Cauê
Siva Monteiro de Castro
Eu andei por Itabira
às três da madrugada.
Vaguei no sobe e desce
De suas ladeiras e ruas estreitas.
Uma força
e uma ternura me seguiam:
– a força de seu passado
e a ternura de seus sonhos.
Havia uma luz na igreja
e um silêncio triste dentro da noite.
Era o silêncio da pedra,
pedra de ferro, pedra materna,
sumindo na paisagem,
baixando,
morrendo,
– Cauê estilhaçado,
britado,
dentro dos vagonetes
para a viagem de além-mar…
Era a pedra na sua dor,
deixando o “meio do caminho”
– caminho das manhas do poeta
Carlos Drummond de Andrade.
Era o lendário Cauê
morrendo como os heróis
dando à cidade
e a sua gente
um olhar de nunca mais…
Saindo da geografia
Para virar saudade,
– saudade eterna
no coração do povo.
(Siva Monteiro de Castro. Diário do Rio Doce, G. Valadares, MG. In: , “Uma pedra no meio do caminho – Biografia de um poema, edição ampliada de Eucanaã Ferraz, IMS, 2010)