A luta entre eu e o bolo

Rafael Jasovich*

Ontem vivi uma experiência surreal! Quisera ser como amigas que fazem bolos maravilhosos sem quaisquer problemas.

Eu ando me achando na cozinha e resolvi fazer um bolo de chocolate para uma amiga, pois era seu aniversário e ela gosta desse tipo de doce.

Desde quarta-feira eu me preparei: pesquisas de receitas, compra dos ingredientes, e ontem mãos à obra.

Escolhi uma versão que mistura os ingredientes com as mãos lembrando que adoro me melecar, me lambuzar e fui curtindo cada ingrediente que se amalgamava a massa.

Das únicas lembranças que tinha de fazer bolos era peneirar os ingredientes secos e no final lamber a tigela. Minha mãe não compartilhava o processo comigo e lamber os restos no final era suficiente.

Na medida em que a massa ia tomando forma eu fui me sentindo um boleiro nato e me perguntando por que não fazia mais bolos.

Até minhas formas com furo estavam tão enfurnadas como se fossem tesouros. Demorei a achá-las no fundo de um caixa guardado na dispensa.

Mas voltando ao bolo, untei a forma perfeitamente e coloquei a massa que rendeu muito. Como eu faltei nessa aula de não colocar o bolo até a borda, pus o dito cujo no forno e pensei: agora vamos à calda e aos morangos, porque eu pretendia fazer algo muito especial e saboroso.

O forno estava na temperatura indicada, tudo nos conformes. E eu fazendo a calda comecei a sentir um pequeno cheiro de queimado. Fui olhar o bolo: transbordando.

Mas minha teimosia e persistência sempre vão aos pícaros quando me sinto desafiado, e nessa situação era caso de vida ou morte: o bolo tinha que sair e ficar bom.

Sem delongas, sem perhaps. A partir de então começamos uma luta: o bolo e eu. A massa transbordando e eu acreditando que isso ia acabar uma hora e tudo daria certo. Em vão!

A fumaça do forno tomou conta da cozinha fechada a sete chaves (essa lição eu também participei: enquanto se assa um bolo não pode haver correnteza de vento) e começou a se alastrar pela casa.

Que loucura é essa? Tudo era uma surpresa,

Vai estragar a massa. Um embate se deu e eu cedi: desliguei o forno e tirei o bolo. Haviam passado 45 minutos da peleja e eu resolvi dar a vitória ao bolo.

Pensei: mas os morangos com a calda podem quebrar o galho.

Fui analisar os restos mortais do bolo e veio a surpresa: parte dele havia assado. A luz no fundo do túnel apareceu tênue, e eu na minha persistência de leão, resolvi que o bolo seria desenformado.

Como isso só pode ser feito com a forma morna (a receita indicava a instrução) entre esse momento e o posterior foram longos minutos de limpeza. Desmonta aqui, lava ali, esfrega, tira o grosso, panos, esponja, sabão. O maior trampo.

Esse foi o presente que acabei dando minha amiga. Coitada!

Acabada essa epopéia, fui ao bolo. Já morto de cansaço (não sem razão) virei sobre o lindo prato. Estava são e salvo. Experimentei um pedacinho, super gostoso.

Retomei minhas forças e fui à calda e aos morangos. Eles me salvariam. E foi o que aconteceu. No final o bolo ficou bonito, deu para cantar os parabéns a você e eu parei de achar que bolo é lobo.

Até que foi mansa essa estória toda! Feliz aniversário! Feliz!

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado.

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