Cauê

Siva Monteiro de Castro

Eu andei por Itabira

às três da madrugada.

Vaguei no sobe e desce

De suas ladeiras e ruas estreitas.

Uma força

e uma ternura me seguiam:

– a força de seu passado

e a ternura de seus sonhos.

Havia uma luz na igreja

e um silêncio triste dentro da noite.

Era o silêncio da pedra,

pedra de ferro, pedra materna,

sumindo na paisagem,

baixando,

morrendo,

– Cauê estilhaçado,

britado,

dentro dos vagonetes

para a viagem de além-mar…

Era a pedra na sua dor,

deixando o “meio do caminho”

 – caminho das manhas do poeta

Carlos Drummond de Andrade.

Era o lendário Cauê

morrendo como os heróis

dando à cidade

e a sua gente

um olhar de nunca mais…

Saindo da geografia

Para virar saudade,

– saudade eterna

no coração do povo.

(Siva Monteiro de Castro. Diário do Rio Doce, G. Valadares, MG. In: , “Uma pedra no meio do caminho – Biografia de um poema, edição ampliada de Eucanaã Ferraz, IMS, 2010)

Cauê em 1952 e no destaque em 1945 (Acervo: IBGE)

 

 

 

 

 

 

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