PT quer ampliar alianças e conquistar o empresariado para fortalecer Lula em 2022

Rafael Jasovich*

Antes isolado para as eleições presidenciais de 2022, o PT vê agora uma nova chance de reaglutinar forças políticas para fortalecer seu projeto eleitoral. E tudo por causa da possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer à Presidência.

Após recuperar os direitos políticos por decisão do STF, o petista tenta se firmar como antagonista do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). E tem prometido adotar um tom de pacificação com outros segmentos. Está, inclusive, fazendo acenos a partidos de fora da esquerda, ao setor empresarial e também aos militares.

Apesar do otimismo com a volta de Lula ao jogo político, integrantes do partido do ex-presidente admitem que o antipetismo na sociedade ainda é forte.

Por isso, a estratégia de agregar forças para romper resistências vem sendo articulada nos bastidores para o PT conquistar aliados de outras frentes políticas e sociais.

Lula vai estender a mão aos governadores, criticados por Bolsonaro

Já vacinado com a segunda dose da vacina contra a Covid-19, Lula vai aguardar o arrefecimento da pandemia para começar a rodar o país e promover encontros com lideranças regionais.

Mesmo assim, a crise sanitária tem sido usada pelo ex-presidente para se aproximar dos governadores, principalmente os do Nordeste. A região é o principal reduto eleitoral petista e é onde o presidente Bolsonaro tem os menores índices de intenção de votos, segundo as pesquisas.

“Antes de falar de 2022, estamos falando dos problemas reais que o Brasil enfrenta agora em 2021. Esses problemas passam pela perda de renda, falta de oxigênio e a falta de vacina. Lula vai dialogar com todos e já começou a fazer isso com os governadores do Nordeste, colocando eles em contato com lideranças internacionais e embaixadores para que esses estados consigam comprar vacinas para imunizar a população, por exemplo”, afirma o líder do partido na Câmara, deputado Bohn Gass (PT-RS).

Recentemente, o presidente do Consórcio de Governadores do Nordeste, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), afirmou que o grupo teria fechado um acordo de compra de 37 milhões de doses da vacina russa Sputink V. O imunizante está com o pedido de autorização parado na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) por falta de entregas de documentação dos estudos de eficácia.

Segundo interlocutores do PT, o encontro entre o governador do Piauí com representantes do Fundo Soberano Russo foi capitaneado por Lula. No entanto, mesmo a compra tendo sido realizada pelos estados do Nordeste, Wellington Dias afirmou que as doses serão entregues para o Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde.

A estratégia adotada com os governantes do Nordeste também será repetida com os demais governadores estaduais no intuito de aproximar o partido de outras lideranças partidárias – inclusive de legendas que hoje fazem parte da base de Bolsonaro no Congresso.

“O Lula vai ocupar um lugar que o Bolsonaro não quis durante toda a pandemia, que é o de se aproximar dos governadores. Eles estão sozinhos nessa luta contra o vírus. Lula vai usar sua influência e seu poder de organização para trazer soluções para o problema atual desses governantes”, admite um integrante do PT.

Nos próximos meses o PT irá criar um grupo de trabalho para fazer um levantamento dos palanques da legenda nos estados, ou seja, quem são os nomes da agremiação para os governos estaduais e para o Senado. Depois disso, a orientação é seguir rodando o país para compor alianças.

Um dos estados onde a estratégia seria aplicada é justamente Pernambuco. PT e PSB parecem estar se reaproximando desde que o ex-presidente voltou a ficar elegível politicamente e políticos de ambas as legendas já não descartam reatar os laços. As siglas romperam na eleição para prefeito do Recife, o que culminou no desembarque dos petistas do governo estadual.

“Eu acredito que o PT não teria dificuldade de voltar para Frente Popular. Quando a gente está na política, temos que pesar em cada momento, o que é mais importante”, afirmou o senador Humberto Costa (PT), em entrevista à Rádio Clube.

“Nesse momento temos que ter um candidato a presidente da República com outra postura e se isto envolver o debate aqui em Pernambuco com o PSB, eu tenho certeza que o PT estadual não vai se negar a este debate” completou o político.

A postura do PT seria buscar mais candidaturas a deputado federal, para garantir recursos para as campanhas e tempo de TV. Ao mesmo tempo, o partido acredita que teria mais facilidade em construir alianças para o projeto encabeçado por Lula.

Atraindo partidos de esquerda e centro, o PT tentaria construir algo próximo de uma frente ampla para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro, que continua sem partido, por decisão própria, mas que vem perdendo bases de apoio.

A estratégia não é novidade para o Partido dos Trabalhadores. Em 2018, o PT negociou com o mesmo PSB apoio nos estados de Amazonas, Amapá, Paraíba e Pernambuco, em troca do fim da aliança dos socialistas com o PDT. Com o acordo, a pré-candidatura da deputada federal Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco acabou sendo rifada.

Nesta semana, Lula e Paulo Câmara participaram de reunião virtual com a presença de líderes das duas legendas. Estavam presentes figuras como Gleisi Hoffmann (PT-PR), José Guimarães (PT-CE), Paulo Teixeira (PT-SP) e Luiz Dulci (PT-MG); o presidente do PSB, Carlos Siqueira, o ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB-SP) e Renato Casagrande (PSB-ES).

Os partidos de esquerda já sinalizaram sua disposição de compor com o PT.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

Foto: Fabrice Coffrini/AFP

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