Caça aos comunistas: a história se repete como farsa
Para pensar
Fernando Horta
Em 1952, a histeria anticomunista tomou conta dos EUA. Era a segunda vez que isso acontecia. O alvo eram os professores. No final do seu mandato, Truman passou lei dizendo que comunistas não poderiam ser professores. Apenas o sindicato reagiu.
Mais de 1500 professores em todo o país foram demitidos. Na maioria dos lugares, bastava a palavra do diretor ou de alguém da comunidade para caracterizar o docente como comunista.
Em NY, o sindicato resolveu resistir e exigiu processos com direito de defesa. Dois casos impressionam. Uma professora, de origem judaica, acusada de comunismo, foi descrita por seu diretor como “tendo uma imensa capacidade de ensinar o marxismo-leninismo com bloquinhos de madeira com letras”. Ela era alfabetizadora.
E começou a receber cartas da comunidade com os dizeres “comunismo é judeu e judeus não são bons americanos” ou “hitler estava certo!”. Quando recebeu o veredicto, a professora se suicidou. O comitê investigativo usou o suicídio como prova da culpa e da competência das investigações.
Outro caso, outra professora, desta vez trabalhava no Harlem. A comunidade negra se mobilizou em sua defesa. Testemunhos diziam que nenhum professor tinha o cuidado e a paciência de Bella Dodd para ensinar as crianças negras. O comitê usou isso como prova de que ela era comunista.
Entre as “provas” tinha o depoimento de um carteiro informando que via seguidamente Bella nas áreas mais pobres do Harlem “perguntando por e ajudando crianças, inclusive doando roupas no inverno”. O carteiro completou dizendo que achava isso “bem comunista”.
Nos anos 50 a CIA, em memorandos internos, reclamava que o custo para infiltrar agentes no mundo soviético era muito alto e que todos eles eram descobertos e mortos. Entretanto, o comunismo exercia “uma papel mágico no encantamento dos americanos, sobretudo os mais bem formados”.
Segundo a CIA “todo professor é um espião soviético em potencial” e “quanto mais estudado mais vulnerável”. Professores com doutorado eram quase certamente espiões.
Não é a primeira vez que a burrice e a ignorância torcem os discursos para se fazerem superiores. Nos EUA, consciência social e trabalho pelos mais pobres era prova de “comunismo” e os mais bem formados inclinarem-se pelo comunismo não era prova da correção ou mesmo de viabilidade dessas ideias, mas a demonstração da “mágica” comunista e um argumento contra a ciência e os intelectuais.
Todo regime de ignorantes ataca essencialmente professores, universidades, as artes e a história. Atacam irracionalmente e usam a irracionalidade como argumento de defesa contra a ciência e a lógica. Estamos vendo tudo isso de novo.
Edit 1: Apenas algumas informações para quem duvidar do texto. Informações para pesquisa. A professora que cometeu suicídio era filha de Ruth Markowitz. O verdadeiro nome de Bella Dodd é Maria Asunta Isabella Visono. Imigrante italiana de segunda geração da cidade de Nova York que escreveu um livro chamado “School of Darkness”.
Outro nome interessante de se procurar e conhecer a História é Mildred Flacks e os “Suspended Eight” . Deixo o NYT de 5 de outubro de 1952 contando um pouquinho da história.
https://www.facebook.com/fernandohorta1317/posts/1569993643107874
À ideia de socialismo assusta e muito os capitalistas filhos da puta que construíram suas fortunas escravizando os negros e cometendo genocídio aos povos indígenas.
Que medo. O q acontece lá logo é copiado aqui.
E já começou!!