Itabira são muitas e tem vocação para agroecologia e agrofloresta com as suas múltiplas possibilidades
Por Valério Adélio*
“Ipoema e Carmo só dão despesas. São uns sacos sem fundo e não dão votos.”
Quando fui administrador de Ipoema ouvi de um secretário municipal que os distritos de Ipoema e Senhora do Carmo eram só despesas e que o melhor seria a emancipação, pois assim a cidade-sede, Itabira, poderia aplicar os recursos onde dava votos.
Naquele momento não pensei duas vezes de imediato e repreendi a fala do colega, cobrando mais respeito com os nossos distritos, que são as caixas d’água de Itabira, para início de conversa.
Preguei a necessidade de união e de se fazer os investimentos certos, com a atenção política que os distritos merecem, com a manutenção corriqueira de nossas estradas, saneamento básico e investimentos necessários.
Tudo isso sem contar que quando quem vive na cidade poluída e quer respirar ar puro é para os distritos que recorrem.
Essa conversa ocorreu há cerca de 15 anos, quando o tema da emancipação dos distritos estava na pauta das discussões mais apaixonadas, uns contra e outros tantos a favor.
Hoje fico imaginando se haveria facilidade para a cidade-sede, que precisa urgentemente buscar alternativas para captação de água, fazer a transposição do rio Tanque. Será que, emancipados, os distritos permitiriam a captação dessa água tão primordial para o desenvolvimento da cidade de Itabira?
Entendo que fazemos parte de um grande município e assim devemos ser tratados. Somos o lado bonito do município, com o verde exuberante, rio, córregos, cachoeiras – e com um potencial imenso ainda inexplorado não somente no segmento turístico, mas também na economia rural.
Posso assegurar, sem medo de errar: a nossa zona rural é show e tem potencial imenso. Chegou a hora de explorar esse potencial no sentido de promover o desenvolvimento sustentável em todos os segmentos, com o turismo já dando passos largos, mas também no potencial econômico que o nosso meio rural tem a oferecer.
Nesse aspecto, permita-me contar ao caro leitor da Vila de Utopia a minha experiência pessoal, que tem tudo a ver com o título desta matéria, com agroecologia e a agroflorestal, uma provocação atual e pertinente que este site nos tem suscitado em recorrentes reportagens.
O começo
Há 14 anos iniciamos um projeto de Agrofloresta, Permacultura e Fitocidas num Quilombo, em um dos três que restaram no município de Itabira, sendo que dois são reconhecidos oficialmente como comunidades quilombolas.
E é justamente no terceiro que temos a nossa pequena propriedade rural, no distrito de Senhora do Carmo, bem próximo do povoado da Serra dos Alves, hoje um dos lugares mais procurados para o ecoturismo no município.
Hoje no local já não há moradores remanescentes do quilombo. Migraram para a cidade em busca de novas oportunidades de vida. Mas restam as histórias e, claro, a exuberância da Natureza.
E mantemos esse desejo atávico e a jornada de nos aquilombar, mantendo tudo o que nesse lugar ainda se encontra preservado – e assim se manterá enquanto for nossa propriedade.
Agroflorestas
Primeiro produzimos em harmonia com a natureza do lado do jacaré (árvore), de um pé de manga que divide espaço com uma bananeira, com um cedro, uma mexeriqueira candongueira.
E que tem aos pés orquídeas rasteiras, urucum, vinhático pai de todos, folha cheirosa, dona maria do brejo, açafrão da terra, laranja limão e quaresmeira, que divide com a amesca a função de colorir e perfumar o riacho do Quilombo.
Abaixo das nascentes há um palco submerso pro lambari cachorro, cascudo, e pra pirapitinga.
Essa é a síntese de nossa AGROFLORESTA que tem ainda a pitanga a jabuticaba, as ervas medicinais, o alecrim o bambuzal, morango e amora do mato, a palmeira Jussara e um céu imenso azul e que à noite vira um grande chão de estrelas.
Permacultura
A nossa casa à beira-chão é de quatro águas. E claro, dispomos de fossas sépticas, que é para não poluir nossos cursos d’água, preservando as várias nascentes que brotam da terra.
O modelo construtivo conta com 70% com paredes pau a pique, sendo o restante erguido com bloco à vista. Já as cinco “suítes” dos cães são 100% pau a pique, compondo nossos exemplos de permacultura.
Fitocidas
Nossas caminhadas pelo quilombo é na verdade um passeio para manter a saúde, baseado no conceito japonês. Sim, o Japão é nossa inspiração por ser um dos países onde mais se estuda a relação entre saúde e natureza.
A universidade de Chiba, que fica perto de Tóquio, é o centro que mais estuda e faz essa investigação – a pesquisa dos chamados fitocidas – os aromas dos óleos essenciais das plantas e das árvores das florestas, no laboratório do professor Yoshifumi Miyazaki.
Os pesquisadores da universidade de Chiba já realizaram mais de 50 estudos sobre os fitocidas, envolvendo cerca de 600 voluntários. A resposta do organismo à terapia das florestas é surpreendente.
Conheça alguns números:
– Uma redução de 16% do hormônio do stress.
– De 2% na pressão arterial.
– De 4% na frequência cardíaca.
– E um aumento de mais de 100% das atividades do sistema nervoso parassimpático, que mede o nível de relaxamento
O professor Miyazaki diz que o efeito de um bom passeio na floresta ou na montanha sobre o sistema imunológico pode durar até um mês. Imagine o resultado se você o fizer com frequência!
Segundo os cientistas, o banho de floresta aumenta o número de células NK – as Naturais Killers. Como o nome em inglês já diz, são as células exterminadoras, que surgem na medula óssea e combatem infecções e tumores. E lá no Japão tem até certificação das áreas de Fitocidas
Sim, existe um selo de floresta certificada para tratamento.
A certificação de uma floresta como local de tratamento passa pela beleza do lugar, pelas árvores, mas também pela estrutura que oferece para receber bem os visitantes.
A ideia é usar a medicina preventiva para reduzir os gastos do sistema público de saúde. E nós copiamos esse conceito com as nossas FITOCIDAS.
Tudo isso temos em nosso quilombo, um pedaço de terra que compõe o nosso paraíso.
Imagine o que não se tem à disposição do turistas os distritos de Senhora do Carmo e Ipoema com os seus imensos – e em boa parte preservados territórios.
Agroecologia
Aqui em nossa região temos tudo com fartura: amendoim, milho e arroz do Só Geraldo Lilino. A cachaça você pode escolher. Entre as mais famosas estão a Mineiriana da Ana, a do Morro Redondo, do Luiz Alvim e de Sebastião Euzébio.
O café é o Moá Ipoema do Moarci. Para os doces e o queijo também existem opções de escolha. Os mais famosos são justamente da Fazenda Fama. Ohhhh trem danado de bão.
Artesanatos são os chicotes ou as candeias de seu Maurilio Ferreira. Polvilho é de dona Nadir, faz farinha também.
Rapadura é a de Odila e de sua Irmã. Dona Edwiges também faz uma rapadura maravilhosa, mais não sei se ela está moendo cana mais.
Cerveja artesanal tem a do Velho Oeste, mas a mais famosa é a da BUTICA, que além da água, tem também história.
Quanto aos passeios pelos canyons e cachoeiras recomendo os guias Alex Soares, Roneijober Andrade e Geraldo de Raul.
Ahhh, tudo isso sem se esquecer das hospedagens e restaurantes. São tantas opções: Cantinho da Serra, Fazendinha, Patrocínio Amaro, Pedra Que Brilha, Pesque-Pague do Bigode, restaurante do Paulinho, da Efigeninha.
Tudo isso sem falar na exuberância da Serra dos Alves com as suas inúmeras opções de hospedagem, onde tem até um hostel muito cabeça.
Tem tudo isso e muito mais que o visitante atento logo irá observar. É assim que já somos, pela própria natureza, imbatíveis na agroecologia e na agrofloresta.
Descobri aqui na Vila de Utopia que devemos abandonar essa conversa de agronegócio, que carrega toda a carga negativa dos que só visam o lucro com produtos tóxicos, com graves malefícios para a saúde humana.
E que a nossa vocação é mesmo para a agroecologia e a agroflorestal, acrescentamos. Se já é uma vocação natural, imagine se for incentivada, como vem dizendo o prefeito que é essa a sua intenção.
Marco Antônio Lage é ipoemense e conhece como poucos a nossa região e as suas potencialidades. Ao lado de sua esposa, Raquell Guimarães, sensível e atenta observadora que é, certamente terão boas ideias para ajudar no desenvolvimento de nossas potencialidades, inclusive no artesanato, que pode ser objeto de uma pauta futura.
Que façamos juntos com o povo bom e trabalhador desse lugar o que precisa ser feito, provando mais uma vez que nossos distritos não são sacos sem fundo a gastar o que a cidade de Itabira arrecada.
Somos um só município e nossas potencialidades são imensas, a ponto de em pouco tempo não sentirmos falta do minério quando acabar. Porque Itabira são muitas, assim como Minas Gerais e os nossos distritos também.
*Valério Adélio R. dos Santos é sitiante agroflorestal, com grande vocação para a agroecologia, e jornalista (MT: 18115/MG)
Dizer que investe e não tem retorno de voto deveria ser crime, pois o sentido de investimento não deve passar por este viés.
Tenho pela certeza que como temos uma imensa zona rural o investimento deve ser a agrofloresta, não precisamos ir ao ceasa buscar alimento e sim no quintal de casa.
Muito bem posto, Adélio Valério.
Itabira não é só minério de ferro, além das montanhas e serras, temos os riachos e córregos, bem como toda a potencialidade de produção de frutas e legumes bem perto da cidade.
Muito boa sua fala, fiquei até emocionada!!!!!
Devemos sim, defender nossa terra !!!!!
Uma terra querida cheia de riquezas naturais e bondade.
Juntos devem trabalhar por este distrito amado!!!!
Só lamento a separação das pessoas qdo muda o partido político!!!!
Devemos lutar pelo distrito sem fazer separação!!!!
Lado esquerdo ou outro lado!!!!
Juntos é saber unir forças!!!!
Muito bom Valério! Pena que esses vereadores Neidson, Rose Félix, Reinado Lacerda, Robertinho, Heraldo, Tãozinho Leite, Rodrigo Diguere, Sidney do Salão, Luciano Sobrinho e o Júlio Contador, votaram contra o progresso que tanto queremos. Espero que os itabiranos no futuro, se lembrem eles estão pensando na próxima eleição, quando deveria estar pensado na próxima geração.