Rebaixamento do lençol freático: uma gravíssima realidade a ser definitivamente enfrentada
Por Álvaro Rodrigues dos Santos*
Todos os indicadores apontam para a urgente necessidade de adoção rígida de planos de gestão para a abertura e para a exploração de poços profundos em todo o território nacional
[EcoDebate] Não é de hoje que o fenômeno é conhecido e suas graves consequências são medidas e aquilatadas em suas variáveis econômica, social e geológica.
Nas áreas rurais o principal fator de rebaixamento do lençol está na total falta de controle da exploração de poços profundos para a irrigação de lavouras. Como exemplo, o sertão baiano da região de Irecê, tradicional produtora de feijão e cebola enfrenta crises agrícolas com o severo rebaixamento de seus níveis freáticos.
Esse rebaixamento é decorrente da generalizada sobre-exploração de seu aquífero cárstico. Mas Irecê é apenas um exemplo didático de um fenômeno hoje generalizado nas regiões agrícolas que se utilizam da água subterrânea. O motivo é sobejamente conhecido: total descontrole dos regimes de exploração dos aquíferos subterrâneos.
Nas áreas urbanas, seja pelo aumento do escoamento superficial promovido pela impermeabilização das áreas de recarga, seja também pela sobre-exploração de poços profundos, expediente hoje largamente utilizado por vários empreendimentos como, indústrias, galpões logísticos, hotéis, motéis, médios e grandes edifícios, hospitais, condomínios, shoppings, etc., observa-se a mesma tendência de rebaixamento do lençol freático.
Especialmente nas áreas urbanas agrega-se ao problema geral de perda de reservas hídricas a potencialização de graves fenômenos de ordem geológico-geotécnica advindos da alteração do comportamento geotécnico de solos e de abatimentos de terrenos promovidos por desequilíbrios hidráulicos em regiões cársticas, como é o caso dos municípios de Cajamar – SP, Sete Lagoas – MG, Almirante Tamandaré PR, Bocaiúva do Sul – PR, Colombo – PR, Vazante – MG, Teresina – PI, Lapão – BA, e várias outras localidades.
O diagnóstico é sempre o mesmo: ausência de planos e regras de gestão e monitoramento da exploração dos poços profundos executados. Na cidade de São Paulo há regiões em que o lençol freático já observa rebaixamentos de cerca de 4 metros, o que em termos de perda de reservas hídricas implica em graves consequências,
Isso, especialmente tendo em conta que a fonte subterrânea já compõe cerca de 10% do total do abastecimento hídrico da metrópole paulista. Mais grave se torna o fenômeno em municípios que tem na água subterrânea sua principal fonte de recursos hídricos para o abastecimento da população.
Enfim, todos os indicadores apontam para a urgente necessidade de adoção rígida de planos de gestão para a abertura e para a exploração de poços profundos em todo o território nacional.
Esse já antigo alerta técnico deve finalmente sair de nossos limitados textos congressuais e acadêmicos para se tornar uma exigência política a ser colocada às autoridades competentes.
*Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT e ex-diretor da Divisão de Geologia. Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”. Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente. Colaborador e Articulista do EcoDebate
No destaque a cidade de Itabira (MG), que desde a década de 1980 sofre com as consequências do rebaixamento de aquíferos para a exploração de minério de ferro (Foto: Carlos Cruz)
in EcoDebate,
Quem pode defender Itabira, de corpo presente, cara-a-cara com a Companhia?
O prefeito é o único itabirano “international de Bruxelas” (uma gíria dos homens de ferro), mas não basta… é preciso um requisito especial de língua e corpo pra tratar com a canalhada internacional… e só há um nome no Brasil, indiretamente ligado a Itabira, que pode fazer alguma coisa a favor da velha Prostituta do Capitalismos Selvagem (Nandin Gonçalves).
E como dói……..