e projeto.

Causa nobre, portanto, mas tão rara nesses tempos negacionistas dos direitos humanos. Damon não concluiu a obra e o seu sucessor Ronaldo Magalhães (2017-20) simplesmente decidiu que o restaurante não era viável, “onde se viu gastar dinheiro público com alimentação barata para os pobres”.

Monocraticamente, sem sequer submeter a mudança à apreciação da Câmara Municipal, que antes havia aprovado por unanimidade o projeto do restaurante, decidiu que concluiria a obra, mas para nela abrigar o Banco de Alimentos e a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento.

Foi assim que Magalhães decidiu que devolveria os recursos repassados pelo governo federal, abandonando de vez “essa ideia esdrúxula de se ter em Itabira um restaurante popular”.

A devolução ocorreu em dezembro daquele ano, repassando à União uma quantia nada desprezível de R$ 2,9 milhões, incluindo juros e correção. Nada mal para uma Prefeitura que “estava quebrada”, como se apregoava.

“Obra eleitoreira”

A nova ocupação para o prédio ainda inacabado vinha sendo feita sem alarde pela administração de Ronaldo Magalhães. Isso até que na sessão da Câmara, no dia 15 de maio de 2019, o ex-vereador Reginaldo das Mercês Santos decide “botar a boca no trombone”.

Santos presidia o Conselho Municipal do Desenvolvimento Rural e integrava a minúscula bancada oposicionista, juntamente com o vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB), hoje presidente do legislativo itabirano.

O vereador Neidson Freitas (MDB), então líder do governo na Câmara, justificou a mudança pela necessidade de a Prefeitura reduzir custos. Alegou ainda que não haveria recurso municipal para arcar com a diferença de custo dos alimentos servidos a preço popular.

“É uma obra eleitoreira”, classificou. “Assim que Ronaldo tomou posse, ele viu que não tinha condição de manter o restaurante popular.”

Outro argumento que foi muito usado para justificar a não abertura do restaurante popular, servindo alimentação a preços subsidiados à população carente, foi que prejudicaria os empresários do ramo estabelecidos no centro da cidade.

Sem mais argumentos além da necessidade de matar a fome de quem tem fome a preço popular, Reginado Santos, resignou-se. “Discordo dessa tese, mas só o tempo dirá quem tem razão”, disse o ex-vereador.

Leia mais aqui Prefeitura “sepulta” Restaurante Popular ao decidir transferir Banco de Alimentos para prédio da avenida das Rosas, diz vereador

Indicação

Vereador Tãozinho Leite fez indicação para que se instale o restaurante popular na avenida das Rosas, onde está instalada a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (Foto: Divulgação e Carlos Cruz, no destaque)

Pois já que o tempo é mesmo “o senhor da história”, nessa terça-feira (19), o vereador Sebastião “Tãozinho” Ferreira Leite (PTB) apresentou indicação para que o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) revogue a decisão do prefeito anterior e instale o restaurante popular onde há muito já deveria estar instalado e funcionando.

Tãozinho Leite era quem presidia a Câmara quando, com Damon e o ex-vereador Alexandre “Banana” (PT) fizeram gestão aem Brasília para obter o convênio com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome – que nem existe mais, afinal “onde se viu gastar tempo e dinheiro com essas ideias comunistas de matar a fome de quem tem fome”.

A indicação do vereador para o retorno do projeto do restaurante popular foi aprovada por unanimidade, inclusive por Neidson Freitas, agora na oposição. “Foi uma covardia que fizeram com a população pobre de Itabira ao decidir pela não abertura do restaurante popular”, classifica o autor da indicação.

“Que a Prefeitura abra o restaurante no mesmo lugar onde o prédio foi construído para esse fim e está 80% pronto”, reivindica o vereador Tãozinho Leite, que pede a transferência da Secretaria da Agricultura para o prédio onde funcionava a delegacia de polícia, que necessita de ampla reforma, no bairro Campestre.

Apoios

Vetão lembrou que o restaurante popular pode servir não só a população carente de Itabira, mas também da região que vem à cidade em busca de assistência à saúde. “Se estamos projetando Itabira virar polo macrorregional, temos que pensar também na oferta desse tipo de serviço”, defende o presidente da Câmara.

“Visitei o restaurante popular de Belo Horizonte. É humanitário, não faz concorrência com os restaurantes da cidade”, disse ele.

Vetão adianta que pretende, inclusive, propor a formação de um consórcio com prefeituras de municípios vizinhos para que se instale em Itabira uma “casa de apoio”, a exemplo da que Itabira já teve em Belo Horizonte e que retornará em breve para receber pacientes em atendimento médico em Belo Horizonte.

Uma proposta muito diferente da “embaixada” que Itabira manteve na capital mineira, no governo de Li Guerra (1993-96), instalada para reunir a “elite itabirana ausente” e propor em meio a um sortido rega-bofe, com direito ao escocês uísque, projetos para diversificar a economia local, tarefa essa até hoje irrealizada.

A indicação do restaurante popular teve o pronto endosso do líder do governo na Câmara, vereador Júber Madeira (PSDB). “É uma indicação importante para atendimento à comunidade carente que não tem condições de pagar por um almoço nos restaurantes do centro.”

Por razões óbvias, o vereador Neidson Freitas boquifechou-se.

 

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1 Comentário

  1. O Reginaldo das Mercês Santos é aquele vereador que palmeou a bunda de uma servidora da Câmara Municipal e foi indiciado por crime de importunação sexual pela polícia?
    A defesa do Restaurante Popular de Itabira – 6º município colocado no ranking em arrecadação financeira entre os outros 853 que integram Minas Geais – não se enquadra no quadro de política de favor. Trata-se de justiça social, no mínimo, no contexto desse sistema excludente, tão visível, escancarado em Itabira.
    Peço passagem à Vila de Utopia para expor a crônica ALUCARD: RESTAURANTE POPULAR, JÁ1, que os leitores podem conferir clicando no link: https://ofolhademinas.com.br/materia/30803/coluna/alucard-restaurante-popular-ja.
    Saúde!

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